Os riscos do lixo eletrônico

Cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico derivado de computadores, celulares, eletroeletrônicos e eletrodomésticos são produzidos anualmente no mundo, segundo o grupo ambientalista Greenpeace. O Brasil segue essa tendência, e as pessoas cada vez mais diminuem o intervalo entre a compra de um desses produtos e sua substituição. Para a troca de celulares, por exemplo, estima-se que os consumidores levem menos de dois anos – são mais de 102 milhões de aparelhos em uso no país. Já para os computadores domésticos são substituídos em um prazo médio de cinco anos.

Todos esses equipamentos possuem metais pesados que, ao serem lançados no meio ambiente, podem contaminar o solo. Mas a poluição ambiental não é o único problema causado pelas sucatas eletrônicas. Para a professora do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB) Denise Imbroisi, o descarte descontrolado desses materiais compromete um patrimônio precioso do planeta. “Os metais são um recurso nobre e escasso da natureza. Já que as novas gerações vão precisar deles, não faz sentido jogá-los no lixo”, defende.

Como estratégia para solução do problema, a professora propõe a adoção de quatro Rs: redução, reutilização, reciclagem e recuperação energética. O primeiro implica mudanças de hábitos de consumo. O indivíduo deve ter consciência de que a troca de seu aparelho resulta em prejuízos para o planeta e, por isso, deve pagar mais em relação ao equipamento. Reutilizar implica aproveitar elementos descartados na produção de novos aparelhos. Já a recuperação energética é a utilização do calor proveniente da queima de material plástico para gerar energia.

Colocar em prática os quatro Rs, no entanto, não é nada fácil. Elas exigem mudanças de atitude que nem sempre a população está disposta a seguir. Somente a separação do lixo para reciclagem exige que o cidadão comum e as prefeituras gastem um pouco mais. “Em casa, o indivíduo vai precisar de pelo menos duas lixeiras para separar o material. Já os caminhões que fazem a coleta seletiva precisam ser diferentes para plásticos, vidros, latas etc.”, afirma Guaritá.

Segundo Denise, uma legislação específica sobre lixo eletrônico pode ajudar. A política mais avançada a esse respeito é da União Européia e estabelece metas de reuso e reciclagem. Uma das iniciativas é fazer com que os equipamentos eletrônicos passem a ser projetados de modo a serem reaproveitados.

No Brasil, a lei nº 9605/98, que trata de crimes ambientais, estabelece punições para quem causar poluição com danos à saúde humana, mortalidade de animais ou destruição significativa da flora. Também tramita no Congresso o PL 203/91, que trata da política nacional de resíduos.

Efeitos dos metais tóxicos

presentes em pilhas, baterias e eletrônicos

Substância Tipo de contaminaçãoEfeitoMercúriotoque e inalaçãoProblemas de estômago, distúrbios renais e neurológicos, alterações genéticas e no metabolismoCádmiotoque e inalaçãoAgente cancerígeno, afeta o sistema nervoso, provoca dores reumáticas, distúrbios metabólicos e problemas pulmonaresZincoinalaçãoProvoca vômitos, diarréias e problemas pulmonaresManganêsinalaçãoAnemia, dores abdominais, vômito, seborréia, impotência, tremor nas mãos e perturbações emocionaisCloreto de amôniainalaçãoAcumula-se no organismo e provoca asfixiaChumbotoque e inalaçãoIrritabilidade, tremores musculares, lentidão de raciocínio, alucinação, insônia e hiperatividade

Reciclagem

O químico Antônio Guaritá, do Laboratório de Química Analítica Ambiental da UnB, explica que o processo de reciclagem é complexo. É preciso que o lixo seja separado dentro de casa, que a coleta do caminhão mantenha essa separação e que o material chegue às usinas de tratamento. Lá, os rejeitos são selecionados novamente, e parte do que é aproveitável é revendido. Aquilo que não pode ser reutilizado vai para um aterro especial, próprio para armazenar resíduos perigosos.

No lixo comum, os eletrônicos entram em decomposição e as substâncias químicas presentes neles penetram no solo, podendo entrar em contato com lençóis freáticos e contaminar plantas e animais por meio da água. Como os últimos fazem parte da nossa alimentação, é grande a probabilidade de os metais irem parar na nossa comida e, conseqüentemente, no nosso organismo.

Mercúrio, cádmio, arsênio, cobre, chumbo, níquel e alumínio são alguns elementos químicos encontrados no lixo eletrônico. Todos eles apresentam algum grau de toxicidade quando entram em interação com o corpo humano. E os efeitos são os mais diversos. “Vão desde a simples dor de cabeça e vômito até complicações mais sérias, como comprometimento do sistema nervoso e surgimento de cânceres”, explica o químico da UnB. “No passado, o arsênio era usado como veneno para matar imperadores”, lembra.

Pilhas e baterias

A resolução nº 257/1999 do Conselho Nacional do Meio Ambiente permite que pilhas comuns e alcalinas – aquelas usadas em rádios, controles-remotos e walkmans, por exemplo – sejam descartadas no lixo doméstico. Já as baterias de celular e de automóveis devem ser devolvidas aos fabricantes, responsáveis pela destinação final. O país produz anualmente quase 1 bilhão de pilhas e aproximadamente 20 milhões de baterias de celular.

Para a representante do Brasil no Programa de Avaliação Global do Mercúrio e seus Componentes da Organização das Nações Unidas (ONU) e professora da UnB, Taís Pitta Cotta, essa quantidade é excessiva. “O Brasil deveria investir mais em reciclagem. Se todo esse lixo continuar crescendo constantemente, teremos, futuramente, um desastre ambiental difícil de ser revertido”, afirma.

UnB quer diminuir uso de copos plásticos

Mais de 2 mil canecas foram distribuídas para os estudantes da Universidade de Brasília, até quinta-feira, 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. A sustentabilidade faz parte da campanha Sou UnB, Jogo limpo: digo não ao copo descartável!, do Núcleo da Agenda Ambiental da UnB, em parceria com o projeto Tome Consciência, também da universidade. A proposta é reduzir o uso de copos plásticos descartáveis no restaurante, que chega a 176 mil unidades por mês.

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