Começa a funcionar a Bolsa de Valores Sociais e Ambientais

Stela Goldenstein, Marcelo Vespoli Takaoka, José Goldemberg, Fábio Feldmann e Raymundo Magliano Filho.

O presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, presidiu a cerimônia de início das atividades da Bolsa de Valores Sociais e Ambientais (BVS&A), com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A BVS&A captará recursos financeiros para projetos de ONGs brasileiras voltados ao meio ambiente, com foco em cinco grandes temas: Educação para Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Recursos Hídricos, Biodiversidade e Florestas e Cidades Sustentáveis, definidos a partir de pesquisa do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.

A BVS&A também receberá trabalhos direcionados para educação, dando continuidade às atividades desenvolvidas pela Bolsa de Valores Sociais (BVS), programa pioneiro no mundo, criado pela Bovespa em 2003, que arrecadou, desde então, R$ 5 milhões e contribuiu para a realização de 36 projetos. As entidades socioambientais já podem inscrever seus projetos, que serão avaliados por profissionais especializados da BVS&A. Depois de aprovados, passarão a constar no site www.bovespasocial.org.br,, onde o público poderá escolher aqueles com os quais deseja contribuir e fazer doações em dinheiro.

Com a criação da BVS&A, a Bovespa reforça os conceitos de “investidor socioambiental” e “ação socioambiental”. “Ao contribuir com os projetos, é como se esse investidor estivesse comprando uma ação, que trará como lucros, no futuro, a conservação de ecossistemas importantes, geração de emprego e renda, por meio da gestão ambiental sustentável, adoção de tecnologias mais limpas, combate às mudanças climáticas globais, dentre outros benefícios”, explica o presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho.

Com o tema Educação para a Sustentabilidade, a BVS&A tem como objetivo o apoio à educação como meio de construção da cidadania e de um sistema econômico que permita maior igualdade social. Entre os projetos que se enquadram neste perfil, estão os de formação de profissionais e líderes voltados para o desenvolvimento sustentável, atividades educativas para crianças e adolescentes e apoio a iniciativas multidisciplinares, como defesa dos direitos humanos e do consumidor e geração de emprego e renda.

O tema Mudanças Climáticas abrangerá projetos direcionados para a avaliação e redução dos impactos dessas modificações. Poderão inscrever-se, por exemplo, trabalhos que têm como meta a diminuição de emissões de gases de efeito estufa, o desenvolvimento de fontes renováveis de energia, a análise das vulnerabilidades do país e Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA).

Com base no tema Recursos Hídricos, a BVS&A receberá projetos que busquem aperfeiçoar e racionalizar as várias formas de uso da água, fomentar iniciativas de proteção e combate à sua degradação e assegurar a sua qualidade e quantidade. Poderão ser apoiados projetos de ampliação da disponibilidade hídrica, gerenciamento de bacias hidrográficas, conservação e recuperação de mananciais e Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA).

O tema Biodiversidade e Florestas enfocará atividades de conservação, recuperação e uso sustentável da biodiversidade, associadas ao desenvolvimento das comunidades locais. Poderão participar, por exemplo, projetos de implantação de corredores de biodiversidade, criação de reservas naturais, Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), proteção de espécies ameaçadas de extinção e desenvolvimento de sistemas produtivos que substituem o uso de agrotóxicos por práticas de manejo ssustentável.

Cidades Sustentáveis é o tema que englobará iniciativas relacionadas aos principais desafios das áreas urbanas, como carência de saneamento ambiental, poluição atmosférica e dos mananciais, déficit habitacional e a ausência de políticas de transporte e de trânsito. Serão contemplados projetos voltados para a criação de áreas verdes em centros urbanos, de ddesenvolvimento de novos hábitos de moradia, transporte e consumo, implementação de Planos de Ação para Combate ao Agravamento do eefeito-Estufa, entre outros.

A exemplo da BVS, a BVS&A funcionará como ambiente de encontro entre o público e projetos que necessitam de recursos financeiros para serem implantados ou ampliados. No total, abrigará 35 projetos, entre ambientais e educacionais, que serão substituídos por novos, na medida em que atingirem a captação do valor estipulado. Os recursos serão repassados integralmente pela Bovespa às organizações socioambientais, sem qualquer cobrança de taxa ou dedução, e os doadores poderão acompanhar o andamento dos projetos pelo site, o que garante um processo transparente e seguro.

Para formar o Conselho de Administração da BVS&A, juntam-se aos atuais conselheiros da BVS, mais quatro integrantes especializados na área ambiental: Fábio Feldmann, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, Marcelo Vespoli Takaoka, presidente da Y. Takaoka Empreendimentos, e Stela Goldenstein, secretária adjunta da Secretaria do Governo Municipal.

A BVS&A conta com o apoio oficial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o reconhecimento da ONU como estudo de caso e modelo a ser seguido por outras bolsas de valores no mundo, destaques conferidos à BVS, em 2003 e 2005, respectivamente. O modelo da BVS também inspirou, em 2006, a criação da South African Social Investment Exchange (Bolsa de Investimentos Sociais da África do Sul), com apoio da Bolsa de Valores de Johannesburgo.

Bagaço de cana-de-açúcar vira matéria-prima

Thiago Romero – Agência FAPESP

Experimentos realizados nos laboratórios da Faculdade de Ciências Tecnológicas (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, deram origem a um novo composto cerâmico com potencial de aplicação na construção civil.

Trata-se de uma massa cerâmica cuja matéria-prima principal é a areia extraída da cinza do bagaço da cana-de-açúcar. “O trabalho tem foco ambiental, do estudo de alternativas de aproveitamento dos resíduos que são dispensados em larga escala pela indústria”, disse o coordenador da pesquisa, Silvio Rainho Teixeira, professor do Departamento de Física, Química e Biologia do FCT, à Agência FAPESP.

“Descobrimos que um material que aceita muito bem os resíduos industriais do setor sucroalcooleiro é a massa cerâmica usada para produção de cerâmica vermelha”, explicou. Os pesquisadores partiram do bagaço de cana usada para produção de álcool, que foi queimado a fim de produzir vapor e energia elétrica para uso industrial.

Para cada tonelada de cana foi gerado cerca de 0,25 tonelada de bagaço, que, quando queimado nas caldeiras, produziu aproximadamente 6 quilos (2,4 %) de cinza – que contém pó de carvão e areia de quartzo.

“A areia de quartzo pode ser misturada com argila e com elementos conhecidos como fundentes químicos para dar origem a uma massa cerâmica que pode ser usada para a fabricação de tijolos, telhas e placas cerâmicas”, disse Teixeira. Os fundentes mais utilizados em cerâmicas são matérias-primas ricas em óxido de sódio (Na²O) e óxido de potássio (K²O), que também estão presentes na cinza em pequenas quantidades.

O pesquisador destaca que esses resíduos das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar produzidos no processo de geração de vapor normalmente são descartados sobre o solo. Em 2002, o Brasil produziu cerca de 1,6 milhão de toneladas de cinza do bagaço de cana.

“Os novos materiais cerâmicos ainda não foram utilizados por empresas e todos os resultados ainda estão sendo validados em laboratório. Mas o mais importante é termos descoberto a incorporação das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar na composição de massas cerâmicas como uma solução para o destino final dos resíduos industriais”, afirmou Teixeira.

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