
Nas últimas décadas químicos europeus vêm documentando, com cada vez maior frequência, a contaminação por fármacos dos lagos, fontes e água subterrânea.
Na última semana, em São Francisco, cientistas norte-americanos e canadenses apresentaram uma confirmação preliminar de que resíduos de medicamentos, oriundos dos esgotos domésticos de pessoas e animais, também poluem as águas. Eles mostraram suas descobertas no primeiro grande simpósio sobre fármacos na água como parte do encontro anual da Sociedade Americana de Química.
A poluição da água por medicamentos é o caminho mais emergente, disse Christian G. Daughton, co-organizador do simpósio e chefe de Química Ambiental do Laboratório de Pequisas da Agência de Proteção Ambiental (EPA), em Las Vegas. O próprio Daughton assinalou que há 20 anos os cientistas da EPA haviam encontrado traços de aspririna, cafeina e nicotina ao examinarem os esgotos. Isto foi anotado como uma curiosidade e todos a esqueceram.
Quase nesta mesma época, relembra Herman Bouwer, do Serviço de Pesquisas Agrícolas, em Phoenix, apareceram traços de drogas usadas para baixar o colesterol em um reservatório de água subterrânea utilizada para o abastecimento da população da cidade. A origem do resíduo estava no efluente do esgoto tratado, que era reusado para a reposição do aquífero.
Segundo Bouwer não foi dada maior atenção ao achado e hoje cabe perguntar: “Se essa substância passou incólume pelo sistema de tratamento de esgoto, infiltrou no solo e apareceu na água o mesmo não pode ter acontecido com outras?”. E agora os estudos mostram que isso efetivamente aconteceu, disse.
Chris Metcalfe, da Universidade canadense de Trent em Peterborough, Ontário, revelou ter encontrado resíduos de remédios para câncer, de anti-inflamatórios e de fármacos usados em Psiquiatria, em efluentes de esgoto, após tratamento.
“Os níveis desses resíduos encontrados nas estações de tratamento de esgoto no Canadá são bem mais elevados do que tem sido informado em pesquisas realizadas em outros países, como a Alemanha”, informou Chris Metcalfe, acrescentando que no continente americano muitas cidades têm sistemas de tratamento de esgoto bem mais rudimentares do que na Alemanha.
Outra fonte desta poluição, que vem crescendo, é a de antibióticos utilizados em animais domésticos, conforme relatou o geoquímico Mike Meyer, do Laboratório de Análises Geológicas de Raleigh, N.C., que estão pesquisando a presença destas substâncias em pocilgas. Agora os pesquisadores do Centro de Prevenção e Controle de Doenças de Atlanta vão analisar as bactérias encontradas na água para testar sua resposta aos antibióticos buscando identificar qual é a contribuição, se ela existir, dos resíduos de animais domésticos na cada vez maior resistência das bactérias aos antibióticos comuns.
Até hoje não há nenhuma conclusão sobre o efeito toxicológico desta exposição mas os cientistas suspeitam que o risco maior é para a vida aquática “deitada, do berço à sepultura, numa solução de drogas cuja potencialidade e concentração vêm aumentando”, conforme avaliam. David Epel, da Universidade Stanford, vai mais longe. Ele teme que substâncias inibidoras do desenvolvimento de células de agentes patogênicos, presentes em modernos antibióticos, possam afetar, futuramente, a resistência do ecossistema aquático a agentes poluentes até agora considerados inócuos.
Outra fontes
Segundo os pesquisadores mais de 1 milhão de residências nos Estados Unidos despejam o esgoto diretamente no meio ambiente.
Outro relato trouxe dados da descoberta, na Alemanha, de resíduos não diluídos de 1 ppb de carbamazepine, uma droga anticonvulsiva, e de 2.4 ppb de uma substância a base de iodo, usada como contrastante para raio-X.
Os especialistas lembram também que a população joga no lixo restos de medicamentos aumentando a força da poluição da indústria farmacêutica. Eles já notificaram descobertas de até 12 ppb de componentes para medicamentos aparecendo até mesmo em países como a Croácia em concentrações bem elevadas.
Também têm sido encontrados traços de drogas em água de torneira revelando sua passagem, incólume, pelo sistema de tratamento.
Thomas Heberer, da Universidade de Berlim, informou ter encontrado traços de remédios na água da rede de sua casa. As concentrações, de qualquer forma, estava perto do limite de detecção, poucas partes por trilhão.
Além disso ele constatou que passando esta água num filtro de carvão ativado desapareciam todos os vestígios das drogas.
Alguns estudos indicam que o carvão ativado e ozônio, usados largamente no tratamento da água na Europa, removem todos os vestígios de medicamentos. No caso do esgoto, que não utiliza essas tecnologias mais caras, é mais comum a presença de substâncias famacológicas.
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