Descobertas algas tóxicas no Lago Ypacaraí, no Paraguai

Walberto Caballero Achucarro – ABC Color – Paraguai

O lago Ypacaraí está contaminado de algas tóxicas. Laboratorialmente foi determinada a presença de algas do tipo “microcystis aeruginosa”, que produz uma toxina capaz de afetar o fígado humano. O Governo do Paraguai pediu ao Governo do Japão especialistas para aprofundar a investigação do fenômeno. As esferas oficiais minimizaram irresponsavelmente o tema, a tal ponto de apresentar informes de que o lago contém a água mais pura do planeta.

Quando o ABC Color, com uma equipe jornalística, iniciou a investigação sobre a curiosa formação de espessas espumas nas águas do Lago Ypacaraí, muitos se mostraram céticos, inclusive sustentando que “era normal” o ocorrido. Entretanto, o curioso do caso é que estas espumas se registravam no centro do lago e não justamente na costa, como normalmente ocorre por efeito do vento. Sobrevoando o lago, se pôde observar, nos primeiros dias de junho, a presença de grandes manchas verde-azuladas, sobre as quais se formavam as espumas.

Técnicos do Instituto Nacional de Tecnologia e Normalização (INTN) e da Direção Geral de Saúde Ambiental (DIGESA), vinculada ao Ministério de Saúde Pública do Paraguai, analisaram a qualidade da água e as espumas, a pedido do fiscal ambiental Isacio Cuevas, e determinaram que as condições são ótimas, sem contaminantes. Mas em nenhum momento se referiram às algas tóxicas.

Já o representante residente da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), engenheiro Hiroshi Saito, disse que a instituição que representa doou valiosos equipamentos de laboratório à DIGESA para obter resultados de análises de alta qualidade “tais como a proliferação de provável alga tóxica que está contaminando o Lago Ypacaraí…”.

Estas expressões do representante da JICA foram corroboradas na sala de estudos biológicos da DIGESA onde se analisam biologicamente as algas, confirmando-se a presença no lago do tipo “microcystis aeruginosa”.

O diretor da DIGESA, engenheiro Víctor Giménez, disse que ainda não foi emitido nenhum alerta à espera de uma pesquisa profunda que será feita por uma equipe da JICA, proveniente do Brasil. “Aí saberemos a situação real e se é necessária alguma medida preventiva”, indicou Giménez.

Não obstante, este tipo de alga tóxica foi detectado em janeiro do ano passado no rio da Prata e se sabe que não é eliminada com a potabilização tradicional que se emprega em nosso país, nem muito menos na cidade balneária de San Bernardino.

Hepatotoxinas

O tipo mais comum de intoxicação envolvendo cianobactérias é causado por hepatotoxinas, que podem causar a morte entre poucas horas e poucos dias, em decorrência de hemorragia intra-hepática e choque.

Os sinais observados após ingestão dessas hepatotoxinas são prostração, anorexia, vômitos, dor abdominal e diarréia (Carmichael & Schwartz,1984; Beasley et al., 1989).

As espécies já identificadas como produtoras das hepatotoxinas estão incluídas nos gêneros Microcystis, Anabaena, Nodularia, Oscillatoria, Nostoc e Cylindrospermopsis (Carmichael, 1992). A partir da primeira metade deste século, bioensaios realizados com células de cianobactérias coletadas em florações, principalmente da espécie Microcystis aeruginosa, já mostravam a presença de uma toxina que causava sérios danos ao fígado dos animais testados (Hughes et al., 1958). Estas toxinas são agora reconhecidas como potentes promotores de tumores hepáticos (Falconer,1991; Fujiki,1992; Nishiwaki-Matsuhima et al.,1992) e, portanto, a ocorrência de espécies potencialmente produtoras dessas substâncias nos nossos ambientes aquáticos precisa ser melhor investigada e monitorada.

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