Urbanistas dão receitas para a Porto Alegre do futuro.

Borja: população deve ter acesso à orla.

Cecy Oliveira.

Foto: Ramon Nunes – Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Os urbanistas Jaime Lerner, Jodi Borja e Charles Duff fecharam em grande estilo o Fórum de Debates Porto Alegre – uma Visão de Futuro, promovido pela Câmara de Vereadores da capital gaúcha. Os exemplos de Curitiba, Barcelona (ES) e Baltimore (EUA) serviram de pano de fundo para as receitas sobre como planejar o futuro de Porto Alegre (RS). Como ponto emcomum os especialistas condenaram o abandono das zonas centrais das cidades e o uso e valorização excessiva dos automóveis em detrimento do bem-estar dos cidadãos.

Jaime Lerner, que foi prefeito de Curtiba e governador do Paraná, destacou os aspectos relacionados às novas formas de circulação que privilegiam o transporte coletivo (como os ônibus articulados e as paradas em formato de tubo) e se assemelham a um metrô de superfície. Ele foi veemente na condenação ao uso dos automóveis que chamou de transporte egoísta. Disse que o principal ingrediente em projeto de revitalização de uma cidade é identificar os sonhos de sua população.

Os outros dois urbanistas – o catalão Jodi Borja e o norte-americano Charles Duff – também deram ênfase à revitalização das zonas centrais especialmente quando existem componentes amados pela população como o mar, rios ou lagos. No caso de Porto Alegre Duff desafiou os participantes do evento (entre os quais estavam os candidatos a prefeito e vereadores da capital gaúcha) a se mobilizarem para a recuperação da zona central. Hoje o centro de Porto Alegre está tomado de camelôs irregulares e traficantes inviabilizando atividades culturais, especialmente à noite. Ele destacou a beleza do Lago Guaíba e seu pôr-do-sol e criticou a mantutenção do Muro da Mauá que separou a cidade do lago.

Duff é presidente da organização sem fins lucrativos Jubilee Baltimore que, ao longo de duas décadas, construiu mais de 200 edifícios nos bairros históricos de Baltimore – maior cidade do Estado americano de Maryland e que, segundo ele, tem bastante semelhança com Porto Alegre. “Se nós fizemos vocês também podem fazer”, declarou.

O arquiteto estado-unidense disse que a melhoria das condições de vida da população se reflete em uma desenfreada aquisição de automóveis sem importar se as cidades estão preparadas para suportar essa carga. Ele deu vários exemplos de cidades norte-americanos que perderam população por causa da falta de condições de abrigar os automóveis. “As zonas centrais se esvaziaram e as periferias incharam” disse. Muitas destas cidades, como a própria Baltimore e Chicago empreenderam verdadeiros mutirões para revitalizar suas zonas centrais e as orlas tornando-as locais agradáveis para morar e passear. “Porto Alegre tem belos prédios históricos que deveriam estar cheios de atrações para que a população tenha condições de usufruir esses cenários fantásticos. Mas é preciso que seus habitantes possam caminhar tranquilamente pela orla e pelo centro”, afirmou.

Dedo nas feridas

Pelos menos em termos de diagnóstico alguns dos pontos nevrálgicos de Porto Alegre e da maioria das cidades latino-americanos foram bem identificados na Carta de Porto Alegre.

Entre eles, destacam-se os seguintes trechos:

“Como exemplos notórios da falta de clareza com que temos convivido com nossos problemas releva mencionar pelo menos os seguintes:

a) com relação a nossos bairros, temos sido levados por uma dinâmica desconhecida e opaca, que a uns torna decadentes, a outros promove, a outros usa e exaure, a outros marginaliza e esquece;

b) com relação aos impactos da retomada do desenvolvimento econômico sobre a infra-estrutura viária da cidade e sobre o sistema de gestão do tráfego, assim como sobre as novas necessidades de transporte coletivo que daí decorrem, temos idéias ao mesmo tempo divergentes e vagas, sendo evidente que nos falta uma visão clara e consensualizada de como equacionar os problemas da mobilidade urbana num horizonte de médio e longo prazo;

c) nas áreas mais conhecidas da habitação e do saneamento básico, a despeito dos significativos esforços que vêm sendo feitos nos últimos anos em ações de reurbanização de áreas faveladas e em investimentos na infra-estrutura de drenagem e saneamento, é muito evidente que também nos faltam uma visão integrada e uma estratégia verdadeiramente estruturada sobre o modo de superar os difíceis problemas com que ainda nos vemos a braços, sem falar das deficiências notórias dos serviços de coleta e reciclagem do lixo;

d) sobre o desenvolvimento econômico, adivinhamos, é certo, que poderíamos nos tornar um pólo de indústria e serviços de alta tecnologia, assim como nos damos conta que temos uma vocação e um potencial para o turismo, especialmente o de eventos, que pode e deve ser muito melhor aproveitado; mas mesmo aí, e independentemente da orientação política dos governos, nos tem faltado tanto presteza e precisão na avaliação das oportunidades, quanto clareza com relação a estratégias e instrumentos de fomento;

e) com relação à estética urbana, temos tido dificuldade até mesmo para compreender que um ativo essencial e decisivo da qualidade de vida nas cidades e do bem-estar dos cidadãos depende de que se construa um ambiente urbano verdadeiramente aprazível; um ambiente no qual os valores e vantagens que a natureza proporciona e os ativos que o patrimônio urbanístico e arquitetônico acumula sejam combinados com uma visão clara e crítica dos valores estéticos a serem promovidos na trajetória que leva a cidade a seu futuro: aos novos desenhos e às novas paisagens urbanas;

f) por fim, com relação à questão da crescente insegurança que tem gravemente desfigurado os padrões históricos da vida urbana, induzindo condutas defensivas e quase paranóicas, assim como a gestação de uma odiosa, ainda que incontornável, “arquitetura de segurança” feita toda de muros, grades, cercas elétricas e guaritas é mais do que óbvia a necessidade de que se compreenda que a insegurança das cidades é um mal maior no Brasil contemporâneo e que Porto Alegre, infelizmente, não é exceção neste quadro horrível e insuportável, de modo que precisamos assumir como um desafio prioritário da gestão municipal um adequado equacionamento das questões de segurança.

Aprender com a experiência

Jodi Borja destacou um fato positivo e outro negativo por Barcelona ter sediado um a olimpíada e um Fórum Mundial. A primeira deu condições para a adoção de grandes intervenções urbanísticas deixando um patrimônio representado pela Vila Olímpica. O mesmo não aconteceu com as medidas adotadas para o Fórum de 2004 que em sua opinião criaram zonas segregadas. Neste ponto ele disse que se Porto Alegre souber tirar proveito do que for feito para sediar jogos da Copa do Mundo de 2012 pode ser beneficiada. Mas a população tem que participar das decisões, alertou. “A mistura da ignorância do poder político com os interesses do poder econômico geram maus resultados e arrogância arquitetônica”, afirmou, citando obras realizadas sem qualquer critério técnico

Borja aconselhou a revitalização da zona do cais de Porto Alegre para que não funcione como um muro que impede o contato da população com o Lago. “Esta zona tem que ter cheiro de água”, disse.

Os três foram unânimes em afirmar que muitas medidas saneadoras não necessitam de grandes somas em dinheiro. Muitas vez basta “limpar o trânsito” em uma determinada região. “Nenhum administrador precisa construir um enorme parque. Basta apenas começar”, disseram.

Carta de Porto Alegre

A Câmara Municipal de Porto Alegre lançou a carta “Porto Alegre: uma visão de futuro”, com os resultados colhidos no Fórum iniciado em maio e encerrado no dia 22 de julho. A carta, lida pelo presidente do Legislativo municipal, vereador Sebastião Melo (PMDB), explica os motivos que levaram a Câmara a propor a realização do Fórum e aponta caminhos para soluções dos principais problemas enfrentados pela Capital gaúcha em temas como mobilidade urbana, desenvolvimento urbano, urbanismo sustentável e estética urbana.

A carta propõe ainda a criação do Instituto de Altos Estudos e Planejamento Urbano de Porto Alegre. O documento é dirigido à sociedade em geral e, em especial, aos candidatos a prefeito de Porto Alegre no pleito de 2008.

As principais sugestões da carta são as seguintes:

1 – A Câmara deve considerar o projeto Porto Alegre: uma visão de futuro não simplesmente como uma iniciativa pontual mas como um instrumento a ser recorrentemente utilizado por futuros vereadores para qualificar o exercício de seus mandatos.

2 – Os grandes órgãos de formação da opinião pública precisam perceber que a problemática da cidade não vem tendo a atenção devida e que é fundamental que o desenvolvimento de Porto Alegre seja considerado como uma prioridade editorial, inclusive com a criação de editorias de desenvolvimento urbano.

3 – As instituições de ensino superior devem manter e ampliar os programas de pesquisa com foco nas diferentes dimensões da vida da Capital e da Região Metropolitana, a fim de que se possa contar com os subsídios aprofundados e objetivos que somente a melhor pesquisa acadêmica pode fornecer.

4 – É necessário criar um Instituto de Altos Estudos e Planejamento Urbano, uma instituição encarregada de pensar a cidade em um horizonte de longo prazo, que integre em suas atividades a consideração da problemática urbana em todas as dimensões.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Congresso sobre Aquífero Guarani

Estão abertas as inscrições para o II Congresso Aqüífero Guarani, que será realizado em Ribeirão Preto (SP) entre os dias 4 e 7 de novembro. As inscrições são gratuitas e vão até o dia 15 de outubro.

Os interessados em apresentar trabalhos para as sessões do congresso devem se inscrever até o dia 30 de setembro. No encontro de Ribeirão Preto, os inscritos poderão participar de discussões sobre “O Aqüífero e o Cidadão” e também trocar “Experiências de gestão de aqüíferos transfronteiriços”.

Fonte: MMA.

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