
Os ecossistemas de água doce são cada vez mais ameaçados pelas mudanças climáticas e pela expansão das populações humanas. As mudanças climáticas têm provocado níveis mais baixos de precipitações em muitas partes do mundo, a redução dos caudais de água doce, ao mesmo tempo em que a população em crescimento consumirá cada vez mais água doce e produzirá maior caudal de águas residuais contaminadas. Isto faz com que muitos rios e arroios se convertam em desaguadouro de efluentes de águas residuais.
A exposição a resíduos de hormônios altera a dinâmica da população de peixes ao afetar a reprodução através de múltiplas gerações.
Os efluentes de águas residuais contêm uma mescla complexa de produtos químicos, incluindo produtos farmacêuticos, que não são eliminados completamente durante o tratamento. Entre eles se encontram os estrógenos esteroides, tais como 17α-etinilestradiol (EE2), que fazem parte das pílulas anticoncepcionais, y que segundo ficou demonstrado afetam negativamente a reprodução de peixes. Ao mesmo tempo, os estrógenos também podem influir nas populações de peixes em diferentes mecanismos de reprodução, como a redução de sobrevivência, e têm efeitos acumulativos que somente são comprovados através de gerações sucessivas.
Os pesquisadores examinaram os efeitos da exposição ao EE2 nas populações de Pimephales promelas através de múltiplas gerações. Foram usadas concentrações de EE2 na proporção que se encontra comumente no entorno como resultado dos efluentes de águas residuais, de aproximadamente 3 a 11 nano gramas por litro. Também incluíam tratamentos de controle, ou seja, simulações em tanques de água ao ar livre cujas condições são quase naturais, complementadas com experiências em aquários de laboratório.
Nas exposições em peixes machos, o EE2 foi encontrado em um fator de 1,7 para cada 1 nano grama de L-1 de EE2. Nenhum macho sobreviveu mais de 126 dias quando foi exposto a 11 ng L-1.
As fêmeas foram menos afetadas, sobrevivem em torno de 50% mais na mesma escala de tempo. Na natureza, as Pimephales promelas têm uma vida útil entre um e três anos. Além disso, a exposição da primeira geração durante sua temporada reprodutiva reduz o número de ovos, embriões e alevinos produzidos em todas as concentrações de EE2 experimentadas.
Adicionalmente, a exposição da primeira geração durante sua temporada de reprodução reduziu o número de ovos, embriões e larvas produzidas em concentrações testadas. Na exposição da segunda geração ao EE2 a redução foi considerável. A sobrevivência da terceira geração também foi reduzida mesmo quando os pais foram transferidos para água não contaminada durante cinco meses antes da reprodução.
Estes resultados mostram que a exposição ao EE2 na natureza pode alterar a dinâmica da população ao afetar a reprodução através de múltiplas gerações, o que sugere que as populações de peixes podem não ser capazes de se recuperar depois da exposição aos estrógenos.
Ainda que esta pesquisa se baseie nos dados e as espécies da América do Norte, os efeitos são relevantes para todos os peixes com altos índices de reprodução e vida útil relativamente de curta duração em ambientes contaminados com níveis de estrógeno, afirmam os pesquisadores.
Fonte: Comissão Europeia.
Como atenuar as consequências
Os autores do estudo – Schwindt, A. R., Winkelman, D. L., Keteles, K. et al. (2014): “An environmental oestrogen disrupts fish population dynamics through direct and transgenerational effects on survival and fecundity” – concluem que pode haver um benefício ecológico no caso de melhoria das estações de tratamento de águas residuais para a eliminação dos contaminantes similares ao estrógeno.
Também sugerem uma série de medidas para reduzir o dano dos estrógenos nos ecossistemas de água doce.
Entre estas estão:
# a conservação dos habitats de reprodução e criadouros em zonas não contaminadas e
# manter a conectividade entre rios e arroios.
Experiências no Brasil
Esta mesma espécie foi utilizada em experiência apresentada no Salão de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2009, com o título: Variação da sensibilidade de Pimephales promelas para quatro substâncias de referência (cloreto de sódio, sulfato de cobre, sulfato de zinco e dodecil sulfato de sódio) em testes de toxicidade crônica.
O estudo foi feito por Bruna Arbo Meneses.

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