Em busca dos créditos de carbono

Eduardo Geraque – Agência FAPESP

A parceria entre universidade e empresa mostra mais uma vez ser um caminho de sucesso. O Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima) e a empresa Usinaverde obtiveram do Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) a aprovação de um projeto para o tratamento limpo do lixo doméstico.

A aprovação do conselho, criado pela ONU a partir do Protocolo de Quioto, é a primeira a ser dada a uma instituição de ensino pública brasileira. O Centro Clima está ligado ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pesquisa e Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com o sinal verde, o projeto poderá comercializar os certificados de emissão reduzida, também conhecidos como créditos de carbono – cada certificado equivale a 1 tonelada de carbono que deixa de ser emitida na atmosfera.

A nova tecnologia desenvolvida no Rio de Janeiro está dividida em quatro etapas. Na primeira, o lixo doméstico, ao chegar à usina de tratamento, é despejado diretamente nos chamados silos de recepção. Em esteiras rolantes são separados materiais não-combustíveis, como vidros, cerâmicas e metais.

O passo seguinte é a queima do material propriamente dito. Os gases e vapores gerados passam por uma oxidação energética em temperatura superior a 1.000ºC. Todo o vapor gerado na pós-combustão é utilizado para geração de energia.

Na terceira etapa, os gases passam por uma lavagem, na qual são solubilizados e resfriados drasticamente. Tudo isso é feito em ambiente fechado. A solução de lavagem circula entre os lavadores e o decantador, sem que ocorra a geração de efluentes líquidos.

Os 5% do volume inicial de lixo incinerado, agora na forma de cinzas, passam pela última etapa. A parte solúvel desses resíduos, após decantar, será neutralizada por meio de reações químicas. Os sais também vão precipitar nos fundos do tanque nessa parte da operação.

A tecnologia, denominada processo de mineralização dos resíduos sólidos orgânicos, resulta, além da geração de energia, em uma grande redução na emissão de metano para a atmosfera. Os cálculos, feitos apenas para a usina piloto instalada na UFRJ, mostram que poderá ser evitada a emissão de cerca de 1.980 toneladas de dióxido de carbono por ano.

“Apesar de a quantidade ser baixa, o processo demonstra que os mecanismos limpos são viáveis. Trata-se de uma alternativa ambientalmente correta para o tratamento do lixo”, disse Alexandre Louis D’Avignon, pesquisador do Centro Clima, à Agência FAPESP.

A eficiência do projeto da Coppe pode ser medida pelo balanço do carbono. Enquanto 30 toneladas de lixo produzem estimadas 4.121 toneladas de carbono num aterro sanitário, ao passar pelo novo processo elas gerariam 1.947 toneladas.

Segundo D’Avignon, nessa conta entram também 93 toneladas do uso do GLP na usina, para manter a temperatura do sistema constante, e outras 92 toneladas dos processos de combustão. A subtração de um valor pelo outro resulta na quantidade de carbono realmente evitada, as 1.980 toneladas. Todos esses cálculos levam consideração a constituição do lixo usado na usina.

Por causa das limitações de espaço, a usina piloto em funcionamento na UFRJ trata apenas 30 toneladas de lixo por dia. Em escala comercial, segundo Alexandre D´Avignon, do Centro Clima, ela poderá ser montada a partir de módulos para processar 100 toneladas. Na planta piloto, a produção de energia é de 440 kW.

Para o pesquisador, a tecnologia poderá ser muito útil especialmente para pequenos municípios brasileiros. “É um processo criado para funcionar em autocombustão”, explica. Do total produzido em energia, a própria usina de incineração consome 320 kW. Os 120 kW restantes podem ser exportados para utilização em outros locais.

O projeto conduzido pelo Centro Clima e Usinaverde – que teve a certificação no Brasil da BVQI, certificadora independente credenciada pela ONU – também prevê o uso dos sais precipitados na tecnologia, que correspondem a 5% do volume inicial de lixo incinerado. Esses sais, segundo os estudos já feitos, poderiam ser empregados na fabricação de argamassas, tijolos e corretivos de solo. “Mas isso é ainda apenas uma possibilidade”, ressalta D’Avignon.

Ainda que o negócio da compra e da venda de créditos de carbono seja algo para o futuro, vários contratos estão sendo fechados em todo o mundo. A Bolsa de Chicago, por exemplo, já calcula o valor de tonelada do carbono – em 10 de janeiro, a cotação estava em US$ 1,65.

Segundo estimativas da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2006 os projetos brasileiros validados pelo MDL, em todas as categorias existentes, devem chegar a 300. Hoje, são 83 iniciativas que dispõem do direito de comercializar créditos de carbono.

Por obter mais informações e acessar a íntegra do projeto acesse:

www.mct.gov.br/clima.

Bucha vegetal ganha mercado

A bucha vegetal produzida na região de Bonfim (MG) foi trazido ao Brasil pelos escravos, adaptou-se bem ao clima e ao solo e se tornou hábito entre a população.

Nos anos 50, foram lançadas as esponjas sintéticas que tomaram grande parte do mercado da bucha vegetal. Mas, agora, graças à maior consciência ecológica da população, a bucha está de volta ao mercado compondo xaxins, misturada à casca do coco, e vassouras feitas com garrafas PET.

Biodegradável, a bucha tem representado uma importante fonte de geração de emprego e recursos financeiros para comunidades de baixa renda. Em Bonfim, município responsável por cerca de 20% da produção estadual de bucha vegetal, o cultivo, em uma área com cerca de 70 hectares, proporciona aproximadamente 140 empregos diretos.

Com o objetivo de aumentar o volume da produção em 30% e a renda média das famílias envolvidas com o plantio da bucha vegetal em 20%, até o final de 2006, o Sebrae em Minas Gerais elegeu o negócio para ser alvo de ações de um projeto balizado pela Gestão Estratégica Orientada a Resultados (Geor), uma metodologia nacional caracterizada pelo compartilhamento de responsabilidades entre os parceiros envolvidos.

O primeiro passo foi a mobilização da comunidade. “Realizamos encontros, palestras e cursos sobre associativismo”, explica a técnica do Sebrae, Márcia Valéria Machado. Na seqüência, os trabalhos concentraram-se nas pesquisas para elaboração de um diagnóstico do setor em Bonfim.

As cidades de Betim, Brumadinho, Rio Manso e Piedade dos Gerais também integram o projeto. Nesses municípios, a atividade gera mais de 500 empregos diretos. Por enquanto, apenas 52 produtores fazem parte da associação em Bonfim, mas o objetivo é aumentar esse número à medida que os benefícios do associativismo aparecerem.

A bucha vegetal é fruto de uma trepadeira que tem o mesmo nome e possui flores e folhas verdes e amarelas. O cultivo é simples, mas exige cuidados para se obter frutos de boa qualidade, especialmente no momento de sua colheita. Todo o processo de extração é feito manualmente e, depois de colhida, a bucha deve ser descascada e lavada em água corrente e limpa.

Este processo não agride o meio ambiente e as cascas e sementes podem ser reaproveitadas como adubo orgânico. Após a lavagem, as buchas são expostas ao sol para secarem. Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos produtores é a falta de estudos sobre a bucha, suas pragas e a seleção de sementes, o que acaba comprometendo a produtividade.

Fonte: Sebrae-MG

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