Os preços e o mercado resolvem a crise da água?

Os princípios econômicos, particularmente a precificação e a comercialização da água, em combinação com uma adequada administração, são mais importantes do que a privatização e repressão, sustenta John Peet, em um recente estudo econômico sobre a água. Com uma apropriada regulação “tem sentido para os países recorrer ao setor privado, particularmente em lugares onde o papel do setor público se reduziu”, avalia.

Ele defende que a precificação e a comercialização da água dependem de um marco legal fortalecido onde se definam os direitos da água e um sistema confiável para a arrecadação das tarifas”. A água deve também ser descentralizada em nível local.

Ainda que a parte econômica proporcione um estudo de temas relacionados com a privatização da água, a escassez e a eficiência, segundo o Instituto do Pacífico “a resposta à crise global da água” não deve se restringir ao adequado funcionamento dos mercados e à aplicação apropriada de ferramentas econômicas”. Referindo-se à própria pesquisa do Instituto sobre a privatização da água [1], disse que “a água é muito importante para ser deixada somente nas mãos do setor privado”.

Fonte:

[1] Gleick, P.H. … [et al.] (2002). The new economy of water : the risks and benefits of globalization and privatization of fresh water. Oakland, CA, USA : Pacific Institute for Studies in Development. pacints.org

Ecovisão mostra gestão ambiental

A água, um dos temas mais discutidos em todo o mundo na atualidade – amplamente debatido em Porto Alegre esta semana que acontece o Fórum Internacional das Águas – será assunto também da Ecovisão – Feira de Tecnologia Ambiental que se realiza paralelamente à Courovisão- Feira Internacional de Couros, Químicos, Componentes e Acessórios para Calçados e Artefatos, entre os dias 15 e 17 deste mês, nos pavilhões da Fenac, em Novo Hamburgo (RS).

A Ecovisão se propõe a ser um fórum de discussões e de demonstração de tecnologias como as que serão mostradas pelo Instituto Brasileiro de Produção Sustentável e Direito Ambiental (IBPS). O Instituto estará na feira para propor ao setor calçadista, com foco na indústria curtidora, alternativas de gestão ambiental com utilização de tecnologias ecologicamente corretas principalmente no que diz respeito ao uso e reuso dos mananciais hídricos.

“O setor curtidor já teve muitos avanços na área ambiental. De um modo geral, os curtumes do Vale do Sinos deram um salto em qualidade neste sentido, mas ainda resta muito a ser feito”, avalia Carlos Nascimento, presidente do IBPS. Um dos equívocos da indústria curtidora está em ainda focar a produção em couro sem valor agregado, avalia. “O equivalente a 80% do impacto ambiental da indústria coureira ocorre até este estágio de processamento do couro.

Estatísticas indicam que o setor industrial é o segundo maior usuário dos recursos hídricos (o primeira é a agricultura) e também o segundo maior poluidor de águas (o primeiro é a falta de saneamento). Na bacia do Rio do Sinos, onde está concentrada a maior parte das indústrias calçadistas do Brasil, é o setor curtidor o que mais polui as águas, segundo aponta o engenheiro Sidnei Agra, consultor do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria de Meio Ambiente do RS.

A importância das bacias hidrográficas

O assoreamento das margens dos rios causado pelo constante desmatamento já desperta preocupação de autoridades políticas e não apenas dos estudiosos da degradação do meio ambiente. Esse foi outro tema em debate durante o Fórum Internacional das Águas que acontece, em Porto Alegre (RS), na sede da FIERGS, entre os dias 8 e 11 de outubro.

O assoreamento origina o excesso de areia que, com os passar dos anos, tem como conseqüência as enchentes em tempo de chuva, pois a absorção da água pelo solo é reduzida, explica a coordenadora da Oficina Temática do Fórum identificada como Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos através das Bacias Hidrográficas, Ana Elizabeth Carara.

Com o objetivo de elucidar a identificação dos rios e seus afluentes e a partir do conhecimento dos limites das respectivas bacias, essa oficina projetará ações visando garantir a conservação ambiental e o que precisa ser feito para evitar a degradação. Entre os integrantes da oficina estão representantes dos Comitês de Bacias já formados no Rio Grande do Sul especialmente.

De acordo com a bióloga que coordenará esse trabalho o estado tem 20 bacias e a região hidrográfica do lago Guaíba possui nove comitês. Outras bacias importantes são do Rio Uruguai e do Litoral norte do Rio Grande do Sul. A organização das bacias e a adequação prática das políticas ambientais juntamente com o tratamento dos esgotos dentro das determinações urbanas são fundamentais ao abastecimento de água, frisa Carara ao acrescentar que em caso de poluição, o comprometimento ocorre no abastecimento prejudicando também a atividade pesqueira.

Fonte: Assessoria de Imprensa do Encontro

Cultura do desperdício

A cultura do desperdício de água doce está tão presente na rotina das pessoas que é difícil enxergar o prejuízo ambiental provocado. Durante o Fórum Internacional das Águas a educação e o uso da água no contexto urbano tiveram oficinas específicas.

Segundo a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), embora o consumo médio anual por economia esteja dentro de índices aceitáveis (10,5m³), ainda há muito desperdício e perda de água tratada. Segundo a própria Corsan, 50% da água tratada no estado é vítima da chamada “perda comercial”, ou seja, é usada de graça principalmente em função de ligações clandestinas ou por defeitos nos medidores. Neste índice está contabilizada ainda a chamada fuga que nada mais é que a perda do produto antes de chegar ao consumidor, causada principalmente por defeitos/consertos na rede de abastecimento. A fuga é responsável por cerca de 20% da perda de água tratada.

“O desperdício está latente, tanto que é comum a água virar vassoura para muitas calçadas”, destaca o superintendente de Tratamento da Corsan, engenheiro químico Marinho Graff. Algumas pessoas já têm a cultura do desperdício tão arraigada que nem percebem que estão jogando fora a água boa que pode faltar a manhã, alerta, acrescentando que o fato da cultura ecológica e, por conseqüência, de preservação de recursos naturais, estar sendo introduzida nas escolas é um indicativo de novos tempos. “Acredito muito na criança de hoje”, diz. Mas enquanto o futuro não chega, sugere mais cuidados no manuseio diário da água em casa.

Para algumas comunidades, os limites de consumo da água já são impostos e fiscalizados há mais de mil anos, como o caso do Tribunal das Águas instituído em Valência (Espanha) há 1.040 anos com poderes para abrir processos judiciais em casos de detecção de desperdício e contaminação. O presidente do Tribunal das Águas, Vicente Nacher, também esteve na capital gaúcha para apresentar essa experiência durante o Fórum.

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