Enquanto permanece o impasse na definição das regras de uma Política Nacional para o Saneamento, as empresas estaduais e alguns prestadores municipais tomaram a trilha da qualidade e começam a melhorar os serviços de água e esgoto oferecidos à população. Esse processo passa por qualificar seus executivos e técnicos, diminuir as perdas físicas e econômicas de modo a fazer render ao máximo os recursos vindos da tarifa, hoje praticamente a única fonte de sustentabilidade e investimento para as demandas que não param de crescer.
Ao completar sua 9ª edição o Prêmio Nacional da Qualidade em Saneamento (PNQS), a principal realização do Comitê da Qualidade da Associação brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), já contabiliza mais de 2.000 pessoas treinadas e dezenas de unidades de saneamento comprometidas com um desempenho acima do comum para as empresas da área pública.
Como destacou a secretária-executiva do Comitê, a engenheira química Ellen Martha Pritsch, ao falar na cerimônia de premiação, realizada em Porto Alegre, no último dia 22 de novembro o lema da qualidade é que seja possível “aprender com o passado, imaginar um mundo diferente no futuro e modificar as atitudes visando a atingir as metas traçadas”.
Ela lembrou também que todas as unidades distinguidas estão comprometidas com a decisão de serem agentes de transformação. “A excelência não é um feito e sim um hábito”, disse Ellen. Em outro trecho do pronunciamento ressaltou que “se investir em qualidade visando a um melhor desempenho das tarefas é importante para uma empresa torna-se quase sagrado buscar a excelência em uma área tão fundamental como a do saneamento. Ele lida com uma matéria-prima de valor inestimável como a água – o bom ou mau serviço prestado tem relação direta com a manutenção da vida – e a maior beneficiada com a qualidade do atendimento é a população”.
A convicção quanto aos resultados, explicitada nas declarações dos participantes da premiação, é de que a diferença entre ser ou não eficiente na área de saneamento pode significar atender a mais brasileiros com água de qualidade e serviços adequados de esgotamento sanitário ou mais amplamente: salvar mais vidas, levando-se em conta que parte substancial da mortalidade infantil no país está diretamente relacionada com as doenças diarréicas cuja causa principal é a falta de condições adequadas de saneamento.
Outro ponto que ilustra bem a tendência crescente de adesão aos preceitos da qualidade entre os prestadores de serviços de água e esgoto é que há concorrentes na maior parte das empresas de saneamento e muitos dos serviços municipais, de São Paulo ao Espírito Santo, da Bahia ao Rio Grande do Sul. Até agora foram poucas as unidades que conseguiram atingir o estágio dos 500 pontos, entre elas estão algumas da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo) da Sanepar (PR) e da Copasa (MG) além da Cetrel, da Bahia, e Águas de Limeira, concessionária dos serviços de água e esgoto do município paulista que tem o mesmo nome – empresas da área privada. Mas dezenas de pequenas, médias e grandes unidades que atendem de 10 mil a 3 milhões habitantes venceram a primeira barreira alcançando 250 pontos.
A partir de 2003, as candidatas têm que apresentar, em separado, práticas de gestão relacionadas à sociedade e aos clientes. Neste ano também os fundamentos do modelo do PNQS foram realinhados e ganharam três novos itens: inovação, que estimula a criação constante de novas tecnologias e técnicas de gestão; agilidade, que determina a rapidez com que as mudanças são assimiladas pela organização; e visão sistêmica, que preconiza, agora explicitamente, o trato da organização como um sistema.
Protesto e alerta
O clima de festa da entrega dos prêmios não ocultou um protesto e um alerta para as autoridades federais que na visão das lideranças do saneamento presentes em Porto Alegre pretendem impor um retrocesso com uma lei centralizadora e excludente. “Não vamos permitir esse retrocesso” destacou o presidente da ABES, José Aurélio Boranga, deixando claro que a única alternativa é a aprovação de uma lei que não desagregue e nem exclua nenhum segmento.
A maior queixa dos representantes das companhias de saneamento é de que o projeto de lei elaborado pelo governo federal – e em discussão no Congresso – inviabiliza, na prática, a continuidade da atuação das empresas estaduais, hoje responsáveis por mais de 80% do atendimento com água e esgoto do país.
Também o presidente da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe) e presidente da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Vitor Bertini, criticou o PL 5296 dizendo que está mais para “crônica de morte anunciada” do que uma solução para o futuro da saneamento no país.
Mais contundente ainda foi o presidente do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Saneamento e secretário de Obras Públicas e Saneamento do Rio Grande do Sul, Frederico Antunes, ao dizer: “Não permitiremos que o papel das companhias estaduais seja riscado da história do saneamento do país”.
Ele alertou para uma grande mobilização em todos os Estados visando derrotar a proposta do Governo Federal se não houver profundas modificações no que estabelece o PL 5296.
As qualificadas
Nível II: – troféu prata
Unidade de Negócio Sul – SABESP
Nível I:
* Distrito do Rio Verde – COPASA
* Sistema de Abastecimento de Água de Claro dos Poções – COPASA
* Sistema de Abastecimento de Água de Janaúba – COPASA
* Unidade de Saneamento de Cachoeirinha – CORSAN
* Unidade de Saneamento de Dois Irmãos – CORSAN
* Escritório Regional de Feira de Santana – EMBASA
* Unidade de Negócio da Bolandeira – EMBASA
Diplomadas: (*)
* Águas de Cachoeiro S.A. – CITÁGUA
* Pólo de Montanha – CESAN
* Pólo de Piúma – CESAN
* Unidade de Saneamento de Campo Bom – CORSAN
* Unidade de Saneamento de São Lourenço do Sul – CORSAN
* Unidade de Saneamento de Taquara – CORSAN
* Unidade de Saneamento de Vacaria – CORSAN
* Escritório Regional de Irecê – EMBASA
* Unidade de Serviço de Esgoto – SANEPAR
(*) empresas que não atingiram os 250 pontos mas estão próximas
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