Transposição do Rio São Francisco: Ganhos e Prejuízos

Juliano Ricardo Fabricante e Selma dos Santos Feitosa

Com aproximadamente 2.700 km de extensão, o Rio São Francisco drena uma área de aproximadamente 641.000 km². Ele nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, e desemboca no Oceano Atlântico, entre Sergipe e Alagoas.

O Rio São Francisco atravessa diferentes regiões com as mais variadas condições naturais. Seus principais afluentes são os Rios Paraopeba, Abaeté, Jequitaí, Paracatu, Urucuia, Verde Grande, Carinhanha, Corrente, e o Rio das Velhas.

Dos 503 municípios existentes ao longo da bacia do rio, mais da metade jogam esgoto em suas águas. Além disso, 97% das matas ciliares da região alta do Velho Chico, entre Minas Gerais e Bahia, não existem mais.

Diante do conflito estereotipado acerca da temática transposição do Rio São Francisco, entre aqueles que a consideram solução para a problemática seca do semi-árido nordestino, e aqueles que a elucidam a morte do rio, algumas considerações devem ser alçadas.

Na atual condição que se encontram os recursos naturais autóctones, não se pode mais manter o velho pensamento “imediatista” que por séculos perdura na cultura nacional.

Explorar os recursos se faz necessário, por outro lado preservá-los também. Deve haver, portanto, um contrabalanço, ou seja, o uso racional, sustentável destes.

Certamente a transposição do São Francisco será de grande valia para o cenário biogeográfico em questão, contudo que seja feito de forma racional. Com uma boa vontade política, participação efetiva dos interessados, esse evento poderá representar um grande avanço para a melhoria das condições eco-sócio-ambientais do semi-árido nordestino.

Assim, como já citado, este empreendimento sendo feito de forma coerente com as questões ambientais, de forma alguma será um problema. Revitalizando-se o rio, possivelmente o que foi perdido será recuperado, sendo assim o que será utilizado não diferirá das condições atuais da quantidade de água presente no rio.

Autores

Juliano Ricardo Fabricante1

Selma dos Santos Feitosa2

1 Biólogo, M.Sc. em Agronomia (Ecologia e Meio Ambiente), julianofabricante@hotmail.com

2 Engª Agrônoma, M.Sc. em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas), feitosass@ig.com.br.

Prioridade para a revitalização

Remontando ao Rio São Francisco e sua transposição, o sucesso pleno deste empreendimento depende notoriamente de sua primária revitalização. Por conseguinte de um planejamento adequado de uso. Milhões de pessoas podem ser beneficiadas com a obra, todavia, outras milhões podem ser prejudicadas se não houver esta preocupação.

Pouco serviria, além do desperdício do dinheiro público, se a transposição do São Francisco fosse algo temporário. Iniciar as obras na condição atual de preservação do rio teria este caráter, pois possivelmente em poucos anos significaria a sua morte.

Anteriormente à obra, deve-se, portanto, fazer a recomposição da mata ciliar em toda a sua extensão e seu desassoreamento para que o volume de água perdido com os processos de degradação sofridos pelo rio fosse o mesmo ou bastante próximo ao volume que objetiva-se retirar dele para o empreendimento.

Estudos recentes sobre a recomposição de matas ciliares, revelam que somente após 4 a 5 anos estes ecossistemas voltam a desempenhar parte de suas funções em seu ambiente.

Portanto fazer a revegetação do São Francisco seria a primeira etapa da transposição e não a segunda como se propõe. Desassorear o rio é outro passo a ser tomado antes da obra.

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