Antônio Francisco Evangelista de Souza
A cidade é uma estrutura espacial, onde todos os elementos estão em constante interação; como conseqüência, é totalmente desaconselhável o estudo por partes, independentemente da análise de qualquer problema no meio urbano. Com o intenso crescimento urbano avolumaram-se os problemas de infra-estrutura, tais como: transporte, habitação, saneamento, coleta e tratamento de esgoto, lixo não coletado, enchentes, doenças, danos materiais, diminuição do processo de infiltração e de armazenamento da água provocados pela supressão da vegetação e cobertura da superfície do solo por ocupações irregulares.
O crescimento urbano sem uma infra-estrutura adequada tem comprometido a renovação e a recuperação dos recursos hídricos. A expansão desordenada do espaço urbano, aumentando a impermeabilização do solo, o desmatamento de suas nascentes e a ocupação de áreas de várzeas, impede a renovação desses recursos. O lançamento de efluentes nos corpos hídricos, principalmente o esgoto doméstico, sem qualquer tratamento e em quantidade superior à capacidade de autodepuração dos rios, tem comprometido a qualidade da água.
Conforme Ratzel, “o homem é o sujeito da natureza, e é influenciado por todas as condições naturais que o envolvem”. A Ecologia da Paisagem é uma ciência que trabalha com as características da paisagem, que são: estrutura – relação entre os distintos ecossistemas em relação ao tamanho, forma, número, tipo e configuração; funcionamento – traduzido nos fluxos de energia, matéria e espécies dentro da paisagem; e alterações – modificações observadas na estrutura e fluxos do mosaico ecológico, que podem ser entendidas como níveis hierárquicos de tratamento de paisagem com fins de planejamento ambiental.
Considerando uma bacia hidrográfica como unidade de planejamento ambiental, podemos resgatar nos princípios da ecologia da paisagem os meios para compreender as transformações que ocorrem, tomando como análise a complexidade da atividade humana e a realidade, trazem em sua essência, atributos bióticos, abióticos diversos interdependentes.
Esta interdependência pode possuir maior ou menor grau de vulnerabilidade e se expressa na qualidade ambiental dos lugares, condição resultante da perda dos padrões de uso do solo, da água, do ar, da existência ou não de resíduos e da perda do estado de conservação ou do grau de degradação ambiental. Sendo assim, a grande vantagem na utilização do planejamento por bacias hidrográficas, e, conseqüentemente o grande significado para fins urbanos, está relacionado basicamente às condições de abastecimento de água, pois através do monitoramento e controle dos efeitos ambientais da bacia, possibilita a conservação das condições naturais e da qualidade ambiental. Por outro lado, é nesta unidade ambiental que a realização de estudos detalhados e progressivos pode permitir a percepção da relação entre o clima, os solos, o organismo vivo e os aspectos sócio-econômicos, sem que haja perda do sentido de conjunto.
Nos estudos das bacias hidrográficas o solo, a vegetação e a água são elementos imprescindíveis, pois o conhecimento das relações existentes entre si e com outros, permite que se percebam como os mesmos podem interferir na dinâmica de uma bacia hidrográfica e, conseqüentemente, contribuir para intensificar ou reduzir o processo de degradação ambiental.
Portanto, os conceitos da Ecologia da Paisagem, aliado às técnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, nos fornece respectivamente as informações espaciais básicas, observando o que o ambiente pode oferecer no tocante à auto-regulação, para propormos quais devem ser as tecnologias mais compatíveis a serem utilizadas.Os padrões espaciais mostram influenciar muitos processos importantes; assim, os efeitos dos padrões nos processos devem ser considerados em tomada de decisões de manejos dos recursos naturais, contribuindo para as atividades de gerenciamento, como planejamento regional e urbano e o desenvolvimento e uso de recursos naturais.
A Ecologia da Paisagem possibilita o entendimento da compatibilização do uso do solo e seus manejos com os padrões ambientais, já que isto possibilitará a atenuação da degradação físico-ambiental com a conseqüente preservação e conservação dos ecossistemas existentes, e melhoria na qualidade ambiental.
Os associados do Clube de Amigos da Aguaonline podem acessar a íntegra deste artigo no arquivo ao lado.
Íntegra
Os associados do Clube de Amigos da Aguaonline têm à disposição a íntegra do artigo de Antonio E. Souza.
A importância da Ecologia da paisagem
A Ecologia da Paisagem analisa a maneira com que essa série de processos interage, e provê a base teórica para o entendimento do impacto do homem no ambiente e para o desenvolvimento de estratégias de manejo sustentáveis. A paisagem é entendida como uma entidade natural, reunindo referências litológicas, geomorfológicas, topográficas, sociais e econômicas. A fragmentação da paisagem em áreas homogêneas, denominadas de unidades da paisagem, possibilita seu estudo, através de métodos qualitativos e quantitativos, identificando, por exemplo, a estreita relação entre o uso e cobertura vegetal do solo, a erosão e o carregamento de sedimentos para os corpos d’água.
A paisagem pode ser definida como “mosaicos heterogêneos, formados por unidades interativas, sendo esta heterogeneidade existente para pelo menos um fator, segundo um observador e numa determinada escala de observação”, descrita por três fatores: o ambiente abiótico (formas de relevo, tipos de solo, dinâmica hidro-geomorfológica, parâmetros climáticos); as perturbações naturais (fogo, tornados, enchentes, erupções vulcânicas, geadas) e antrópicas (fragmentação e alteração de habitats, desmatamento, criação de reservatórios e implantação de estradas, entre outros), sendo que a Ecologia da Paisagem, contribui para o entendimento desses mosaicos antropizados, na escala no qual o homem está modificando o seu ambiente.
Autor
Antônio Francisco Evangelista de Souza é Geógrafo Físico, Mestre em Geociências -Unicamp, Atualmente está na Diretoria de Tecnologia e Planejamento da Sabesp (SP).
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