
Edgar Werblowsky.
Chegou o momento de dar um basta definitivo. Já faz parte do inconsciente coletivo da humanidade a certeza de que a Amazônia deve permanecer em pé. É claro, transparente e cristalino que nenhuma árvore deve cair mais, sob qual argumento seja.
Nada justifica a perda de qualquer cobertura vegetal adicional para abrir espaço para o aumento da área de cultivo de soja ou pasto para gado. Aos que chamam isso de desenvolvimento, eu acrescentaria um adjetivo: catastrófico. Desenvolvimento catastrófico.
A continuação desse processo, sob a vigilância condescendente da lei, é intolerável.
Basta de políticas e medidas emergenciais.
Basta de controles inoperantes.
Basta de discursos esvaziados.
Basta de esquizofrenia governamental.
A consciência planetária exige, com E maiúsculo, a imediata interrupção do uso das motosserras na Floresta Amazônica.
É inadmissível qualquer tolerância com a destruição, que interessa a alguns, mas que não interessa à humanidade. Por sorte, a Amazônia se encontra no Brasil e nos foi entregue para zelarmos pela Mãe Natureza: cabe a nós a responsabilidade de tomar as atitudes enérgicas, definitivas, para a sua preservação. Gado e soja, só onde as áreas já foram abertas. No restante, devem ser permitidas apenas atividades que conservem a floresta in totum.
Para aqueles que justificam as derrubadas dizendo que a exploração sustentável da floresta ainda é algo não totalmente claro, respondamos: na dúvida, stop. Deixemos essa decisão para as futuras gerações. Não temos o direito de liquidar com esse patrimônio.
Até agora os programas de TV não trouxeram para entrevistas os dirigentes das empresas de agronegócio, de criação extensiva de gado ou grandes madeireiras. Óbvio, pois o negócio deles não é legal (entenda caro leitor, por si próprio, qual ou quais acepções desta palavra aqui cabem). Isto apenas confirma que estas empresas estão em desacordo com a sociedade e com a comunidade global. Papel do governo: repressão dura. Não com medidas paliativas, anúncios espalhafatosos e pouca eficiência. Não é com três fiscais e nenhum veículo em Alta Floresta que vai se resolver o problema.
Enquanto isso a motosserra canta
O desmatamento da Amazônia é tratado pelas autoridades com a mesma leviandade com que é tratada a questão aérea. Indignamo-nos, com toda a razão, quando assistimos ao esfacelar de toda a reputação aérea de que desfrutávamos na década de 70.
E mais: acompanhamos, pasmos, a inação de toda a série de órgãos criados para disciplinar e monitorar a aviação e sua segurança.
Neste caso, ao menos, a população usuária ainda chega a protestar timidamente. E muito timidamente. No caso da Amazônia, nem pia. A não ser por algumas ONGs, a floresta se encontra quase totalmente desapadrinhada.
Movimentos sociais exigindo sua preservação estão ainda na pré-infância. Parece que não caiu a nossa ficha. Enquanto isso a motosserra canta entre araras e uirapurus.
Autor
Edgar Werblowsky é diretor-presidente da Freeway Brasil e vice-diretor do TOI – Tour Operator Initiative for Sustainable Tourism Development – UNESCO – UNEP – UNWTO, comissão de turismo sustentável ligada à ONU.
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