José Roberto Castilho Piqueira
Ao assistir as competições finais dos Jogos Olímpicos de Pequim, fico me perguntando sobre as modalidades em que gostaria de ver o Brasil ganhar medalhas de ouro. Depois de pensar em diversos esportes (futebol, basquete, natação, voleibol, atletismo), concluo que prefiro o ouro em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Aproveito para iniciar uma pequena reflexão sobre quais seriam os grandes problemas que nós, engenheiros, em conjunto com físicos, químicos, matemáticos e biólogos, temos que enfrentar no século XXI. O primeiro que me ocorre é o bom uso da energia, fator essencial para a vida em qualquer nível de organização biológica.
Há forte correlação entre o IDH de um país e seu consumo de energia per capita. Alimentos, em quantidade e qualidade, requerem sofisticados processos produtivos, de alto gasto energético. Escolas bem aparelhadas gastam energia com equipamentos e com a operação de suas salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Hospitais eficientes têm instrumentação para clínica e cirurgia de alta complexidade, também com grande consumo energético.
Aparece, então, o primeiro problema de engenharia. Garantir produção e distribuição de energia com diversidade e com volume compatível com o aumento diário da população do planeta.
O primeiro problema gera o segundo. O planeta é fonte da energia necessária para a manutenção da vida e também o depósito dos rejeitos dos diversos processos. O segundo princípio da Termodinâmica diz que não há máquina com rendimento 100% e não há congresso, câmara, ministro ou presidente capaz de revogá-lo.
É do conhecimento geral que, hoje, os países ricos consomem energia de melhor qualidade e em maior quantidade que os pobres. Para estes, sobra o papel de receptor de gases de efeito estufa, como se fossem fumantes passivos, obrigados a aspirar a fumaça da prepotência.
Além da poluição gerada pela transformação e pelo uso de energia, há a poluição por resíduos de processos industriais que são tratados de maneiras diversas, de acordo com legislações locais dos países. Países desenvolvidos têm transferido sistematicamente suas indústrias poluentes para locais com legislação mais leniente e de mão-de-obra mais barata, aumentando o contraste de qualidade de vida observado, de povo para povo.
Meu sonho é que, na Olimpíada de 2012 haja uma competição de IDH, com empate entre todos os países, com máximo escore.
O papel de Engenharia
Para um profissional de Engenharia, tudo parece cômodo. Temos muito trabalho e problemas importantes para resolver. Isso garante nosso mercado, permitindo atuação em questões interessantes e intelectualmente desafiadoras.
Mas algo nos incomoda: a resolução dos problemas de energia, água e meio ambiente servirá a quem? Será um vetor da democratização da qualidade de vida? A América Latina e a África Subsaariana estão incluídas? Dentro dos diversos países, o acesso aos bens públicos será democrático ou continuará sendo bem de consumo? Parece, então, que, ainda mais difícil do que os nossos, é o problema que as Ciências Políticas e o Direito terão que resolver: a democratização da qualidade de vida.
Autor
José Roberto Castilho Piqueira é professor titular da EPUSP.
Leave a Reply