Maria Conceição Monteiro Silva (1)
Roosevelt S. Fernandes (2)
O uso da Percepção Ambiental como instrumento de gestão vem sendo, desde 2003, o foco principal de atuação do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA, Faculdade Brasileira / UNIVIX, Vitória/ES.
Uma pesquisa realizada pelo NEPA na Região Metropolitana de Vitória, voltada à análise da percepção ambiental de diferentes segmentos sócio-econômicos da sociedade frente à problemática do uso racional da água, com o apoio da rede “Working Together”, através da professora. Maria Conceição Monteiro Silva (Cacia – Aveiro / Portugal) e do professor Otto Meille (Araguaia, Marechal Floriano, ES, Brasil), foi a base para a estruturação de uma nova pesquisa, esta de avaliação comparativa da percepção de professores das escolas Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Victor Bravin” Araguaia – Marechal Floriano – ES – Brasil e a Escola de Segundo e Terceiro Ciclos de Cacia – Aveiro – Portugal, frente à mesma temática.
O objetivo da pesquisa foi comparar o comportamento de professores das duas escolas escolhidas em termos de suas percepções ambientais individuais em relação ao uso racional da água, definindo, a partir dos resultados da pesquisa, ações que tais professores deveriam adotar com seus alunos e, em estágio complementar, com as comunidades do entorno das escolas.
A pesquisa foi baseada na aplicação de um questionário, desenvolvido pelo NEPA, com 25 questões sobre diferentes aspectos da problemática do uso racional da água, procurando cobrir alguns aspectos importantes do conhecimento essencial ao trato da referida temática, envolvendo 24 professores, sendo 12 em Marechal Floriano, ES, Brasil (três homens e nove mulheres) e 12 em Cacia, Aveiro, Portugal (quatro homens e oito mulheres).
Os brasileiros tinham idade entre 28 e 35 anos, 66% casados, todos de nível superior, Os portugueses, entre 24 e 48 anos, 75% casados, três com formação de nível superior e um de nível médio. As brasileiras com idade entre 24 e 38 anos, 55% casadas, 7 de nível superior e 3 de nível médio. As portuguesas, 40 a 53 anos, 87% casadas, seis com nível superior, uma pós-graduada e uma de nível médio.
Questionamento 1 – Segmentos econômicos que mais consomem água
As duas amostras (Brasil e Portugal) evidenciam um desconhecimento, da maioria dos entrevistados, em relação à realidade do consumo de água, no mundo, pelos diferentes segmentos econômicos. O desconhecimento da amostra dos homens no Brasil foi altamente significativo, enquanto na amostra de homens em Portugal este desvio foi observado em apenas metade do grupo entrevistado. Para as mulheres, tanto na amostra no Brasil quanto em Portugal, observou-se que cerca de 40% nos dois grupos optaram pela resposta correta (agricultura), apesar do elevado índice de opção por “abastecimento público” observado na amostra de mulheres portuguesas.
Como as amostras, quer no Brasil como em Portugal, foram compostas de professores, o fato evidenciado pela pesquisa é preocupante, pois a maioria não tendo uma visão correta do segmento econômico que mais consome água, os mesmos podem não direcionar corretamente a atenção de seus alunos para a importância da análise do uso racional da água na agricultura..
Questionamento 2 – Países que mais detém recursos hídricos no planeta
Observa-se das amostras brasileira, homens (66,6%) e mulheres (77,7%), a maior incidência da indicação da resposta correta (Brasil).
Em Portugal a amostra de homens evidenciou um desconhecimento pela realidade brasileira em termos de seu potencial de recursos hídricos (0%), enquanto que na amostra das mulheres observa-se um equilíbrio para as opções “Brasil” e “Canadá”.(37,5% cada).
Questionamento 3 – Percentagem de água potável disponível para o uso humano
A amostra de professores (homens e mulheres) no Brasil explicitou uma total aderência com a realidade mundial (menos de 5%). Para a amostra em Portugal, cerca de 25% (tanto para homens como para mulheres) optaram por valores acima da realidade mundial. O conhecimento deste fato é muito importante, pois os professores devem evitar que os alunos tenham falsa informação da abundancia de água no planeta, fato essencial à conscientização dos mesmos quanto às necessidades de conservação e preservação deste recurso limitado (água potável).
Questionamento 4 – Origem da água que abastece a comunidade
Os dois grupos, independentemente do gênero, demonstraram conhecer as fontes de abastecimento de água de suas comunidades.
Questionamento 5 – Tempo pelo qual a(s) atual(ais) fonte(s) de abastecimento de água a comunidade ainda terá(ão) condição(ões) de atender(em) as necessidades da região.
No Brasil as amostras, tanto a masculina como a feminina, apresentaram idêntica posição, com 66,6% (homens) e 88,8% (mulheres) para a opção “10 anos” enquanto 33,3% (homens) e 11,1% (mulheres) para “20 anos”. Em Portugal o grupo masculino definiu uma maior predominância (66,6%) para “10 anos”, enquanto os restantes (33,3%) optaram por “mais de 30 anos”. A amostra feminina evidenciou a opção “mais de 30 anos” (75,5%), havendo um empate (12,5% cada) nas opções de “10 anos” e “20 anos”.
A análise completa dos dados, em andamento, deverá ser feita à luz da realidade das fontes hídricas de abastecimento das duas comunidades.
Questionamento 6 – Alternativas futuras de abastecimento de água para a comunidade frente às atuais
No Brasil (comunidade do interior) o grupo masculino se dividiu (33,3% cada) entre as opções “poço”, “rios” e eventuais “folgas de abastecimento nas comunidades próximas”. Já o grupo feminino indicou “poço” (40%) “poço” (40%), “ ampliação da estação de tratamento” (opção citada certamente por aqueles que se utilizam unicamente de água de poço e que imaginam que há folga na oferta de água da atual estação de tratamento), sendo citada a opção “água de chuva”(20%), bem como 10% cada para as opções “reservatórios” e “canalização de água de outras regiões”.
Em Portugal (comunidade do litoral) o grupo dos professores se concentrou em “rios” (66,6%), enquanto a parcela restante indicou (33,3%) “água do mar (dessalinização)”. O segmento das professoras indicou 40% pela opção “água do mar”, “rios” (28,6%), seguido de “água de chuva” e “poços profundos (artesianos), com 14,3% para cada opção. Como destaque particular, observado nos grupos feminino de Brasil e Portugal, mas não nos grupos masculino dos dois países, a explicitação da opção “água de chuva”.
Questionamento 7 – Qualidade da água tratada
No Brasil a amostra masculina evidenciou um equilíbrio entre as opções “boa qualidade” e “não boa qualidade” e “às vezes tenho dúvidas a respeito” (33,3%). Para o segmento feminino tem-se 55,5% para a opção “às vezes tenho dúvidas”, enquanto 33,3% acreditam na “boa qualidade da água que recebem” em casa e 11,1% “não acreditam”
Em Portugal os professores definiram 66% para “às vezes tenho dúvidas” e 33,3% como “boa qualidade”. O segmento das professoras explicitou desconfiança com a qualidade da água para 75% do grupo, seguido de 25% que acredita na qualidade da água.
Tanto para brasileiros como portugueses, independentemente do gênero, a avaliação da qualidade da água recebida nas residências foi preferencialmente considerada como de qualidade questionável.
Questionamento 8 – Qualidade da água consumida a partir de poços
No Brasil, da amostra masculina 66,6% não confiam na qualidade da água de poço, enquanto os 33,3% restante às vezes tem dúvidas. O segmento amostrado feminino optou por 55,5% evidenciando dúvidas em alguns momentos, 33,3% acreditam na má qualidade da água e apenas 11,1% acreditam na boa qualidade da água captada dos poços. Em Portugal os professores dividiram-se em 50% que mostram dúvidas, enquanto 50% acreditam que a água é de boa qualidade. O segmento das professoras evidenciou com 75% que não acredita na qualidade da água de poço, sendo que os restantes 25% têm dúvidas. Da mesma forma que com a água vinda da estação de tratamento, com maior razão, a avaliação foi desfavorável para a água de poço.
Questionamento 9 – Água consumida na produção de um litro de leite apenas na operação entre a chegada do leite na usina de processamento, até sua embalagem para distribuição ao mercado
Apesar das duas comunidades – no Brasil e Portugal – não serem essencialmente urbanas, daí ter se utilizado o questionamento relacionado com a produção de um litro de leite, observou-se que entre os homens (brasileiros e portugueses), em relação à resposta correta (5 litros), houve um total desvio para valores maiores (66%), enquanto as professoras brasileiras (33,3%) e as portuguesas (37,5%) estiveram mais próximas da estimativa correta .
Questionamento 10 – Água utilizada na atividade de escovar os dentes com a torneira aberta ao longo de todo o processo.
No Brasil predominou, para os homens, 40 litros (66,6%), e para as mulheres a opção menos de 20 litros (55,5%). Em Portugal, para os homens, uma divisão entre as opções menos de 20 litros e 40 litros, enquanto para as mulheres predominou menos de 20 litros (87,5%).
Nenhum dos grupos – brasileiro e português, para ambos os gêneros – se aproximou da estimativa correta (80 litros), evidenciando uma tendência de valores de consumo inferiores (cerca da metade).
Questionamento 11 – Água consumida em um banho durante o qual o registro foi mantido aberto ao longo de toda a atividade.
Novamente ficou evidenciado para os dois grupos – portugueses e brasileiros, para ambos os gêneros – a adoção de uma estimativa de consumo inferior ao valor médio aceito (240 litros, banho de 15 minutos).
No gênero feminino é que se observou o maior desvio. Para as brasileiras, 66% citaram valores iguais ou inferiores a 150 litros. Para as portuguesas, 75% valores iguais ou inferiores a 50 litros.
Questionamento 12 – Consumo de água em um banho onde conservamos o registro fechado enquanto ensaboamos o corpo.
Em relação a estimativa adotada de 80 litros, os brasileiros (homens e mulheres) e as mulheres portuguesas mostraram predominância para a opção 20 litros. Os homens portugueses indicaram 50 litros.
Mais uma vez, para os dois grupos, independentemente do gênero, ficou evidenciado que as pessoas desconhecem os consumos, bem como os efeitos de pequenos procedimentos que geram redução do consumo de água.
(1) Rede Working Together / http://users.prof2000.pt/wtcacia.
(2) Coordenador do NEPA-UNIVIX / roosevelt@ebrnet.com.br
Questionamentos
Questionamento 13 – Quantidade média diária de água necessária ao atendimento das necessidades básicas de uma pessoa.
Os professores brasileiros se fixaram em 100 litros / dia (66%), enquanto as professoras se dividiram igualmente entre 200 e 350 litros / dia (66%). Os professores portugueses ficaram (50% deles) entre 50 e 100 litros / dia, enquanto 75% das professoras entre 50 e 200 litros / dia.
Também se solicitou dos dois grupos estimativas com relação ao consumo médio de água observado em suas comunidades.
Questionamento 15 – Desperdício diário de água consequente de uma torneira gotejando.
Os grupos das mulheres brasileiras (55,5%) e dos homens portugueses (50%) evidenciaram o maior aderência com a estimativa média adotada (46 litros / dia) em termos da quantidade de água desperdiçada no processo de gotejamento. Os demais grupos optaram por alternativas inferiores a 30 litros / dia.
Questionamento 16 – Nível de desperdício de água no Brasil e em Portugal.
No Brasil, onde o desperdício está estimado entre 40 e 45%, a totalidade dos professores indicou a opção correta, enquanto para as professoras isso ocorreu para 56% delas. Em Portugal, onde a estimativa de perda está entre 35 e 40%, os homens, na totalidade, acertaram, enquanto 62% das mulheres indicaram perdas da ordem de 30%.
Questionamento 17 – Crescimento da população e conseqüente reflexo no crescimento da demanda de água.
A partir da estimativa média conhecida de 7 vezes, tanto os professores brasileiros como os portugueses optaram (33%) por valores abaixo de 6 vezes. As brasileiras indicaram 6 vezes (44%), além de indicar valores menores para o segmento restante. O comportamento das portuguesas foi o mesmo, 37% para 6 vezes, porém o segmento restante optou por valores maiores.
Questionamento 19 – Avaliação do entrevistado se os valores pagos nas contas de água podem ser considerados caros.
Entre os brasileiros, 60% dos homens consideraram “caro”, enquanto 44% das mulheres indicaram “bom”.Entre os portugueses, 100% dos homens optaram por “caro”, o mesmo acontecendo apenas para 50% das mulheres.
Merece também destaque que a avaliação “muito caro” foi explicitada apenas por 11,1% (mulheres) do grupo de brasileiros e 37,5% (mulheres) pelo grupo de portugueses, não sendo observado nenhum dos segmentos masculinos (tanto no Brasil como em Portugal) a opção por esta avaliação.
Questionamento 20 – Adesão a um programa voluntário de racionalização do uso da água.
Os dados mostram que para os dois grupos – brasileiros (100% dos homens e das mulheres) e portugueses (100% dos homens e 87% das mulheres) – há uma disposição explícita em atender ao chamamento de um programa voluntário de racionalização do uso da água.
Questionamento 21 – Em caso da adoção de uma lei, que obrigue todos que captam água em qualquer corpo hídrico a pagarem um valor para ser utilizado na recuperação / preservação do manancial, qual segmento econômico deveria ser excluído deste pagamento.
Entre os homens brasileiros, as atividades que deveriam ser isentas são comércio, abastecimento público, agricultura e indústrias (20% cada). Entre as brasileiras a opção foi de que todos deveriam pagar (89%). Em Portugal 100% dos homens optaram que todos deveriam pagar, o mesmo ocorrendo para 88% das mulheres.
Merece destaque que 11% das brasileiras e 12% das portuguesas indicaram que ninguém deveria pagar pelo uso da água. :
Questionamento 22 – Avaliação da atuação do Poder Público em relação a ações propostas voltadas ao estímulo do uso racional da água.
Os dois grupos – brasileiros e portugueses, independentemente do gênero – explicitaram condições não suficientes para o trabalho que deveria estar sendo desenvolvido pelo Poder Público dos dois países. As avaliações mais favoráveis (12,5% cada) foram explicitadas pelos segmentos femininos de Portugal e Brasil, , porém em percentuais que não servem de estímulo para imaginar que o Poder Público esteja assumindo efetivamente seu papel nesta linha de conscientização da sociedade.
Questionamento 23 – Avaliação da ação das escolas em relação a ações propostas voltadas à conscientização quanto ao uso racional da água.
No Brasil 67% dos professores adotaram a opção “tratamento adequado”, enquanto isso só ocorre com 44% das professoras, observando-se ainda 33% por “não adequadamente tratado” e 22% pela opção “falta de determinação política”.
O nível de críticas as ações desenvolvidas pelas escolas em Portugal, evidencia uma situação menos favorável do que aquelas observadas nas escolas brasileiras. Entre os homens há uma divisão (50% cada) entre as opções “não adequadamente tratado” e “falta de determinação política”, enquanto para as mulheres há uma divisão (38% cada) entre “adequadamente tratado” e “não adequadamente tratado”, observando-se 13% para a opção “ falta de determinação política”
Questionamento 24 – Interesse dos professores em participar de uma palestra específica sobre a temática dos recursos hídricos.
No Brasil os dois segmentos opinaram 100% pelo interesse na participação.
Em Portugal o segmento masculino optou em 75% pelo “sim”, sendo que 25% explicitaram que “não”. Para o segmento feminino, 85,7% opinaram por “sim”, enquanto que 14,3% explicitaram “não”, evidenciam-se a necessidade de avaliar as causas que levaram a tal comportamento, tendo em conta as respostas dos questionamentos 22 e 23.
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