Plinio Tomaz – engenheiro civil.
Um dos grandes problemas para o controle de enchentes é definir a probabilidade das precipitações com que vamos dimensionar as obras de microdrenagem e macrodrenagem.
Os hidrologistas chamam isto de freqüência ou período de retorno.
O período de retorno de 100 anos significa que temos a probabilidade de 1% em um ano de que a obra que dimensionamos não suportará a vazão de projeto.
O dimensionamento de rios e córregos deve ser feitos para período de retorno de 100 anos. Isto foi feito no Japão logo após a 2ª guerra mundial e nos Estados Unidos, em 1976.
No Brasil podemos observar que muitos rios e córregos não foram dimensionados para período de retorno de 100 anos e causam inundações frequentes (culpando São Pedro, que não tem nada a ver com isto).
Nos países mais adiantados quando um lote de terreno é comprado para construir uma casa, e se encontra próximo a um rio ou córrego, a prefeitura fornece ao proprietário um mapa indicando até onde chega a água de inundação devido ao período de retorno de 100 anos: é o mapa da curva dos 100 anos.
Quando você vê que o seu lote está dentro da curva dos 100 anos é obrigatório que se faça o seguro da casa e que atenda a algumas leis municipais que obrigam a que os objetos de valor estejam no andar superior da casa.
Aqui no Brasil é comum as subhabitações de madeira serem construídas perto dos córregos e rios, e o poder público faz construção de alvenaria de tijolos dentro da curva dos 100 anos de inundação.
O aumento do período do retorno não significa o aumento no custo da obra. Assim se tomarmos período de retorno de 100 anos ao invés de 25 anos, o custo da obra aumentará até 50%, com a vantagem de oferecer mais segurança de vidas humanas e bens materiais.
Um outro problema é a enchente localizada, devido às galerias de águas pluviais, ou seja, a microdrenagem e que geralmente está subdimensionada ou não foi objeto de manutenção.
Há muitos anos usava-se em microdrenagem, período de retorno de 2 ou 5 anos e, os mais cautelosos, usavam 10 anos. Várias ruas centrais de São Paulo foram calculadas com período de retorno de 10 anos.
Um novo fenômeno começou a agir nas cidades acima de 100.000 habitantes que é a “Ilha de Calor”. O sol, ao atingir o asfalto e prédios, provoca um aumento da temperatura das cidades em mais de 10ºC em relação aos sítios da periferia. Este aumento da temperatura faz com que a intensidade das chuvas de curta duração: 5 a 15min, aumente consideravelmente. Isto causa problema nos dimensionamentos das calhas, condutores horizontais e verticais e no sistema de microdrenagem. A “Ilha de Calor” é uma mudança climática local e não faz parte das mudanças climáticas gerais que não estamos levando em conta devido às incertezas existentes para o Brasil.
A solução em microdrenagem é usar período de retorno mínimo de 25 anos e, conforme o lugar, onde há hospitais e prédios públicos importantes, o período de retorno poderá ser aumentado até 50 anos.
Um outro problema são os vertedores das pequenas barragens. As barragens são dimensionadas com uma abertura chamada vertedor para o escoamento de grandes chuvas para evitar que a água passe por cima da mesma causando a ruptura do maciço. Conforme a altura da barragem, o comprimento, o volume de água armazenada e o risco da população existente a jusante, são estabelecidos os períodos de retorno que variam de 100 anos a 1.000 anos para as pequenas barragens
No caso de rompimento de uma barragem forma-se uma onda de água de enorme volume, parecida com um tsunami e deverá ser feito mapa até onde a onda de enchente poderá chegar e ser distribuído à comunidade para fuga do local quando avisada pelas autoridades.
Para a quantidade de águas pluviais (macrodrenagem) deverá o projeto ser feito para período de retorno de 100 anos e o mínimo de 25 anos para microdrenagem.
Os problemas da impermeabilização
A impermeabilização dos solos causou um grande impacto nas cidades com aumentos das vazões, diminuição da vazão base dos rios e impactos negativos no ecossistema aquático.
O objetivo dos países desenvolvidos é fazer obras para voltar ao ciclo hidrológico natural, isto é, fazer com que a água se infiltre no solo, compensando assim as áreas impermeabilizadas e que o escoamento superficial seja detido ao nível do pré-desenvolvimento. Embora pareça um sonho, já dispomos de tecnologia adequada para isto como trincheiras de infiltração, bacia de infiltração, reservatórios de detenção estendido e outras técnicas.
A tendência moderna no manejo de águas pluviais é controlar a quantidade de água e a qualidade da água, tendo em vista a melhoria do ecossistema aquático. Salientamos também a importância da melhoria da qualidade das águas pluviais e não só o controle da quantidade.
Outra técnica muito antiga usada pelos chineses, é o reservatório de detenção que detêm as águas pluviais um determinado tempo e depois vão devolvendo a mesma em uma vazão pequena de pré-desenvolvimento, de maneira que não cause enchentes. Estes reservatórios de detenção podem ser feitos dentro de um lote de terreno ou podem ser regionais.
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