Cecy Oliveira
Os meios de comunicação anunciam em manchetes R$ bilhões para o saneamento em todo o país. Parece que, de repente, brotaram do nada todos os recursos que há anos já deveriam estar transformados em milhares de quilômetros de redes de água e esgoto, implantadas onde não existe esta infra-estrutura essencial para a manutenção de uma vida adequada aos milhões de brasileiros que habitam as cidades grandes ou pequenas do país.
Empresas de consultoria e técnicos exultam diante da perspectiva de aquecimento de um setor estagnado há anos. E para muitos que ainda continuam alijados de um abastecimento seguro e convivem com os esgotos correndo em suas calçadas parece ter chegado enfim o tempo de usufruir um pouco mais de conforto.
Tanta euforia no entanto precisa ser temperada pelo cuidado com dois componentes fundamentais nesta nova era de investimentos.
O primeiro deles é que, ao contrário do que se tenta alardear, esses recursos são onerosos. Ou seja: são empréstimos com recursos do FGTS, portanto não representam nenhuma benesse da esfera federal. Eles terão que ser pagos antes mesmo de que, em alguns casos, os contratantes (empresas estaduais e serviços municipais) sequer comecem a arrecadar tarifas, oriundas destes investimentos, especialmente se forem utilizados em coleta e tratamento de esgotos. No Brasil por incrível que pareça as pessoas pensam que a conta pela coleta e tratamento de esgoto não tem que ser honrada e muitos se recusam a fazer a ligação de suas casas às redes coletoras.
O outro item ao qual é preciso prestar atenção é o equacionamento dos resíduos oriundos dos processos de tratamento de água e esgoto. Hoje o país já enfrenta um grande passivo ambiental representado pelo descarte do lodo de suas estações de tratamento de água – são mais de 7.500 ETAs em todo o país – nos mananciais. Este lodo contém resíduos de produtos químicos, entre eles o sulfato de alumínio, utilizado como auxiliar para a floculação.
A busca de alternativas de tratamento para os lodos e odores das ETAs e ETEs é hoje a mais recente e perturbadora preocupação dos técnicos das áreas de tratamento e também dos que atuam nos órgãos ambientais a quem cabe fiscalizar e exigir que as leis ambientais sejam obedecidas inclusive e principalmente pelas entidades públicas.
Autora
Cecy Oliveira é jornalista, editora da Revista Digital Aguaonline e integra a diretoria do Instituto de Estudos e Ações em Saneamento Ambiental (IBEASA).
Os impasses no esgoto
No que se refere ao tratamento de esgoto é preciso pensar no lodo e ainda mais nos odores gerados. Atualmente este é um problema que atormenta os serviços de saneamento pois além de exigir grandes áreas em condições para dispor adequadamente os resíduos, representa já, segundo os técnicos, cerca de 20 a 50% do custo do tratamento,
Para piorar a situação mesmo que as áreas escolhidas para as ETEs se situem em zonas periféricas em breve a cidade acaba abraçando-as e começam os conflitos por causa do odor emanado a partir do uso de algumas tecnologias de tratamento.
Portanto, quando se espera que os investimentos voltem a irrigar a horta do saneamento é bom estar alerta para este novo item de preocupação.
E ter consciência de que a todos cabe uma parcela de responsabilidade no equacionamento deste problema. E isto quer dizer Executivo, Legislativo e Judiciário, além da população que é a principal geradora do esgoto doméstico.
Leave a Reply