
Quem nos vê como cidadão?
O questionamento feito por Felipe Patela Amaral, ecologista e secretário executivo do Instituto Biofilia, reflete a sensação atual de que os habitantes de uma cidade não são cidadãos. “Os políticos nos vêem como eleitores, os empresários como consumidores”, salienta Amaral, que ministrou palestra no último dia da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades, com o tema A cidade possível: uma perspectiva para além da sociedade de consumo.
Na palestra, o ecologista falou sobre as medidas de contenção de consumo. “A fase dos países consumistas já passou”, comenta, lembrando que na atualidade rico é o país que tem recursos naturais.
O conferencista exibiu experiências práticas de consumo sustentável e controlado, o que acontece, por exemplo, em São Paulo, onde há leis para construções inteligentes, incentivo fiscal para produtos ecologicamente corretos e grandes avanços em legislação ambiental.
Outra palestra que abordou temas ambientais foi de Laura Valente Macedo, diretora na América Latina do ICLEI – Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais que abordou o tema das compras públicas e construções sustentáveis. Ela citou que o chuveiro elétrico utiliza 7% da energia consumida em horário de pico no Brasil.
Para ela, uma mudança nos critérios das compras governamentais viabilizaria mercados ecologicamente corretos e baixaria custos. Exemplo disso é o papel reciclado, que começou a ser utilizado em maior escala nos últimos anos, principalmente por causa da redução do valor. A diretora do ICLEI na América Latina criticou a isenção do ICMS para chuveiros elétricos: “Melhor seria se fizessem isso com os painéis de aquecimento solar”, complementa.
O ICLEI é uma associação que tem como objetivo criar uma rede de convênios entre cidades com projetos sustentáveis. Atualmente, 800 membros de governanças locais são sócios da entidade. Laura Macedo informa que Porto Alegre é uma das cidades mais ativas em projetos ambientais, sendo que Betim, próximo à Belo Horizonte – MG, é considerada modelo em energia sustentável no Brasil. O foco central do debate foi a proteção de bens globais a partir de ações locais somadas. A mesa Práticas Sustentáveis para o Planejamento e Construção em Centros Urbanos foi coordenada por Oscar Carlson, arquiteto da SMAM, e contou ainda com a participação da geóloga Lúcia Ortiz, do arquiteto Roberto Teitelroit e de Márcio Astrini, do Greenpeace.
Portal das APAs brasileiras
Com o objetivo de reunir as informações sobre as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) brasileiras, bem como disponibilizar informações e documentos úteis à gestão desta categoria de Unidade de Conservação, já está no ar o “Portal das APAs Brasileiras”: http://apasbrasileiras.criadordesites.com.br/.
O Portal das APAs Brasileiras é um site independente, criado a partir da demanda dos gestores das APAs, não estando ligado a instituições governamentais, partidárias, religiosas ou ideológicas. Em constante construção, os dados sobre as APAs federais, estaduais e municipais podem ser enviados por e-mail para:apas.federais@yahoo.com.br.
Fonte: Escritório da APA do Ibirapuitã/ICMBio/RS.
Transportes e poluição
Para que a mobilidade urbana esteja em harmonia com o crescimento das cidades são necessários urgentes e continuados investimentos em infra-estrutura. O alerta do diretor da EMBARQ/WRI para América Latina, Luiz Gutierrez, foi feito durante sua apresentação do painel O Papel do transporte urbano na promoção do desenvolvimento local e global das cidades, dentro da Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento dasCidades.
Gutierrez observa que o espaço público está cada vez mais hostil e os congestionamentos refletem as deficiências da falta de planejamento destes espaços nas grandes cidades, onde as pessoas preferem carros a ônibus e enfrentam problemas nos estacionamentos. Como agravante, contam ainda com poucos corredores de alto fluxo para ônibus, respiram mal e não há programas de incentivo para o uso de bicicletas. Outro fato decorrente desse cenário é a deterioração na saúde, com riscos de problemas cardiovasculares, sedentarismo e até morte prematura.
Também participante do painel, a diretora do Centro de Transporte Sustentável (CTS) no México, Adiana Lobo, citou o exemplo das soluções implementadas no México, resultado do trabalho do CTS e EMBARQ, como bons modelos a serem seguidos. A Cidade do México possui o sistema Metrobus, ônibus de alta capacidade em corredores exclusivos. Também há novos projetos de transporte urbano que ambicionam retirar a capital mexicana da lista das megalópolis mais poluidoras do mundo. “Até 2011 o México pretende implantar 200 km de BRTs (corredores exclusivos de alto fluxo para ônibus). A mobilidade deve ser integral e mais limpa”, complementa Gutierrez.
O tema foi apresentado juntamente com o diretor-presidente do CTS-Brasil, Luis Antonio Lindau, Ele destacou que poucas foram as cidades que souberam integrar transporte e desenvolvimento urbano e usou dois exemplos brasileiros: Curitiba e Porto Alegre, duas capitais com distintas visões e resultados. “Curitiba é exemplo mundial na integração do transporte e uso do solo”, comenta, enquanto a capital gaúcha enfrenta a deterioração ambiental da área urbana com 33 mil ônibus/dia concentrados no centro da cidade.
Para cidades que entendem que o transporte deve configurar o meio urbano, ele sugere medidas pró-ativas, entre as quais a renovação urbana, principalmente nas áreas próximas às estações de passageiros e a implantação de terminais com parcerias público-privadas. “A qualificação do transporte coletivo urbano é uma forma de impactar positivamente no crescimento sustentável das metrópoles”, salienta Lindau.
Responsável sozinho pela emissão de 23% dos gases de efeito-estufa e por mais de 70% da poluição urbana, o transporte também precisa ser repensado para assegurar a sustentabilidade do planeta, saúde e qualidade de vida para a população.
O CTS-Brasil – organização não-governamental, sem fins lucrativos voltada a soluções ambiental e financeiramente sustentável para os problemas de transporte urbano – sugere a estruturação e o planejamento das cidades associados a soluções de transporte coletivo em corredores exclusivos. “Uma faixa para o transporte coletivo proporciona a circulação de até 20 vezes mais pessoas que uma faixa de avenida dedicada a automóveis”, informa Lindau e anuncia: “A melhor opção de custo para o trânsito de massa muito freqüentemente tem sido a utilização de ônibus que queimem combustíveis mais limpos do que o diesel atual, como por exemplo, biodiesel e etanol”.
O Centro é parceiro da prefeitura de Porto Alegre no primeiro projeto BRT (Bus Rapid Transit) da cidade; desenvolve o projeto de mapeamento dos níveis de poluentes atmosféricos no centro da capital gaúcha; está colaborando com a prefeitura de Curitiba na elaboração da primeira pesquisa de deslocamento diário de seus habitantes para aumentar a sustentabilidade do transporte urbano da capital do Paraná e acaba de firmar parceria com a prefeitura de Arequipa, no Peru, em seu primeiro projeto de ônibus de alta capacidade em corredores exclusivos.
O CTS-Brasil integra a Rede EMBARQ/ WRI desde sua fundação, em 2005, por isso dispõe de estrutura, tecnologia e equipe internacional altamente especializada, além de uma história de sucessos. O CTS-México projetou e gerencia o moderno sistema de ônibus de alta capacidade em corredor exclusivo da Cidade do México, conhecido como Metrobus e já está trabalhando em novos projetos de transporte urbano que ambicionam retirar a capital mexicana da lista das megalópolis mais poluidoras do mundo.
Resultados excelentes têm sido obtidos também na China, na Índia, na Turquia e o CTS-Brasil está trabalhando para replicá-los no Brasil e na América Latina.
Boas práticas
Impactos, parcerias, sustentabilidades, liderança e fortalecimento da sociedade, igualdade de gênero e inclusão social, inovações no contexto local e transferência do conhecimento. Estes são os principais critérios para a definição de boas práticas em gestão municipal, segundo defende a Coordenadora do Centro de Referência Melhores Práticas da Escola Nacional de Serviços Urbanos do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), Marlene Fernandes.
Ela comandou palestra sobre o tema na Conferência Mundial Sobre o Desenvolvimento de Cidades, que aconteceu até 16 de fevereiro, no Centro de Eventos da PUC-RS, em Porto Alegre.
Cidades sustentáveis
Com a metade da população mundial vivendo em centros urbanos, a sustentabilidade é um grande desafio. Essa foi a tônica do debate da palestra Como será a Cidade Sustentável no Futuro?, promovida durante a Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Cidades
Entre os painelistas estavam o jornalista Steven Berlin Johnson; o diretor do Instituto Leibniz de Desenvolvimento Ecológico e Regional, Bernhard Müller; o mestre em Administração de Negócios, Charles-Mathieu Brunelle e a diretora executiva da Embarq – Centro da WRI para Transporte e Meio Ambiente, Nancy Kete.
Müller explicou que a sustentabilidade depende exclusivamente das ações realizadas hoje. Como alternativas, defendeu a integração das pessoas e a representação democrática.
Diretora da EMBARQ, o centro de transporte sustentável do World Resources Institute (WRI), responsável por transporte e meio ambiente, a geógrafa norte-americana Nancy Kete alertou que o mundo chegou ao momento “pare e pense” para cidades em desenvolvimento.
A especialista lembrou que este ano, pela primeira vez, mais de 50% da população mundial está vivendo nas zonas urbanas razao suficiente para a urgência na adoção de um conjunto de iniciativas para promover a sustentabilidade. Nenhuma delas, porém, lhe parece tão vital quanto escolher o sistema de transporte correto, porque o desenvolvimento econômico pode piorar o sistema de transporte.
A população urbana chegará a 4.9 bilhões em 2030, com a maioria do crescimento em países em desenvolvimento. Em 2015, já haverá 23 megacidades com populações acima de 10 milhões de pessoas, a maioria delas no mundo em desenvolvimento, disse a geógrafa. “Muitos dos residentes dessas cidades serão as pessoas pobres que vêm das áreas rurais na busca de uma vida melhor e vivem nas grandes favelas que circundam as cidades”, salienta a diretora da EMBARQ.
Nancy entende que os líderes de cidades do mundo emergente têm muito a considerar neste momento de “parar e pensar”. De acordo com ela, o futuro econômico das cidades depende do que eles escolherem. Ele acha que apesar dos problemas, as cidades podem se tornar sustentáveis, desde que sejam encontradas maneiras de satisfazer as necessidades dos moradores sem comprometer a habilidade de atender às necessidades da população de amanhã.
Nancy citou os exemplos de Paris, Londres e Nova Iorque para mostrar que “as grandes cidades se tornaram grandes porque seus líderes as projetaram fazendo escolhas pensadas”. Em Paris, por alguns euros é possível escolher uma bicicleta em um dos novos atracadouros por toda sobre a cidade, montá-la e devolvê-la em seu destino. Em alguns anos será possível fazer o mesmo com um dos 2 mil carros elétricos que o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, planeja fornecer. Tudo isso é parte do programa para reduzir o tráfego de veículos em 40% até 2020.
O prefeito de Londres, Ken Livingston, por sua vez, está trabalhando muito para reduzir o tráfego e a poluição, usando uma combinação de cobrar o preço do congestionamento e banir os carros de certas ruas do centro da cidade, que se tornarão calçadões arborizados. Há um ano, ele anunciou um plano para combater o aquecimento global, promovendo casas e escritórios energeticamente mais eficientes, diminuindo a dependência de automóveis e aumentando o uso de energias alternativas para atender às necessidades de Londres.
O formato em grade da cidade de Nova Iorque foi resultado de um plano concebido pela legislatura do estado de Nova York há quase 200 anos, o que mostra que a preocupação com crescimento sustentável é muito antiga nas grandes cidades. Muitas décadas mais tarde, os líderes da cidade também estavam determinados a criar um lugar onde o crescente número de imigrantes pudesse relaxar e escapar do stress da vida de cidade. O resultado foi o mundialmente famoso Central Park.
Bogotá restringiu o trânsito durante horários de pico para reduzir o congestionamento nessas horas em 40%. Há alguns anos, a Câmara de Vereadores aumentou os impostos sobre a gasolina e investiu metade da receita em um sistema de ônibus que atualmente atende 500 mil moradores.
No Brasil também há boas iniciativas. Curitiba foi pioneira na criação de zonas para pedestres e iniciou uma série de “programas verdes” – sistemas de ônibus, programa de reciclagem de lixo e rede de parques – que fizeram de capital paranaense uma líder mundial em sustentabilidade.

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