Dr. Clovis Botelho
Em áreas urbanas, das várias formas de poluição ambiental existente, o aumento da poluição do ar é a que mais preocupa os estudiosos da área da saúde, pois poderá ceifar milhares de vidas nos próximos anos. Este tipo de poluição decorre, principalmente, da queima de combustíveis (que produz grande consumo de oxigênio e elevado nível de gás carbônico) que, aliado ao aumento da emissão de partículas, torna o ar com a qualidade não adequada ao processo respiratório.
Embora os esforços oficiais preocupem-se mais com a poluição no meio externo (outdoor), hoje fica evidente a importância da concentração de poluentes dentro de ambientes fechados (indoor). A poluição domiciliar destaca-se pelas características próprias do indivíduo adulto residente nos centros urbanos, que permanece cerca de 16 horas por dia dentro de casa. Soma-se a isto os microambientes do trabalho e de transporte que, de certa forma, reproduzem o ambiente domiciliar em termos de ar ambiental.
Particularmente na infância, um dos períodos mais vulneráveis da vida, a maior parte do tempo da criança é no domicílio em companhia da mãe. Assim, o aparelho respiratório dessa criança, ainda imaturo, pode ser agredido pelos contaminantes de maior concentração domiciliar, que incluem agentes biológicos (fungos, bactérias, insetos, pólens, restos celulares), produtos gerados de combustão (dióxido de carbono, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, ozônio e dióxido de enxofre), material particulado (asbestos, poeiras inorgânicas, fibras industrializadas), produtos de uso doméstico (formaldeído, compostos orgânicos voláteis, pesticidas e produtos de aerossóis como hidrocarbonos) e a fumaça do tabaco.
De todos os poluentes detectados no domicílio, a fumaça produzida pela queima do tabaco é o principal agente poluidor e está relacionada com diversas doenças atingindo o fumante e os não fumantes que convivem ao seu redor.
Os fumantes passivos ou involuntários tornam-se susceptíveis às várias alterações orgânicas provocadas pelo fumo. As evidências atuais associam o tabagismo passivo a um risco aumentado de câncer de pulmão, sendo que o nível de atividade carcinogênica, presente na fumaça do tabaco ambiental, excede os níveis de exposição permitida para alguns carcinógenos conhecidos. Outras evidências adicionais foram obtidas a partir de estudos na urina de não fumantes, expostos a fumaça do tabaco no ambiente, que confirmaram a presença de carcinógenos metabolizados.
Portanto, você que não consegue parar de fumar (deve ter os seus motivos): pense bem quando for fumar o próximo cigarro. Assegure-se que não tenha nenhuma criança ao redor, pois você não pode dar o mau exemplo; procure um lugar bem longe de tudo e de todos, você não quer incomodar ninguém com o seu problema (não é mesmo?); procure um lugar seguro para despejar toda a sua sujeira, você é ecologicamente correto, não quer causar incêndios e nem poluir o nosso planeta. Pensando bem, quais são os seus verdadeiros motivos para continuar fumando?
Autor
o autor é professor titular da Faculdade de Ciências Médicas e do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, da Universidade Federal de Mato Grosso. Doutor em Medicina – Pneumologia – pela Escola Paulista de Medicina / UNIFESP, em 1991.
Autor dos livros “Você também pode parar de fumar” (Editora Adeptus) e “A dinâmica psicológica do tabagismo” (Editora Entrelinhas).
Perigo em dose dupla
A Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca o tabagismo como a maior fonte poluidora do planeta, considerando que os componentes existentes na fumaça do cigarro se dispersam na atmosfera poluindo intensamente o ambiente.
E épocas de estiagem, os cigarros atirados nas matas secas provocam incêndios, muitas vezes difíceis de serem controlados, destruindo a flora e a fauna. Acrescente-se a isso, o emprego de grandes quantidades de agrotóxicos na cultura do tabaco, que comprometem ainda mais o meio ambiente, poluindo e provocando intoxicações nos agricultores envolvidos no plantio.
A vulnerabilidade infantil
As complicações das infecções respiratórias agudas (IRA) em crianças são maiores naquelas expostas ao tabagismo passivo domiciliar, cujo grande impacto são as pneumonias em lactentes e pré-escolares.
O risco de doença respiratória aguda associada ao tabagismo materno é maior que o tabagismo paterno, e as crianças até seis meses de idade apresentam risco maior (cerca de três vezes) do que crianças maiores e em idade pré-escolar.
A relação causal é fácil de entender, pois as crianças menores ficam mais tempo dentro do ambiente domiciliar e ao lado da mãe.
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