
Foto: Paulo Salles – Adasa – Valter Campanato/Agência Brasil.
No momento em que se prepara para receber o grande evento mundial dobre água Brasília enfrenta uma das piores estiagens pela qual já passou a capital brasileira.
Segundo Paulo Salles, presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) uma das entidades envolvidas na preparação do 8º Fórum Mundial da Água, “este é um momento de muito aprendizado: primeiro, compreender que estamos vivendo um período difícil para o planeta inteiro porque, antes, a crise hídrica era localizada, com seca aqui, inundação ali. Agora, estamos vendo todos os países com problemas relacionados com a água. E a outra coisa que estamos aprendendo é que a crise hídrica evidencia que a água não é somente um elemento do meio ambiente como nós sempre consideramos; ela é parte da economia, é parte da política, da organização das instituições, de muitos outros fatores que nós não percebíamos porque ela não faltava. É a falta d’água que nos mostra então a importância que ela tem em nossas vidas”.
Ele destaca que os brasilienses estão aprendendo a conviver com um dia de racionamento a cada seis dias, algo inédito, mas que este é um acontecimento que faz parte do cotidiano dos nordestinos e de outros povos em várias partes do mundo. “Temos que aprender a usar a água da chuva, temos que aprender a reutilizar a água usada, seja na indústria, na agricultura ou nas atividades domésticas. São transformações de hábitos culturais que se refletem também na mudança da infraestrutura que temos nas nossas casas, nas nossas indústrias, no campo, para a que a gente possa distinguir as tubulações de água potável daquelas da água não potável e fazer o uso adequado das duas”.
Embora as desigualdades de distribuição da água doce no Brasil – o Norte, com muita água e população reduzida, e o Sudeste, com menos disponibilidade e população muito concentrada, Salles lembra que Brasília foi escolhida para ser a capital a partir dos estudos da Missão Cruls que descreviam esta região como sendo muito rica em água e foi considerada capaz de receber a nova capital com segurança.
“Com o tempo, nós fomos percebendo que não tínhamos tanta água assim, particularmente porque estamos situados no planalto, que não tem rios caudalosos. Então, fomos colocados aqui num lugar que era para ser sustentável – e Brasília nasceu sob o signo da sustentabilidade, muito bem planejada, num local escolhido com o que havia de melhor da tecnologia tanto no século XIX quanto na década de 50, que antecedeu à fundação”, observa Salles.
Ele ressalta que agora a população de Brasília está vivendo com a água que tem. “Reconheço que demoramos a sentir os efeitos da falta d’água, apesar do crescimento da população, apesar da ocupação feita de modo desordenado e mesmo nas áreas previstas, as ocupações não foram feitas respeitando, por exemplo, o local onde seria colocada uma escola, uma rede de esgoto, uma rede de drenagem de águas pluviais. Essas coisas desordenadas estão também entre as causas da crise hídrica que estamos vivendo”, descreve.
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