Em defesa da Guarapiranga

O abraço na Guarapiranga 2007, marcado para este 27 de maio é uma oportunidade para todos os participantes – a previsão é de que 10 mil pessoas se reúnam no entorno da represa – saberem quem está trabalhando efetivamente para mudar o quadro de poluição, ocupação desordenada e descaso que compromete a produção da água consumida por quase 4 milhões de paulistanos.

Em cada um dos três pontos do abraço – Avenida Robert Kennedy, Mirante da Riviera e Solo Sagrado da Guarapiranga – será exibido um grande painel com o placar das ações que o governo do estado, Sabesp, prefeitura de São Paulo e dos demais municípios inseridos na bacia da Guarapiranga, Poder Legislativo, sociedade civil e Sub-Comitê Guarapiranga estão desenvolvendo a partir dos compromissos firmados por cada segmento no ano passado, durante o Seminário Guarapiranga 2006.

O seminário, que antecedeu o primeiro abraço na Guarapiranga, no ano passado, foi o início de um trabalho conjunto entre sociedade civil e poderes públicos para reverter o quadro de degradação da região da represa. Resultou em uma carta de princípios e em 63 propostas de ação, com a definição dos respectivos responsáveis pela implementação de cada uma delas.

Por meio do placar é possível saber, por exemplo, que a fiscalização para evitar que novas ocupações sejam criadas no entorno da represa vem sendo intensificada pelos diferentes órgãos responsáveis, que a redução do despejo de esgoto no reservatório também vem sendo priorizada, bem como a retirada do lixo da bacia e o aumento da reciclagem.

Outro ponto positivo apresentado no placar mostra que existem ações em curso para revitalizar a orla da represa. Por outro lado, o placar também mostra que muitas ações ainda não saíram do papel, como a criação de parques municipais e bairros ecológicos na região.

Perigo que vem do mar

Agência Fapesp Um estudo realizado no Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) encontrou o vibrião do cólera em quatro de 105 amostras retiradas da água de lastro de navios atracados em diferentes portos brasileiros.

A água de lastro, utilizada em navios de carga como contrapeso para que as embarcações mantenham a estabilidade e a integridade estrutural, é transportada de um país ao outro e pode disseminar espécies alienígenas, potencialmente perigosas e daninhas.

Os resultados da tese de doutorado de Keili Maria Cardoso de Souza, defendida na semana passada, tiveram papel decisivo para a inclusão do controle microbiológico do Vibrio cholerae patogênico na Convenção Internacional para Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios.

Embora tenha sido aprovada em fevereiro de 2004 pela Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), agência da Organização das Nações Unidas responsável pela segurança da navegação e prevenção da poluição marinha, a convenção ainda precisa ser ratificada por pelo menos 30 países para entrar em vigor – o que ainda não ocorreu.

Os resultados do estudo destacam a necessidade do controle microbiológico. O trabalho começou em 2001 com a análise da água de lastro em 105 navios a fim de avaliar níveis de contaminação e presença de agentes patogênicos.

Até 2001, as negociações para a adoção da Convenção Internacional para Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios determinavam que fossem feitas apenas análises de coliformes fecais e de controle de organismos exóticos. Com os resultados do estudo de Keili, o acordo passou a recomendar o controle do vibrião patogênico do cólera.

“Concluímos que o Vibrio cholerae é de fato transportado pela água de lastro dos navios. E comprovamos que não havia correlação entre os indicadores fecais e a presença do vibrião. Então seria preciso acrescentar esse indicador microbiológico”, disse a pesquisadora.

De acordo com dados da IMO, cerca de 12 bilhões de toneladas de água de lastro são transportadas anualmente ao redor do mundo. Um cargueiro com capacidade de 200 mil toneladas pode carregar mais de 60 mil toneladas de água de lastro.

A IMO avalia que cerca de 4,5 mil espécies são transportadas pela água de lastro pela frota mundial a qualquer momento e, a cada nove semanas, uma espécie marinha invade um novo ambiente em algum lugar do globo. Os navios mercantes, no entanto, transportam mais de 80% das commodities mundiais. Todos os navios cargueiros necessitam da água de lastro e não existem, ainda, produtos substitutos para o lastreamento.

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