A Água e os Povos Indígenas

Zelmira May, da Unesco, em entrevista durante o D6, na Guatemala.

Cecy Oliveira – especial da série D6 – Guatemala.

A Unesco coloca à disposição dos leitores a publicação impressa El Agua y los Pueblos Indígenas, segundo volume da série Conhecimentos da Natureza do Programa Sistemas de Conhecimentos Locais e Indígenas. A publicação – cujo download pode ser obtido no site da Unesco – tem como base os trabalhos apresentados durante as sessões oficiais sobre água e os povos indígenas, durante o III Fórum Mundial da Água 2003. Nesta edição, em espanhol, os artigos foram atualizados para refletir os resultados do IV Fórum Mundial da Água e outros avanços legais e políticos de relevância.

Segundo a publicação “claramente as populações e tribos indígenas, seus sistemas de valores, conhecimentos e práticas únicas têm sido ignorados nos procedimentos relativos à visão dos recursos hídricos”. Fica evidente, também, segundo os relatos que as fontes de água das comunidades indígenas – que sustentam seus usos múltiplos e estratégias de sobrevivência – com freqüência lhes têm sido arrebatadas para o suprimento de água potável a populações urbanas. O que faz, conforme os especialistas, que o alcance dos Objetivos do Milênio na questão do saneamento possa, em muitos casos, significar menor disponibilidade de água para as populações indígenas.

A publicação faz um alerta para que os esforços internacionais em prol do desenvolvimento incluam integralmente os conhecimentos, valores, políticas de posse da terra, usos e costumes, acordos sociais e direitos dos povos indígenas com relação à água.

Na abertura do volume é narrado um poema chamado A Água é Siwlkw, termo usado em Okanagan, no oeste do Canadá, que significa “cura” (a mais elevada e melhor forma de cura). “A água constitui um elemento básico da vida e portanto é tão sagrada como a vida. Todos somos iguais perante ela. A água é de todos e todos somos água”.

Segundo Pablo Sólon, sociólogo, defensor da água para os povos indígenas e embaixador plenipotenciário para temas de integração do Governo da Bolívia, os sistemas indígenas satisfazem as necessidades da água mediante acordos sociais em escala comunitária, enraizados no respeito pela interdependência entre o homem e a natureza.

Leonidas Iza, líder kichwa do Equador, expõe as noções dinâmicas, humanistas e espirituais da água que possuem os povos andinos da América do Sul, em contraste com a postura estritamente econômica da Visão Mundial da Água.

Rutgerd Boelens, pesquisador da Universidade de Wageningen (Holanda) defende que as populações indígenas poderiam chegar a ser as principais provedoras de alimentos para os países andinos mas em lugar disto têm sido as últimas a se beneficiar das políticas contemporâneas de desenvolvimento dos recursos hídricos.

A segunda parte do livro apresenta uma série de estudos de caso que assinalam um aberto contraste entre o discursos convencional das organizações internacionais, os governos e o setor privado. Para os povos indígenas uma gestão adequada da água não é unicamente um tema econômico, mas é principalmente e antes de tudo uma questão espiritual e social. Inspirada no exemplo de seu próprio povo, os kankanayes de Besao, Filipinas, Eleanor Dictaan- Bag-Ao descreve como a água é responsabilidade de todos os membros da comunidade que a assumem individual e coletivamente. E mostra o sistema de gestão, com direitos e responsabilidades complexas e que asseguram seu fluxo contínuo e distribuição eqüitativa.

Livro analisa Bacia do Tietê

O livro “A Identidade de um Rio de Contrastes: o Tietê e seus Múltiplos Usos”- a ser lançado no dia 04/10, em São Paulo, oferece uma visão holística da dinâmica experimentada pelo Tietê após o descobrimento do Brasil no ano de 1500.

O autor – Wanderley da Silva Paganini, Superintendente de Gestão Ambiental da SABESP, menciona que com este trabalho pretende desmistificar e ampliar a visão que se tem do Tietê na Região Metropolitana de São Paulo, de um rio fétido e repelente, e que será sempre assim por condenação eterna dos homens e da modernidade, até “vomitar” sua sujeira no Rio Paraná. Relata tratar-se de profundo engano, pois este Rio ao atravessar a coluna dorsal do Estado de São Paulo, através de processos naturais de autodepuração e diluição, e também pela ação do saneamento básico e ambiental, “se limpa”, tornando suas águas apropriadas à irrigação, ao lazer, ao esporte e mais recentemente, segundo relatórios oficiais, uma parte significativa de suas águas apresenta características boas e ótimas para serem captadas, tratadas e distribuídas à população com qualidades potáveis.

Segundo Paganini “para gerar energia elétrica e posteriormente possibilitar a navegação, o Rio Tietê foi “picado”, e deixou de existir para dar lugar a uma seqüência de grandes lagos que o autor denomina por “Complexo Fluvial do Tietê”. Os dados mostram que no caminho inverso da história acontecida com o Tietê dentro da Região Metropolitana, as suas águas no interior do Estado de São Paulo estão gerando energia elétrica, possibilitando a navegação, o esporte, o lazer e carregando o desenvolvimento em seu caudal,

Lançamento dia 04/10

Local:às 18:00 h no PUDIM – SP.

Exemplos

Da Índia, Roy Laifungbam e Anna Pinto destacam o papel central da água e sua utilização mediante um engenhoso sistema de canais e diques na emergente nação meitei. As áreas úmidas e as vias de navegação que foram criados se tornaram canais de comunicação entre as clãs e tribos, e também entre a dimensão humana e espiritual.

Com o desaparecimento deste sistema, devido à abolição do sistema de trabalho que o mantinha, a paisagem está sob ameaça crescente das pressões demográficas e reivindicações de terras para a expansão das cidades.

Para os sans, povos caçadores do sul da África, foi a falta de água no deserto de Kalahari o que os ajudou a defender seu território das incursões daqueles que não possuíam o conhecimento necessário para buscar água e sobreviver. Entretanto quando a tecnologia de perfuração pôs a água facilmente à disposição, através do uso de aqüíferos subterrâneo, os criadores de gado privatizaram os poços de água privando os sans do acesso a suas terras.

Santos Augusto Norato, da comunidade Totonicapán, do oeste da Guatemala, mostra uma visão geral das organizações da comunidade maia que guiam o uso e a proteção dos bosques e dos recursos hídricos. Mediante comitês de água as comunidades definem e fazem valer os direitos e obrigações associados à utilização da água.

Opinião do Leitor

Nome: Ricardo Gatti

E-mail: ricardogatti88@hotmail.com

Comentário: Gostaria de salientar a esta matéria que a tribo indigena que reside na ilha da Cotinga no Paraná tem água de uma mina clorada com alternativa dispostas na própria aldeia, sem a necessidade de comprar cloro.

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