Como a natureza consegue sempre uma bebida no deserto

Fiona McWilliam, London Press Service

Inspirados pela fotografia de um gafanhoto na Namíbia, o Dr. Andrew Parker – pesquisador e conselheiro da Royal Society University trabalhando no Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford – e o Dr. Chris Lawrence, da QinetiQ (antigo Departamento de Pesquisas e Avaliações de Defesa) iniciaram recentemente um projeto de pesquisa sobre a adaptação do Stenocara ao calor.

“Um gafanhoto pousara na areia e imediatamente morreu torrado” explica o Dr. Parker. “Entretanto, três besouros Stenocara que também apareciam na fotografia, alimentavam-se da carcaça do gafanhoto, completamente desligados do intenso calor”.

Cientes de que os besouros metálicos possuem sofisticados refletores óticos, Parker e Lawrence esperavam encontrar refletores para ondas de infra-vermelho, a irradiação solar que produz o calor. “Todos os sinais estavam presentes” afirma o Dr. Parker “mas nossa pesquisa foi interrompida pela descoberta de uma estrutura diferente na parte superior do refletor”.

O besouro Stenocara preto tem um corpo quase esférico, com cerca de dois centímetros de diâmetro, apoiado em pernas finas. “Ao examinarmos a cutícula do besouro em microscópio eletrônico fizemos uma descoberta surpreendente”, acrescenta o Dr Parker. “Tanto o esqueleto como a parte externa do besouro tinham estruturas raras. Nossa experiência com superfícies refletoras e resistentes à água na natureza, nos levou a concluir que as estruturas externas do Stenocara não eram uma adaptação ao calor”.

Entretanto, pensou, poderia ser a explicação de como o besouro bebia a neblina do deserto. As costas do besouro são cobertas por saliências que examinadas em microscópio eletrônico assemelham-se a uma pequena formação montanhosa. Pequenos nódulos redondos com cerca de 10 micros, dispostos hexagonalmente cobrem as encostas e os vales das “montanhas” enquanto os picos ficam descobertos.

“Testamos quimicamente um besouro que havia morrido recentemente e verificamos que seus nódulos são cobertos por cera” disse o Dr Parker “mas as regiões descobertas – os picos da montanha – não são cobertos por cera”.

Os nódulos cobertos por cera repelem enquanto que as áreas sem cera atraem a água. A combinação das duas superfícies permite ao besouro beber a neblina. Ao inclinar seu corpo em direção ao vento carregado de neblina, minúsculas gotas de água são repelidas das montanhas indo em direção aos picos. Ali tornam-se suficientemente grandes (em torno de 5 mm de diâmetro) para descerem das costas do besouro em direção a sua boca.

Irrigação e abastecimento

Parker e Lawrence criaram vários modelos da superfície do besouro e esperam transformá-los em um aparelho para ser usado em tendas e edifícios, e até mesmo no exterior dos mesmos para fins de irrigação.

Uma grande parte do globo terrestre, como a Namíbia, tem áreas em condições desérticas onde a única umidade existente é a neblina trazida pelos ventos. Uma técnica para colher neblina utilizando redes suspensas verticalmente já está sendo utilizada por 22 países em seis continentes, incluindo o Peru e o Chile. Este método, diz Parker, pode colher de 5 a 13 litros de água por dia, para abastecimento e irrigação.

A QinetiQ criou protótipos em grande escala que simulam a superfície do besouro Stenocara, segundo o Dr Parker e têm capacidade de colher quantidades muito maiores de água do que as redes, além de resistir melhor aos fortes ventos. A fabricação em grande escala da superfície Stenocara está agora em fase de planejamento, Parker e Lawrence examinam outras aplicações, incluindo um aparelho para eliminar a neblina que provoca o fechamento de aeroportos.

Fonte: Zoology Department, Oxford University, South Parks Road,

Contato Dr Andrew Parker: andrew.parker@zoo.ox.ac.uk

MG debate barragem de rejeitos

Desde o acidente, em abril, com o rompimento da barragem de rejeitos da Indústria Cataguazes de Papel, na Zona da Mata Mineira, que contaminou os rios Pomba e Paraíba do Sul, o Brasil passou a dar atenção a um dos mais graves problemas ambientais do país: a falta de controle com os resíduos sólidos e líquidos gerados pelas empresas.

Em Minas Gerais, pólo minerário e siderúrgico nacional, as barragens passaram a ter regulamentação específica apenas a partir de dezembro de 2002, depois de outro grave acidente que deixou cinco operários mortos, após o rompimento da barragem da Mineração Rio Verde, na região metropolitana de Belo Horizonte.

A Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), em Minas, está fazendo o cadastramento das barragens instaladas no Estado, para facilitar a fiscalização, mas quase não há dados nacionais sobre os outros estados. A listagem com a situação das barragens mineiras está sendo divulgada durante o Seminário Nacional Barragens de Rejeitos – Segurança e Riscos, que se realiza em Belo Horizonte, nesta semana, dias 3 e 4 de julho.

O objetivo do encontro é apresentar subsídios para estabelecer uma política de fiscalização e prevenção contra os acidentes nas barragens, que representam grandes danos para o meio ambiente. No evento, especialistas estão apresentando diagnósticos da situação brasileira, tecnologias disponíveis para projetos e operação de

barragens, discutem as responsabilidades legais previstas na lei e as exigências para os licenciamentos.

O seminário é realizado pela Câmara da Indústria Mineral da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sindicato das Indústrias Extrativistas (Sindiextra) e pelo Instituto de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Ietec).

Para o diretor do Ietec, Ronaldo Gusmão, a difusão de informações sobre as barragens de rejeitos pode evitar futuros acidentes e facilitar a fiscalização por parte da sociedade. Ele acredita que a listagem das barragens em Minas pode apresentar um avanço nessa vigilância. “Se um cidadão souber que a barragem de sua cidade não está na lista, ele deve denunciar”, aconselha. Gusmão teme que as barragens brasileiras se assemelhem a “barris de pólvora”. “O risco sempre existe, por isso é fundamental o monitoramento permanente das barragens. E nós não sabemos se as empresas estão agindo dessa forma”. Ele cita o exemplo das barragens de cana-de-açúcar que, se rompidas, podem provocar estragos irreparáveis ao

meio ambiente. “O vinhoto (resíduo da cana) é altamente poluente. Será que algum órgão sabe como está o controle deste tóxico?”, indaga

Fonte: Ietec

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