Sandrine Lage.
Situações climáticas extremas, exposição à regulamentação, riscos de reputação, ruptura no fornecimento de matérias-primas e infra-estruturas, alterações climáticas lentas e riscos de responsabilidade civil: estes são os principais riscos identificados por um conjunto de empresas face ao impacto das alterações climáticas. O inquérito, levado a cabo em 2007, também identifica oportunidades, tais como novos produtos e serviços – ou mesmo mercados -, um enquadramento regulamentar mais favorável e um mais fácil acesso a matérias-primas.
Não faltam oportunidades ao setor de energia. Desde a procura de produtos e serviços energéticos com o menor impacto possível para o ambiente (logo, para o homem) e com eficiência energética, à substituição (que pode vir a ser precipitada) de combustíveis fósseis por eletricidade, as oportunidades abundam. Com a vantagem de reduzir a pegada de carbono, sustentado na utilização final de energia.
O governo britânico, por exemplo, acabou de anunciar um plano de incentivo para aumentar o número de carros elétricos nas ruas. Os críticos dizem que a medida fará pouca diferença para reduzir as emissões de carbono. No entanto, caso os tipos de veículo estivessem imediatamente disponíveis, o plano do governo poderia funcionar, na medida em que os carros elétricos são mais limpos, em termos energéticos, e mais silenciosos. Como referiu recentemente John Elkington, “se houver uma boa quantidade desses automóveis nas ruas, passa a ser possível abrir as janelas dos prédios para uma ventilação natural (como estão a pensar fazer em Dongtan, na China), para reduzir a utilização do ar-condicionado”. Naturalmente, quanto mais corrente for a utilização, mais reduzidos serão os preços.
Já no setor do turismo, os riscos acentuam-se no que toca, por exemplo, à degradação de ativos em antigas regiões turísticas. Enquanto os desafios enfrentados pelos destinos para desportos de inverno se traduzem na diminuição e na imprevisibilidade da queda de neve, no caso dos destinos de praia, estes se tornam obsoletos devido às temperaturas demasiado elevadas, à escassez de água e ao risco de fogos selvagens, bem como à propagação de doenças anteriormente tropicais (devido ao aumento da temperatura). Contudo o período de procura poderá alagar-se à primavera e ao outono.
Os desafios impostos pelo impacto das alterações climáticas, no contexto empresarial, nem sempre têm o mesmo peso. Depende do setor de atividade, pode ler-se no documento “Adaptação, um resumo para temático para as empresas”, produzido pelo WBSCD.
Em geral, todas as empresas terão de planejar a sua adaptação. As principais forças motrizes e os potenciais benefícios incluem: vantagem competitiva, economia de custos, gestão de responsabilidade social, pressão dos investidores, regulamentação e capacidade de recuperação da comunidade. Os benefícios tangíveis de curto e longo prazo atingem as operações empresariais, mas também as comunidades locais. Exigem, no entanto, a construção de estratégias de adaptação em processos de gestão de risco e de planejamento empresarial ao longo da cadeia de valor.
De volta ao eixo do perímetro, situa-se a concepção de novos produtos e serviços, para considerar a penetração em novos mercados (para além do perímetro), e, conseqüentemente, concretizar a entrada de produtos e serviços nos mesmos (para além do horizonte).
Este é o resumo de ações de adaptação que as empresas podem implementar para minimizar os riscos e criar oportunidades nestas três esferas de risco e influência.
Parcerias com as comunidades circundantes
Agir em parceria com as comunidades circundantes situa-se “para além do perímetro”. Neste caso, não basta às empresas restringirem as estratégias para lidar com os impactos das alterações climáticas, de curto e longo prazo. As operações empresariais eficazes exigem mão-de-obra estável e produtiva, infraestruturas confiáveis de fornecimento de energia, redes adequadas de transporte e bens e matérias-primas para o mercado. A existência de comunidades saudáveis e funcionais junto dos fornecedores e empresas é vital para o bem-estar dos colaboradores e, por associação, para a capacidade operacional das instalações e das cadeias de fornecimento. Assim, segundo o documento publicado pelo WBCSD, é imperativo que as comunidades circundantes também consigam resistir a situações de condições meteorológicas severas.
Só assim podem recuperar rapidamente os resultados, bem como adaptar-se aos efeitos físicos e impactos de longo prazo, como a subida do nível do mar. Inúmeras empresas trabalham já com comunidades circundantes em questões de interesse mútuo. Contudo, no futuro, prevê-se uma colaboração mais estreita com as comunidades locais, no sentido de desenvolver planos de contingência e de resposta de emergência mais alargadas. Para a abordagem dos impactos de curto e de longo prazo, cabe às empresas assumirem o papel de parte interessada ativa nos projetos de administração local para a concepção de capacidades e infra-estruturas locais sólidas e resilientes.
Colaboração com a comunidade global
Colaborar com a comunidade global (para além do horizonte) pode traduzir-se numa saída (talvez a única) para os países em desenvolvimento. Uma vez que são, provavelmente, os mais vulneráveis às alterações climáticas. Além de disporem de menos recursos para a adaptação – social, tecnológica e financeira. Muitos países têm desenvolvido um trabalho de âmbito alargado para avaliar os impactos e a vulnerabilidade às alterações climáticas, bem como para considerar as possíveis opções de adaptação.
Conforme referido pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC), 2007, os países em desenvolvimento têm circunstâncias particulares muito diferentes e os impactos específicos das alterações climáticas nos diferentes países vai depender do tipo de clima, bem como da sua situação geográfica, social, econômica e política. Como resultado, é agora reconhecido que diferentes países vão exigir diferentes medidas de adaptação adequadas às suas circunstâncias particulares.
Minimizar os riscos
Dentro do perímetro, ou seja, ao nível das operações e cadeias de fornecimento, existem várias possibilidades: desde a reengenharia para minimizar a utilização da água à reengenharia para a resiliência, à preparação de respostas de emergência e ao balanço da cadeia de fornecimento e plano de contingência.
Para além do perímetro – refletindo nas comunidades locais -, cabe às empresas assegurar respostas de emergência à comunidade, planejar infraestruturas e garantir um plano de contingência para a logística. Idealmente, devem disponibilizar-se, adicionalmente, planos de saúde à comunidade e gerir as bacias hidrográficas.
Por fim, para além do horizonte – relativo aos mercados de consumidores globais e aos países desenvolvidos e em desenvolvimento – a aposta em apoios a programas de saúde e ao desenvolvimento de sistemas de informação faz a diferença.
Operações e cadeias de fornecimento
No âmbito das operações e das cadeias de fornecimento (dentro do perímetro), as empresas dispõem de oportunidades de inovação de processos, produtos e serviços, em resposta às alterações climáticas e à necessidade de proteção dos ativos existentes.
Têm, assim, oportunidade de tornarem-se líderes, ao analisar os fatores de risco de curto e médio prazo. As avaliações qualitativas dos custos e dos benefícios da adaptação são atualmente limitadas. Estratégias e ações similares de gestão de risco de longo prazo indicam que podem ser obtidas vantagens reais com a integração dos riscos climáticos no processo decisório.
Efetuar despesas de custo eficaz em projetos, num futuro próximo, pode também criar benefícios significativos, em longo prazo, nas tomadas de decisão.
Autora
Sandrine Lage é jornalista portuguesa, com formação em gestão de RH e responsabilidade social empresarial, concluiu, em 2008, o Masters Programme Design for Sustainability, na Universidade de Cranfield, no Reino Unido, com a tese “Como melhorar a comunicação da sustentabilidade nos Media”, baseada nos case studies dos jornais Público (Portugal) e The Guardian (Britânico). É fundadora da empresa Sperantia, que lançou o estudo das “Melhores Empresas para Trabalhar” na Europa, por meio da representação, em Portugal, do Great Place to Work Institute. Publica regularmente na imprensa portuguesa artigos sobre RSE, desenvolvimento sustentável e consumo consciente e intervém em conferências e seminários para divulgar as melhores práticas de gestão das organizações em Portugal e na Europa.
Leave a Reply