
A exuberância natural, a alta diversidade biológica e a imensa planície de áreas alagáveis do Pantanal Matogrossense podem ser ameaçadas pelos impactos nos recursos hídricos do Cerrado. Os principais rios do Pantanal nascem nos planaltos e nas chapadas do Cerrado. Estudos realizados por pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) concluíram que o Cerrado contribui com a vazão que flui em oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras, sendo fundamental para os rios Paraguai, Parnaíba, São Francisco e Tocantins-Araguaia.
Na porção brasileira da região hidrográfica do rio Paraguai, o Cerrado está presente em cerca de 62% de sua área e responde por quase 136% da vazão nela produzida. Com essa estimativa, fica evidente a dependência
do Pantanal em relação aos recursos hídricos gerados no Cerrado. Isso porque a vazão, que cruza os limites do Cerrado em direção ao Pantanal, é aproximadamente 35% maior do que a vazão que deixa o Brasil pelo rio Paraguai.
Os pesquisadores Jorge Furquim Enoch Werneck Lima e Euzebio Medrado da Silva observaram que o balanço hídrico do Pantanal é negativo em relação à geração de vazão. Isso significa que a evapotranspiração (total de água perdida para a atmosfera) em sua área é superior à precipitação, provocando inclusive, o consumo de parte dos recursos hídricos superficiais provenientes do bioma Cerrado.Ou seja, no restante da bacia hidrográfica, não ocupada por Cerrado, a evapotranspiração é muito superior ao total precipitado na forma de chuva, provocando um grande déficit hídrico.
É como se toda a precipitação nessa área fosse “consumida” pela evapotranspiração e, ainda, necessitasse de 35% a mais dos recursos hídricos superficiais vindos do Cerrado para suprir essa deficiência.
Dessa forma, o Pantanal, que fica na parte mais baixa da região hidrográfica do Paraguai, funciona como um vasto reservatório raso e como grande espelho d’água, contribuindo de maneira significativa com a “perda” de água para a atmosfera por evaporação.
O déficit hídrico também ocorre na região hidrografia do rio Parnaíba. Nessa região, o Cerrado está presente em aproximadamente 66% de sua área e gera cerca de 106% da vazão média que o rio Parnaíba lança no oceano.
O balanço hídrico negativo existe em função do total precipitado, nas áreas não ocupadas pelo Cerrado, ser inferior ao total evapotranspirado. Uma das razões para que isso aconteça é que grande parte do restante dessa região constitui área de clima semi-árido.Na bacia do rio São Francisco, o Cerrado contribui com 94% da vazão e na região hidrográfica Tocantins-Araguaia com quase 71% da vazão que flui em seus rios. As 12 bacias hidrográficas em que a contribuição hídrica do Cerrado foram analisadas são Amazônica, Tocantins-Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, São Francisco, Atlântico Leste, Paraná, Paraguai, Atlântico Nordeste Oriental, Atlântico Sudeste, Uruguai e Atlântico Sul.
Esse é o primeiro estudo que analisa as 12 grandes regiões hidrográficas. Osso porque a última pesquisa sobre contribuição hídrica do Cerrado para as grandes bacias hidrográficas é de 2002, tendo como base a antiga divisão hidrográfica nacional em que o extinto Departamento Nacional de Água e Energia Elétrica (DNAEE) dividia o território nacional em oito grandes bacias hidrográficas.
A partir de 2003, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos alterou a divisão hidrográfica até então utilizada e o território brasileiro foi dividido em 12 grandes regiões hidrográficas.Sendo a área do Cerrado uma região com cabeceiras de bacias hidrográficas é fundamental a ampliação dos conhecimentos referentes ao seu comportamento hidrológico e aos impactos sobre seus recursos hídricos.
Além da importância em termos hidrológicos, o Cerrado possui enorme destaque no cenário agrícola. Conta com 61 milhões de hectares de pastagens cultivadas, 14 milhões de hectares de culturas anuais, 3,5 milhões de hectares de culturas perenes e florestais, além de ser responsável por 55% da produção nacional de carne bovina.
Os pesquisadores da Embrapa Cerrados chamam atenção para a necessidade da ocupação do Cerrado ocorra sob base sustentáveis, gerando o máximo de benefícios com o mínimo de impactos. Para isso é fundamental a existência de dados e informações técnicas sobre a região para subsidiar a tomada de decisão pelas instituições envolvidas no processo de aproveitamento e gestão de seus recursos naturais.
Fonte: Embrapa.
Mais gelo derretido
Agência FAPESP .
O nível do mar em todo o mundo tem subido constantemente nos últimos 80 anos. Isso é o que se sabe. Agora, um novo estudo aponta que o impacto do derretimento de geleiras é ainda pior do que se suspeitava.
A pesquisa foi atrás de um indicador que não se havia levado em conta: o volume de água represada artificialmente. O resultado indica para uma influência ainda maior do aquecimento global no derretimento polar. O estudo foi publicado do último dia 13/03 no site da revista Science.
A elevação total no nível do mar no último século se deveu principalmente à combinação da expansão em volume da água nos oceanos e do derretimento de gelo em glaciares na Antártica e na Groenlândia, os dois fatores promovidos pelo aquecimento global.
Subtrair o efeito da expansão termal do aumento observável no nível do mar deveria dar uma boa estimativa da taxa de derretimento do gelo, mas essa equação deixa de fora um fator importante: a quantidade de água aprisionada em reservatórios. O novo estudo fecha essa lacuna.
Benjamin Chao e colegas da Faculdade de Ciências da Terra da Universidade Central Nacional de Taiwan fizeram uma extensa análise do aprisionamento de água promovido pelo homem. Os cientistas calcularam o volume de água represado artificialmente desde 1900, em quase 30 mil reservatórios com capacidade nominal conhecida.
O resultado é o impressionante total de 10,8 mil quilômetros cúbicos, suficientes para reduzir a magnitude do nível global do mar em 3 centímetros.
Nos últimos 50 anos, pós-II Guerra Mundial, quando aumentou grandemente o número de reservatórios, o estudo calculou a diminuição no nível global do mar em uma média de 0,55 milímetro por ano – estima-se que o aumento no nível global do mar tenha sido de cerca de 18 centímetros no século XX.
A conclusão é simples: se os reservatórios baixaram o nível do mar, a elevação promovida pelo derretimento de gelo no planeta foi maior do que se imaginava. Ou seja, o impacto do aquecimento global tem uma relevância ainda maior.
O artigo Impact of artificial reservoir water impoundment on global sea level, de Benjamin Chao e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.
Leave a Reply