Biodiversidade em perigo

Stephen Leahy

Toronto ( Canadá), 21 de maio (Tierramérica).- A diversidade biológica é o que sustenta a vida na Terra, mas estamos às portas da sexta maior extinção em massa de espécies da história do planeta, disse ao Terramérica o secretário-executivo do Convênio sobre a Diversidade Biológica, Ahmed Djoghlaf. Às vésperas de 22 de maio, Dia Internacional para a Diversidade Biológica, Djoghlaf ressaltou que a mudança climática cria condições para que flora e fauna não possam responder com suficiente rapidez. Por sua vez, a perda de espécies agravará o aquecimento global, em um círculo vicioso.

Terramérica: Qual é o vínculo entre mudança climática e biodiversidade?

Ahmed Djoghlaf: As espécies não podem responder com suficiente rapidez às condições criadas pela mudança climática. O aquecimento dos oceanos tem um tremendo impacto nos arrecifes de coral e no plâncton, cruciais para a vida marinha. Junto com a pesca excessiva, pode acabar com as populações de peixes em 2048, segundo estudos recentes. Isso afetará o sustento de milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, pelo esgotamento do plâncton, os oceanos absorverão menos dióxido de carbono, agravando a mudança climática.

O mesmo pode-se dizer do desmatamento: menos florestas representam mais carbono na atmosfera e menos diversidade biológica. As selvas contêm a maior parte da riqueza natural. O Brasil, por exemplo, abriga mais biodiversidade do que todos os países do Grupo dos Oito (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia). Neste 22 de maio, em Nova York, daremos rosto humano a este problema, destacando os impactos da mudança climática em cerca de 300 milhões de indígenas do mundo, que vêem afetadas suas tradições e os recursos naturais dos quais dependem.

Tierramérica: Por que as pessoas comuns devem se preocupar com a perda de flora e fauna?

Ahmed Djoghlaf: A diversidade biológica é o que sustenta a vida na Terra. É o ar que respiramos, os alimentos e os medicamentos dos quais dependemos. O sistema Millennium Ecosystem Assessment informou no ano passado que 2/3 dos ecossistemas estão diminuindo. Estamos às portas da sexta maior extinção em massa de espécies na história do planeta. Segundo a tendência atual, 30% de todas as espécies conhecidas desaparecerão antes do final deste século.

Tierramérica – Muitos se preocupam com a mudança climática, mas não levam em conta a crise da biodiversidade. O que se pode fazer a esse respeito?

Ahmed Djoghlaf: – O último mês de abril foi o mais quente da história da Europa, e qualquer um pode senti-lo. A perda de diversidade biológica não é tão evidente. As pessoas ignoram que agora dependemos de apenas 12 plantas diferentes para nos alimentarmos, quando no passado eram mais de 7.000. Não consideramos que 85% dos remédios nos Estados Unidos procedem de vegetais ou animais. Devemos aumentar a conscientização pública sobre nosso papel no esgotamento da vida terrestre.

Tierramérica – O que se pode fazer para proteger a biodiversidade?

Ahmed Djoghlaf: – Não é possível continuar como estamos. Se todos tivermos o padrão de vida do norte-americano médio, precisaremos de cinco planetas, e só temos um. Devemos agir de modo diferente em todos os níveis: governo, empresas e cidadãos.

Tierramérica – É preciso um painel intergovernamental como o de mudança climática para que os cientistas aconselhem aos que tomam as decisões?

Ahmed Djoghlaf: Necessitamos de muitos painéis como esse para diferentes aspectos da biodiversidade. O CDB mesmo é uma entidade modesta com pouco pessoal e orçamento anual de US$ 10 milhões, usado sobretudo para organizar reuniões.

* O autor é correspondente da IPS.

Biodiversidade II

Tierramérica- Há algum avanço rumo à meta de deter ou reduzir de modo significativo a perda de biodiversidade até 2010, adotada na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002?

-Ahmed Djoghlaf: A Alemanha se comprometeu quanto à próxima cúpula do G-8 no Japão ter como tema central a mudança climática e a biodiversidade. Será avaliada a situação em vários países e como podem cumprir seu compromisso. Antes da Conferência das Partes (COP) do CDB, em 2010, também no Japão, será divulgado um informe completo sobre a diversidade biológica país por país. A COP, além disso, vai estabelecer uma nova meta. 2010 será o Ano da Biodiversidade, a primeira vez que a comunidade internacional se concentrará nela.

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