Lucio Martins Rodrigues
Abro o jornal e vejo uma propaganda sobre um banco que se diz muito sustentável. Vejo na TV uma propaganda de cartão de crédito muito humana. Mas quando vejo meus extratos, deparo-me com a dura realidade das taxas de juros cobradas no Brasil em empréstimos pessoais, cheques especiais e cartões de credito. Vem-me então à mente o panorama dos bancos brasileiros e multinacionais atuando em nosso país e dessa situação mais que intolerável. Quase sinto raiva, mas na verdade minha indignação pode ser traduzida de outra forma, afirmando que jamais seria acionista de um banco atuando como um Robin Hood invertido, em vez de um grande herói, na verdade um grande vilão, tirando dos pobres para dar mais aos ricos, os seus acionistas, executivos e conselheiros.
Sinto-me de verdade envergonhado em precisar ser cliente de um vilão desses, uma vez que não há mais qualquer desculpa admissível para tal atitude, nem mesmo nosso governo. A inflação está sob controle, o PIB cresce apesar da burocracia infernal e da falta de infra-estrutura adequada, a SELIC baixou quase 50% nos últimos dois anos, o dólar baixou 50% nos últimos quatro anos, os empréstimos garantidos também baixaram, mas os juros de empréstimos pessoais e cartões de crédito continuam os mais altos do mundo e os bancos não se envergonham de ganhar dinheiro assim, aproveitando-se de uma parcela ignorante ou inábil da população que acaba tendo que pagar de R$100 a R$1.000 mensais de juros num momento de aperto que qualquer um pode passar sem aviso prévio.
Se houvessem dificuldades de crédito como no passado, se não houvesse um Serasa e um SPC eficientes como são hoje, se a Prime rate ou a Libor fossem dez vezes mais altas, se houvesse grande instabilidade ou depressão mundial, poderíamos tentar encontrar justificativas para que os bancos cobrassem taxas exorbitantes, mas caiamos na realidade, algumas dessas empresas estão hoje entre as mais lucrativas das Américas senão do planeta, considerando-se muito sustentáveis (com belos discursos e boa verba de marketing) ainda por cima…Sustentabilidade não é regida pela lei de mercado, da oferta e da procura, mas poderia, quem sabe, ser inversamente. Os juros de cartão têm que cair para o patamar de 50%; os juros de empréstimos pessoais e de cheques especiais têm que cair para a casa de 35%; e eu apostaria que o primeiro banco que fizesse uma grande campanha nesse sentido, exaltando verdadeira sustentabilidade em suas ações, poderia ganhar um número tal de novos e leais clientes em um ano, que, em longo prazo, poderia ser determinante ao seu sucesso, sua saúde e longevidade!
Só posso concluir que deve existir muito lobby em Brasília, muito ‘bla bla bla’ e conversa fiada entre os empresários e executivos do setor, muita justificativa sem justa causa, muito dinheiro sendo ganho espertamente, senão desonestamente, muita troca de favores regada pelo terrível jeitinho brasileiro… É triste ver que o povo continua aceitando mais esse vilão, não somente precisando dele, mas ainda agradecendo a ele por existir e lhe prestar serviços remuneradíssimos, sem perceber sua real natureza. E que esse vilão continua preocupando-se com o curto prazo, sem inserir ações realmente sustentáveis em sua estratégia corporativa, aproveitando-se do pobre cidadão brasileiro, o que é mais triste ainda.
É sim questão de tempo, mas poderia também ser questão de conscientização dessa parte da população, de pressões políticas diversas, quem sabe surja aí um deputado sustentável com um projeto de lei proibindo esse Nibor Dooh de continuar atuando no Brasil já em 2008. Tomara que isso aconteça, somente assim poderei ter paz de espírito para deixar meu dinheiro aplicado ou investido nessas instituições financeiras, que deveriam parar já de alardear o termo Sustentável em suas propagandas enganosas. Afinal, estamos todos cada vez mais conscientes do que significa ser sustentável, graças a Deus.
Curto e longo prazo
Sustentabilidade pode significar em última análise tomar conta da nossa saúde e da dos nossos stakeholders para ter longevidade. Pensar em curto prazo foi uma saída desesperada do empresariado brasileiro, herança da inflação, da ditadura militar e de muitos outros problemas internos que ainda afetam o Brasil.
No momento, os brasileiros estão cada vez mais alcançando patamares de prosperidade reservados ao mundo desenvolvido e nossa Prime rate e os empréstimos garantidos (financiamentos de autos e hipotecas, por exemplo) têm hoje taxas próximas a duas vezes as das economias desenvolvidas, mas o que justifica taxas anuais de cartões, cheques e empréstimos pessoais da ordem de 150 a 200% ao ano, dez vezes maiores do que as que os cidadãos europeus, americanos e asiáticos pagam?
Isso é de fato mais do que insustentável e tenho certeza que não devera durar muito mais tempo para que essas taxas caiam dentro de uma realidade global, sustentável por assim dizer, correta, que não gere desgosto, mais justa e confortável para a sociedade em geral, que não sirva apenas aos interesses das diretorias, dos conselhos e acionistas dessas empresas.
Autor
Lucio Martins Rodrigues é engenheiro civil e consultor em gestão sustentável da Atitude – Gerando Resultado Sustentável, consultoria especializada no desenvolvimento de projetos sustentáveis para empresas www.atitude.srv.br
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