Juliana Ramalho Barros
A partir da década de 1970 a questão ambiental foi inserida na agenda política internacional como condicionadora e até mesmo limitadora do modelo tradicional de crescimento e do uso dos recursos naturais do planeta. Isso resultou da preocupação do homem com o meio ambiente e com os recursos naturais disponíveis, lembrando que tais recursos estão recobertos de valores não apenas naturais, mas econômicos, sociais e ideológicos, o que torna a questão ainda mais complexa.
Cada vez mais a imprensa mundial noticia fenômenos naturais (furacões, terremotos, tsunamis) e suas conseqüências devastadoras sobre as cidades e as populações que ali vivem. E mal acontece uma catástrofe já é possível ver governantes e ambientalistas declarando que “o planeta está reagindo aos males que o homem vem lhe causando”, fato que parece ter sido corroborado pelos relatórios que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC (sigla em inglês) divulgou em 2007, nos quais aparecem a certeza de que o planeta está se aquecendo e o percentual de participação do homem nas mudanças climáticas.
Problemas não faltam quando o assunto é meio ambiente e vários são os desafios que devemos enfrentar, mas o principal deles é a escolha das prioridades, pois a comunidade acadêmica pode apontar os fatos mais ameaçadores e indicar caminhos para resolvê-los ou minimizá-los, mas não pode direcionar completamente a humanidade.
O Brasil tem se colocado na posição de uma espécie de salvador do planeta ao assumir compromissos contra o desmatamento da Amazônia e com a produção de biocombustíveis para serem utilizados no mercado interno e exportados. De fato, acredita-se que o país tem um grande papel na discussão ambiental e nas ações para reverter problemas.
Porém, as prioridades econômicas mostram-se à frente de qualquer outra, assim como as dificuldades estruturais ainda existentes, tais como a dificuldade de combater as queimadas e o desmatamento na Amazônia, a falta de interesse dos setores econômicos em projetos ambientalmente viáveis e mesmo a produção em larga escala dos biocombustíveis, que também pode causar sérios impactos ao meio ambiente, dentre os quais é possível citar o esgotamento de solos, a contaminação da água e do ar e a redução das biodiversidades regionais.
O que se observa é uma grande disparidade entre a política ambiental e a política econômica do país e a prioridade parece ser apenas o crescimento econômico.
Infelizmente, a visão de que é preciso preservar o meio ambiente está relacionada à necessidade de sobrevivência da espécie humana, já que a natureza é a fonte de alimentos, remédios e recursos para as diferentes atividades econômicas. Assim, a preservação não é resultante de uma reflexão ética, mas da necessidade de sobreviver.
Contudo, se o atual modelo econômico persistir, a preocupação ambiental torna-se inútil. É preciso mudar a maneira de pensar e de agir, modificando-se as concepções de toda a sociedade para que se possa mudar a maneira como a humanidade se apropria do meio ambiente. Uma nova visão do mundo deve corresponder a uma nova visão social, na qual cada um se sinta parte dos problemas que podem estar afetando a sobrevivência da raça humana.
Comentário dos leitores
Ana Maria Masuda – ana.giogi@hotmail.com
Comentário: Concordo que temos de mudar a maneira de agir, de pensar para poder salvar o planeta. Só que estão exigindo mudanças da população e não vejo exigências obrigatórias quanto às indústrias, que continuam fabricando refrigerantes em garrafas PET, as sacolinhas de plásticos também continuam sendo fabricadas.Já que o povo tem que diminuir o consumo e até reciclar os materiais PET por que não proibir a fabricação desses materiais que prejudican a natureza? Não seria o ideal? Por que só o povo tem que cortar, diminuir, reciclar todo o lixo fabricado pelas indústrias? Se os ricos também diminuíssem o número de carros da família,o consumo exagerado em tudo, os grandes fazendeiros diminuíssem a matança de animais, aí, sim, poderíamos dizer que toda a sociedade estaria colaborando efetivamente a um bem maior, uma causa nobre, em benefício de todos. Cada um por si e por todos.
Prioridades e dilemas
Ao longo da história, inúmeras escolhas que nortearam os caminhos das diferentes sociedades foram feitas pelos governos e mercados econômicos, que parecem não estabelecer prioridades racionais e persistem em suas escolhas.
Este argumento sustenta-se quando se realiza uma reflexão a respeito do Protocolo de Quioto, que entrou em vigor em 2005, ainda é alvo de discussões e, ao que tudo indica, não terá suas metas cumpridas.
O protocolo deixa de fora os países em desenvolvimento, como o Brasil, a China e a Índia, e estabelece metas de redução de gases do efeito-estufa para os países em desenvolvimento. A partir daí surgem vários impasses.
O primeiro deles refere-se ao fato de que vários países desenvolvidos apontam grandes impactos socioeconômicos que serão causados se forem obrigados a cumprir as metas do acordo.
O segundo está na necessidade de os países em desenvolvimento também se comprometerem com a redução de suas emissões de gases do efeito-estufa, já que Brasil e China estão entre os quatro maiores emissores do mundo, seja por causa do desmatamento das florestas ou em função das matrizes energética e de transportes.
E, finalmente, o terceiro é o dilema entre a redução das emissões e o crescimento industrial.
Autora
Juliana Ramalho Barros é graduada em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB), mestre e doutora em Geografia com ênfase em Climatologia pela Unesp de Rio Claro (SP). Pesquisadora Associada do Laboratório de Climatologia Geográfica do Departamento de Geografia da UnB.
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