
Porto Alegre, RS – Nilza Scotti para a EcoAgência. Foto: Luiz Abreu – Ecoagência.
A conferência sobre “Cidades Sustentáveis” do Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, (12/10), no Salão de Atos da Ufrgs, em Porto Alegre, teve como um dos conferencistas o jornalista André Trigueiro, apresentador do Globo News, professor da PUC/RJ e escritor.
“Cidade não é uma ciência exata, mas um aglomerado urbano, com dinâmica própria. E quando falamos em sustentabilidade, falamos em planejamento a longo prazo, o que não é o forte dos políticos, principalmente no Brasil”, disse Trigueiro.
Ele observou que ocorreu uma grande guinada no país na virada da década de 60 para 70, e de 70 para os anos 80, com a população saindo do campo para a cidade. E, em vez de se projetar uma sustentabilidade para as cidades, continuaram sendo repetidos os modelos ou buscando-se soluções de baixo custo.
“Quando falamos em aquecimento global, temos que ter em mente que isso resulta das decisões, hábitos e comportamentos determinados pelas cidades”, advertiu. O jornalista citou a Agência Nacional de Energia que sinaliza, até 2030, entre as três principais energias consumidas o carvão mineral, petróleo e gás.
Como um exemplo extremo, destacou o caso da China, o país que mais cresce no mundo e onde estão 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo, segundo os dados do Banco Mundial. “O que vemos é a China com um ‘crescimento’ econômico e não um desenvolvimento. Apesar de muitos citarem os dois dígitos no crescimento do PIB anual daquele país, isso não gera qualidade nem felicidade à população”, criticou.
Acrescentou que Pequim vive numa eterna bruma em decorrência da população e que a realização das Olimpíadas de Verão, em 2008, está preocupando as autoridades, pois a população aumentará drasticamente com a chegada de atletas e jornalistas de todo o mundo, além de turistas.
Ignorância dos prefeitos
Quem cuida do destino do lixo e do tratamento de esgoto, nas cidades, ressaltou o jornalista, são os prefeitos que, em sua maioria, são analfabetos em questões ambientais, e não se interessam por obras que levem mais de quatro anos para serem realizadas – além do seu mandato.
Para uma cidade sustentável, Trigueiro destaca a implantação de programas sobre a destinação de resíduos, discutindo o consumo que está na matriz da reciclagem do lixo, e um transporte público de qualidade (fundamental para qualquer cidade). Ressaltou ainda leis que determinem a utilização de coletores solares de energia, substituindo o chuveiro elétrico “que é o barato que sai caro, já que o consumo de energia é muito alto e o que se paga por esse consumo também”.
Trigueiro acrescentou que o gasto de energia com o uso de chuveiro elétrico, no país, é de 7% do total, equivalente ao consumo de energia no Rio Grande do Sul. Já o custo do coletor solar que, num primeiro momento, parece ser alto, acaba se pagando em dois ou no máximo três anos. Depois o consumo não tem mais qualquer custo.
A água da chuva também deveria ser coletada através de cisternas que evitariam possíveis enchentes e poderiam ser utilizadas nos vasos sanitários, rega de jardins, limpeza e pelas guardas de incêndio. “Nesses casos, não há qualquer necessidade de se usar água tratada, água clorada, fluoretada, que é cara. Esse uso só ocorre em decorrência do nosso analfabetismo ambiental”.
Licitações sustentáveis
As fossas – supostamente assépticas – ou os valões em cidades menores – sem estações de tratamento – podem ser transformados em gás metano, com o esgoto sendo tratado no local de sua origem. “A licitação pública não pode visar somente os preços mais baratos, mas deve buscar serviços que utilizem materiais sustentáveis, papel reciclado”. No Código de obras de cada município deveria constar a exigência de que as construtoras sejam eficiência no uso de material e utilizar a iluminação natural.
O jornalista elogiou a Lei Cidade Limpa de São Paulo (SP) que determina a reciclagem de papel nas dependências públicas, e que a madeira utilizada em obras públicas tenha o certificado de origem. Também está na lei que, nos eventos culturais e artísticos, os responsáveis devem se comprometer com a utilização de medidas que reduzam ou evitam a emissão de gases nocivos ao ambiente, e a obrigatoriedade nas edificações dos coletores solares.
“A partir do próximo ano, cerca de 7 a 8% da energia terá origem no lixo da cidade. Viver hoje, em São Paulo, é desesperador em função da poluição, pois implica em fumarmos três cigarros por dia, mesmo sem ter o cigarro e sem ser fumante. Precisamos reverter esse quadro”. O jornalismo, além de denunciar casos de corrupção, de irregularidades, tem a função de sinalizar rumos e perspectivas para o futuro, finalizou.
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