Serragem ajuda a despoluir rios

Oliveira: “Os resíduos geram um alto custo para as grandes indústrias, que não têm o que fazer com eles e os armazenam em galpões”.

Um estudo conduzido no Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que é possível reduzir a quantidade de lixo industrial nos rios de uma forma simples e com um material de baixo custo, a serragem. Durante a pesquisa, o produto levou o percentual de metais pesados, liberados por duas empresas, aos níveis aceitáveis pela legislação.

No primeiro caso, a serragem da madeira fez com que os 2,7 miligramas de chumbo por litro liberados por uma fábrica de baterias para carros, situada no Distrito Federal, caíssem para 0,4 mg/L. O chumbo integra a composição das placas das baterias, mas também é comum nos setores de tintas, automotivos e ferragens.

Na outra situação analisada, referente a uma linha de produção de couro no Rio Grande do Sul, os dados também foram animadores. De 2,11 mg/L a concentração de cromo passou para 0,5 mg/L. A substância é empregada com o objetivo de dar ao couro o aspecto mais vistoso, uma vez que, na forma natural, sua coloração é esbranquiçada.

O resultado foi comemorado pelo autor do estudo, o químico Augusto Hosanna de Oliveira. “Conseguimos obter a extração de metais pesados com algo novo”, diz. Nas duas situações, o percentual ficou abaixo dos 0,5 mg/L estipulados pela portaria 357/05 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama/MMA).

A preocupação com o controle na emissão dos subprodutos dessas empresas é fundamental, pois tanto o chumbo quanto o cromo são extremamente danosos ao meio ambiente e à saúde, além de não se degradarem com o passar dos anos. “Ambos são cumulativos no organismo. O principal problema causado por eles é o câncer, e o chumbo é ainda pior porque atua no sistema nervoso central”, explica o professor Alexandre Prado, que orientou o trabalho.

A pesquisa foi realizada com resíduos de três tipos de madeiras, a maçaranduba, o ipê e o pequiá, provenientes de cargas apreendidas na Amazônia e doadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que propôs o estudo.

Prado explica que o produto florestal funcionou por ser rico em compostos que interagem facilmente com metais, como é o caso do tanino, cuja função nas plantas é atuar como defesa química contra animais, insetos e organismos patogênicos. Isso lhe confere a capacidade de agir como uma esponja e, assim, “capturar” os subprodutos lançados no ambiente.

Esse, no entanto, não é o único benefício do uso da serragem. É possível, ainda, reaproveitar o material seco, já impregnado do chumbo e do cromo, na fabricação de placas de MDF em móveis, por exemplo. Embora os metais sejam tóxicos na fase líquida, perdem essa propriedade em fase sólida.

Segundo Oliveira, a estratégia elimina um dos problemas enfrentados pelas fábricas atualmente, que é dar destinação ao lixo industrial, também conhecido como passivo ambiental. “Os resíduos geram um alto custo para as grandes indústrias, que não têm o que fazer com eles e os armazenam em galpões”, diz.

As exceções ficam por conta de grupos empresariais que conseguem reaproveitar o resíduo de um empreendimento em outro, como ocorre com uma indústria de alumínio de grande porte instalada no Brasil, que reutiliza os subprodutos na fabricação de cimento.

Daqui em diante, Oliveira e Prado esperam reproduzir o experimento em escala maior, ou seja, no ambiente onde funciona uma empresa. Mas até que a tecnologia esteja disponível no mercado, será preciso a atuação de engenheiros na criação de equipamentos e estruturas, tais como filtros ou tanques que insiram a serragem no processo.

As perspectivas são boas, pois o uso da serragem reduziria os custos de filtragem dos poluentes lançados na natureza e poderia estimular um maior cuidado ambiental. Muitas empresas não adotam os procedimentos de limpeza por serem caros. Chegam a US$ 1 para cada 9 mg de resíduo. “É preciso operacionalizar o sistema para calcular os custos”, afirma o professor. “Mas com certeza seria muito mais barato por causa do material empregado.”

A pesquisa teve apoio da Universidade Católica de Brasília (UCB), que cedeu a infra-estrutura do Laboratório de Espectroscopia Atômica para as análises mais detalhadas.

Fabiana Vasconcellos – Secretaria de Comunicação da UnB.

Fotos: Rodrigo Dalcin/UnB Agência.

Os pesquisadores

Foto: Rodrigo Dalcin/UnB Agência.

Augusto Hosanna Assis de Oliveira é mestre em Química pela Universidade de Brasília (UnB). Graduou-se em Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB).

Alexandre Gustavo Soares do Prado leciona no Instituto de Química (IQ) da UnB. É doutor em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), mesma instituição pela qual se graduou em Química.

Contato:

Augusto Hosanna Assis de Oliveira pelo e-mail:

voador33@hotmail.com.

Alexandre Gustavo Soares do Prado pelo e-mail:

agspradus@gmail.com.

Serragem também pode produzir adubo

Agricultores familiares do município de Nova Santa Helena (MT) estão transformando um problema ambiental em produto orgânico e em renda com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Desde 2006, a Cooperativa de Agricultores Familiares do Território Rural de Alta Floresta (Coopafam) aproveita o lixo de serrarias da região para produzir adubo orgânico para outras associações de agricultores familiares e para iniciativas de reflorestamento em cidades e assentamentos.

A serragem é o principal resíduo gerado pelo corte e beneficiamento de madeira e é considerado um grave problema ambiental no Norte do Mato Grosso, devido à sua composição química. Por levar cerca de 10 anos para se decompor ao ar livre, ela não pode ser jogada no meio ambiente, em sua forma bruta, pelas serrarias. Com isso, há toneladas de restos de madeira em galpões na região.

Foi em meados de 2005 que os agricultores familiares enxergaram oportunidade onde havia problema, conta o presidente da Coopafam, Luiz Gonzaga Ferreira da Silva. “Durante as reuniões do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Território Rural Portal do Amazonas, propusemos a criação de uma usina de compostagem para produzir adubo orgânico com os resíduos das serrarias.

A cooperativa foi fundada em 12 de maio de 2006, com 97% de agricultores familiares entre os seus integrantes. Em 5 de outubro do ano passado, a usina de compostagem foi inaugurada, com investimento de R$ 97,6 mil do MDA – através de recursos do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (Pronat). Foram R$ 9,7 mil de contrapartida da prefeitura.

Também secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município, Silva ressalta que todos os produtos usados na fabricação são naturais e explica como funciona o beneficiamento. “Em contato com o fosfato e a cama de frango (resíduos de aviários), a serragem reage, fermenta e se transforma no adubo orgânico. Com a presença dos biocatalizadores, que são bactérias decompositoras naturais, o que demoraria 10 anos para poder ser aproveitado está pronto para uso em 72 horas”, explica.

Há oito meses em atividade, a usina transforma o que seria lixo em renda mensal para agricultores familiares. Gonzaga destaca que o adubo orgânico é comercializado por R$ 220,00 a tonelada. Ele frisa que o preço é quatro vezes menor que o equivalente industrial.

“O adubo químico custa R$ 750,00 em média, para o produtor da região. Mesmo com um rendimento um pouco menor, o orgânico compensa porque permanece mais tempo no solo. A absorção chega a 90% e ele melhora a qualidade do solo a médio e longo prazo”.

Hoje a Coopafam produz 20 toneladas por dia de adubo orgânico. Silva destaca que o objetivo da cooperativa agora é ampliar a produção e agregar valor. “Podemos produzir até 40 toneladas por dia se ampliarmos o funcionamento da usina para dois turnos.

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