
VI Diálogo Interamericano dos Recursos Hídricos – Guatemala
Elizabeth Oliveira – WaterReach – Da Guatemala.
A falta de medidas concretas para avanços na mitigação das emissões dos Gases do Efeito-estufa (GEE), causadores do aumento do aquecimento global, pode levar a uma queda de 6% a 20% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial, neste século, podendo ter efeitos ainda mais perversos para os países da América Latina. Porém, um esforço conjunto pela redução dos GEE pode contribuir para que as perdas sejam reduzidas a 1%. Caberá à humanidade decidir que caminho escolher, afirmou o vice-presidente do Grupo de Trabalho II do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Edmundo de Alba, durante conferência no Sexto Dialogo Interamericano sobre a Gestão da Água (D6), evento que se realizou na Guatemala.
O pesquisador mexicano enfatizou que as saídas para enfrentar as mudanças climáticas exigem duas iniciativas fundamentais: um esforço pela mitigação das emissões de GEE, entre as quais, as de dióxido de carbono (CO²), considerado o vilão do aquecimento global, e ações de adaptação, capazes de reduzir os impactos sociais, ambientais e econômicos de secas prolongadas, ou excesso de chuvas em algumas regiões, além de furacões, maremotos, e demais fenômenos já previstos pelos cientistas do IPCC para este século.
“As ações são individuais e coletivas. Cada setor, cada grupo social, tem uma contribuição a oferecer e deve encontrar saídas locais que se somarão aos esforços regionais e globais. As mudanças climáticas representam uma realidade e não devem ser tratadas como um tema meteorológico ou ambiental. Temos que pensar em políticas públicas que incorporem a visão de que o desenvolvimento econômico e social mundial precisará ser repensado em função dessa realidade”, afirmou Alba.
A mudança nos padrões de produção e consumo surge como o principal desafio para o enfrentamento das mudanças climáticas e assumir esse compromisso, na opinião de Alba, em vez de provocar prejuízos, pode, pelo contrário, levar ao desenvolvimento de novos negócios e apontar para melhoria da qualidade de vida, além de garantir ganhos ambientais.
“Temos que investir em políticas de produção de energias sustentáveis e na eficiência energética em todos os setores sociais. É preciso incorporar políticas educacionais paralelas a esse processo para que a sociedade seja parte desse esforço coletivo. Há também que se empreender esforços para conter o desmatamento, já que o fenômeno é uma ameaça a conservação da biodiversidade, a proteção dos mananciais de recursos hídricos e um risco para o clima do planeta. Todas as ações devem ser planejadas para o longo prazo”, afirmou Alba.
Em prol da estabilização das condições climáticas, na opinião de Alba, é preciso investir na melhoria do sistema de transporte coletivo, criar novos mecanismos de oferta de crédito e redução de impostos para veículos híbridos entre outros equipamentos mais limpos. Ele também defende o uso de novas tecnologias nas indústrias e no campo. “Soma-se a tudo isso uma mudança de costumes de todos os segmentos sociais”, disse o pesquisador, ao enfatizar que os avanços tecnológicos são importantes, embora não resolvam todas as questões relacionadas ao tema e não sejam capazes de substituir a participação social na busca de soluções.
Cuidadoso ao falar dos biocombustíveis, tais como o etanol, Alba enfatizou que o Grupo III do IPCC analisa com muita cautela a questão já que a produção desse tipo de alternativa energética vai depender de extensas áreas agricultáveis, podendo, inclusive, competir com espaços que seriam destinados ao plantio de alimentos. “Soluções como o etanol podem ser muito boas para o Brasil, que é um país com extensa fronteira agrícola, o que não ocorre da mesma forma em toda a América Latina. No México, por exemplo, já temos problemas com o aumento dos preços do milho, alimento básico na dieta da população”, explicou Alba ao referir-se ao incremento do uso desse cereal para a produção mexicana de combustível mais limpo.
Crescimento econômico não é suficiente
Para a Cepal, o alto nível de crescimento econômico registrado na região nos últimos cinco anos não foi suficiente para resolver os problemas mais urgentes. “A região atravessa uma etapa de incertezas, potencializada pelo tamanho da pobreza e da desigualdade, assim como pelas dúvidas em relação ao crescimento econômico sustentável no longo prazo”. Segundo acrescentou Zapata, essa é uma questão que precisa estar no centro das discussões sobre as mudanças climáticas.
A Cepal projeta um incremento na economia latino-americana de 4,7% para este ano, em relação ao ano passado, e de 4,6% para 2008, o que se confirma como o período de maior expansão observada desde 1980. “Porém, esse crescimento não contribuiu para a redução da pobreza na América Latina e no Caribe, onde 205 milhões de seus 500 milhões de habitantes estão nessa situação e 80 milhões vivem em condições de indigência”, observa Zapata.
O especialista reforçou que os governos da região se comprometeram, junto com o resto do mundo, a cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aprovados em 2000, pela Organização das Nações Unidas. “A primeira das oito metas é a redução pela metade, até 2015, da população que vive em condições de pobreza extrema e com fome, em relação aos indicadores de 1990. Para José Luís Machinea, secretário executivo da Cepal, é necessário um novo contrato social, somado a um pacto fiscal para impulsionar a construção da inclusão social”, enfatizou Zapata.
Além da redução da pobreza, disse ele, a América Latina e o Caribe experimentam outros complicadores em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas, tais como a falta de sistemas apropriados de observação e valoração, além de investimentos para o desenvolvimento (principalmente em termos de preservação ambiental e desenvolvimento rural).
Outros percalços, na opinião de Zapata, são a falta de visão integrada e multi-setorial dos problemas que afetam a região, além de estudos limitados sobre os impactos atuais e futuros das mudanças climáticas e seus efeitos sociais. “Falta transformar o tema em prioridade nos tópicos da agenda de desenvolvimento da região”, observa.
As saídas para as incertezas na região, segundo o especialista da Cepal, passam também pela apropriação dos riscos, “condição indispensável para que sejam reduzidos” e pela necessidade de mudanças nas normas institucionais. “E necessário o uso do mercado para dar preço aos riscos e de políticas sociais de compensação e promoção. A gestão dos riscos cria novas oportunidades de negócios”, concluiu.
Impactos precisam ser valorados
Os impactos negativos das mudanças climáticas precisam ser valorados economicamente, defendeu o especialista em Avaliação de Desastres da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Ricardo Zapata. Segundo ele, quantificar os efeitos do aumento do aquecimento global na produção de alimentos, na proteção da biodiversidade, assentamentos humanos e na saúde da população e uma necessidade urgente que precisa ser planejada em nível global. “O que não tem preço não tem valor”, afirmou.
Segundo Zapata, esse é um desafio que, apesar da urgência, está cercado de dificuldades porque as agendas globais não são convergentes. O especialista citou a distância entre as agendas comercial (globalização e livre comércio), desenvolvimento (metas do milênio da ONU), além da ambiental, humanitária e da que trata especificamente das mudanças climáticas.
“A posição da Cepal é de que as mudanças climáticas não se tratam de um tema exclusivamente ambiental e exigem que se empreendam esforços na região para avançar de maneira sustentável em matéria de crescimento econômico, redução da pobreza, inserção global e melhoria da qualidade de vida”, observou.
Ainda segundo Zapata, a América Latina e o Caribe, a exemplo de outras regiões em vias de desenvolvimento, já sofrem os impactos das mudanças climáticas, ainda que seu papel na geração de GEE seja relativamente menor em comparação à contribuição dos países desenvolvidos, como já foi demonstrado pelas análises do IPCC.
Oportunidades
As oportunidades para ampliar as respostas frente às mudanças climáticas:
Adaptação: Gerar estratégias para enfrentar a elevação de temperatura, do nível dos oceanos e de emissões de gases do efeito-estufa;
Mitigação: Implementar políticas para redução de emissões e assumir metas quantitativas das mesmas, incluindo o uso de instrumentos econômicos;
Inovação: Científica, financeira e social para reverter tendências atuais, nos campos de adaptação e mitigação;
Regulação: Uso da função do estado e intervenção no mercado para garantir transparência dos custos e externalidades não desejaveis das mudanças climáticas;
Escala de projetos: Sem descuidar das medidas globais e de ambito nacional, enfatizar o potencial das ações locais e regionais, centradas nas comunidades e assegurar sua sustentabilidade mediante a participação de todos os atores econômicos e sociais.
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
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