Washington DC, 10 de dezembro de 2008 – Em meio à mais grave crise financeira global em décadas, o Banco Mundial propôs hoje que a comunidade internacional observe a América Latina na busca de soluções inovadoras para evitar uma crise climática.
“Essa abordagem poderia apoiar simultaneamente a recuperação econômica e estimular o crescimento nas áreas que atenuam o impacto das mudanças climáticas. Ao priorizar as atividades com baixa emissão de gás carbono, os governos não apenas evitarão os efeitos perigosos das alterações no clima, como também poderão tornar a região mais competitiva, contribuindo assim para que se recupere de modo mais rápido da atual desaceleração econômica”, afirmou Pamela Cox, Vice-Presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.
Com os preços do petróleo em queda, o Economista-Chefe para a Região da América Latina e do Caribe, Augusto de la Torre, reconhece que “o aumento dos investimentos em tecnologias verdes não será fácil de ser adotado”. No entanto, ele salienta que, “há um crescente apoio das empresas, do governo e da sociedade civil para o conceito de que a própria crise oferece uma oportunidade para que sejam criados incentivos para um desenvolvimento com baixas emissões de carbono”.
Lançado hoje, o relatório “Baixas Emissões de Carbono, Alto Crescimento: A Resposta da América Latina para a Crise [“Low Carbon, High Growth: Latin American Responses to Climate Change”]’ é o mais importante do Banco Mundial sobre a América Latina e o Caribe. O documento analisa como a região está exposta aos impactos das alterações climáticas e o que pode ser feito para evitar seus efeitos de modo unilateral e com os incentivos proporcionados por um acordo global sobre o clima, a ser negociado pelas Nações Unidas em 2009, em Copenhague.
“Muitas das ações necessárias para reduzir as emissões na região e adaptá-las às mudanças climáticas fazem sentido sob o ponto de vista econômico e social – e muitas vezes também sob uma perspectiva financeira – independentemente das preocupações com o clima”, enfatiza o relatório. A adoção de um caminho para o desenvolvimento apoiado em baixas emissões de carbono aumentará a competitividade da região, especialmente se a fronteira tecnológica mundial se deslocar em direção à redução nas emissões.
A região experimentou novas tecnologias e abordagens para reduzir as emissões:
No México, a Estratégia Nacional de Combate às Mudanças Climáticas de 2007 adotou metas não obrigatórias de longo prazo. No setor de energia, a estratégia identifica um potencial de redução das emissões de gases do efeito estufa que totalizará 107 milhões de toneladas em 2014, ou seja, uma diminuição de 21% em relação ao cenário inicial de referência nos próximos seis anos.
O Brasil está se movendo em direção à independência energética através da expansão de fontes de energia alternativas como hidroeletricidade, etanol e biodiesel. A produção de etanol proveniente da cana-de-açúcar é sustentável em termos financeiros e ambientais, além de não afetar o cultivo de alimentos.
As políticas públicas de transporte que protegem o meio ambiente, demonstradas por Curitiba e expandidas em Bogotá, estão sendo implementadas agora em dezenas de cidades da região.
A Costa Rica obteve reconhecimento internacional por seus esforços no sentido de atribuir um valor comercial à preservação dos sistemas ecológicos, por meio de diversas iniciativas de “pagamento por serviços do ecossistema”.
A Argentina está promovendo um avanço com o uso de energia renovável nas áreas rurais, que proporciona um abastecimento de eletricidade confiável a preços acessíveis para as comunidades, influenciando a produtividade e a oferta de emprego.
Apesar dessas inovações, a América Latina vem trilhando um caminho de crescimento com maiores emissões de carbono. Com base nas tendências atuais, no período de 2005 a 2030, a estimativa de aumento da liberação de CO2 per capita na região é de 33% (acima da média mundial de 24%). O estudo conclui que, para manter a América Latina e o Caribe no caminho do alto crescimento com baixas emissões de carbono será necessário aplicar uma estratégia coerente em três níveis:
Uma arquitetura internacional de combate às mudanças climáticas que crie estímulos suficientes e esteja adaptada às características específicas da América Latina, compreendendo: claros incentivos financeiros para redução do desmatamento; expansão dos mecanismos de comércio de carbono para os setores; mobilização de fluxos financeiros para a América Latina, com o objetivo de facilitar a implementação de “tecnologias verdes”; e criação de um mercado global para biocombustíveis produzidos de modo sustentável, eliminando tarifas e outras barreiras.
Políticas domésticas para adaptação aos inevitáveis efeitos da mudança climática sobre as sociedades e os ecossistemas da região, que incorporem as ameaças relacionadas ao clima no planejamento de investimentos de longo prazo em infra-estrutura, aperfeiçoem o monitoramento e as previsões meteorológicas, ampliem as redes de proteção social de forma a permitir que as famílias enfrentem melhor os choques climáticos e aprimorem o funcionamento dos mercados financeiros, de terras e de água.
Políticas nacionais para explorar as oportunidades de atenuação com o objetivo de integrar a América Latina às soluções para combater a mudança climática. Muitas das ações necessárias para essa atenuação constituem também políticas de desenvolvimento adequadas. Por exemplo, o aumento da eficiência energética contribui com freqüência para a economia de dinheiro; a redução do desmatamento produz benefícios sociais e ambientais; a melhoria do transporte público pode diminuir os congestionamentos de tráfego e reduzir a poluição local com impactos sobre a saúde, a produtividade e o bem-estar social; e a expansão de energia renovável fora da rede pode ajudar a conectar as populações rurais que não têm acesso à eletricidade.
“Se a região fizer grandes progressos, poderá se beneficiar dos mecanismos internacionais de compartilhamento de custos para a implementação de tecnologias com baixa emissão de carbono e a criação de novas vantagens comparativas”, afirmou Pablo Fajnzylber.
O relatório enfatiza que uma adaptação adequada às mudanças climáticas constitui uma parte indispensável das boas políticas de desenvolvimento, e que é necessária a ação de todos os países.
“A América Latina demonstrou um firme comprometimento com o combate aos efeitos da mudança climática além dos ciclos políticos. Agora chegou o momento em que a região pode atuar como líder entre as nações em desenvolvimento na articulação de soluções globais construtivas. Se os governos tomarem decisões corretas no curto prazo, estas poderão representar um avanço significativo em direção a uma economia de mercado mais sustentável”, concluiu John Nash.
Principais dados
Segundo o relatório, a região da América Latina e o Caribe, que abriga a maior biodiversidade no planeta, possui recursos e a liderança capazes de torná-la parte da solução global para mover o mundo em direção a um caminho que priorize baixas emissões de carbono.
“A região está sofrendo o impacto da mudança climática; contudo, não é a principal fonte de emissões causadoras do aquecimento global, graças à sua matriz energética limpa e às políticas inovadoras para promover o crescimento apoiado em baixas emissões de gás carbono.
A América Latina produz apenas cerca de 6% das emissões mundiais de gases causadores efeito estufa relacionadas ao abastecimento de energia ou 12% do volume total emitido por todas as fontes, incluindo o desmatamento e a agricultura, afirma o relatório, escrito pelos economistas do Banco Mundial Pablo Fajnzylber e John Nash, e pelo Economista-Chefe para a Região da América Latina e do Caribe, Augusto de la Torre.
Esta é a primeira vez que a mudança climática é o principal tema de pesquisa da mais importante publicação anual do Banco Mundial sobre a América Latina e Caribe.
Entre os dez países do mundo com maior biodiversidade, cinco estão na América Latina: Brasil, Colômbia, Equador, México e Peru, que se situam também entre as 15 nações cuja fauna está mais ameaçada de extinção.
De acordo com o relatório, os países latino-americanos e seus cidadãos – especialmente aqueles que vivem em pobreza extrema – são altamente vulneráveis aos efeitos da mudança climática. A participação dos países em desenvolvimento deve se basear na compreensão de que as nações industrializadas “têm uma responsabilidade histórica pela existência das concentrações de gases do efeito estufa que causam as alterações no clima”. Portanto, o compromisso da América Latina deveria se basear na idéia de que uma melhor gestão ambiental pode caminhar lado a lado com o crescimento econômico.
Impactos previstos
Alguns impactos importantes da mudança climática na América Latina e no Caribe:
Em 2100, a produtividade agrícola na América do Sul poderá sofrer uma queda de 12% a 50%. No México, de 30% a 85% das fazendas poderão se deparar com uma falta total de produtividade econômica em 2100.
Os desastres naturais relacionados ao clima (tempestades, secas e enchentes) custam, em média, 0,6% do PIB nos países afetados. Os danos causados por furacões aumentarão de 10% a 26% para cada ½ oC de aquecimento do mar.
Muitas geleiras andinas desaparecerão nos próximos 20 anos, colocando 77 milhões de pessoas diante de uma grave escassez de água em 2020.
Os corais do Caribe vão perder a cor e morrer. Desde os anos 1980, 30% dos corais já morreram e todos poderão desaparecer em 2060.
Aumento do risco de epidemias de dengue, malária e doenças infecciosas em algumas áreas.
A Floresta Amazônica poderá sofrer uma redução de 20% a 80%, se as temperaturas aumentarem entre 2 e 3o C. São esperadas grandes perdas de biodiversidade no México, na Argentina, na Bolívia, no Chile e no Brasil.
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