Qual o efeito dos resíduos do Viagra nos organismos aquáticos?

Alguém já parou para pensar sobre os possíveis efeitos do Prozac ou do Viagra,sobre os peixes, depois de sua passagem pelo corpo humano e pelo sistema de tratamento de esgoto – ou, o que é pior, sua deposição direta onde não existe tratamento, como é o caso da maioria das cidades brasileiras?

Se ainda não, é hora de pensar e prestar atenção ao trecho a seguir, escrito pelo pesquisador e químico norte-americano, Louis B. Fournier, da Star Environmental Inc., especial para a Águaonline:

“A maior parte das substâncias que são ingeridas pelos homens e animais passam por significativas mudanças químicas no trajeto pelo interior do corpo onde sofrem a ação dos compostos orgânicos. Saliva, ácidos estomacais e outras enzimas decompõem os alimentos e os remédios, menos aqueles que vão diretamente para a corrente sangüínea. De lá circulam pelo corpo onde são utilizados de várias formas ou enviados para o fígado para serem destruídos ou transformados em outros materiais, como amônia ou uréia, carreadas para a urina.

A maioria dos alimentos ingeridos, como o açúcar dos doces e outros produtos, também são convertidos em dióxidos de carbono e água e expelidos por nossa respiração ou armazenados como gordura. Raramente alguma coisa passa ilesa por nosso sistema digestivo, exceto o que é considerado refugo, que será excretado nas fezes, urina e no dióxido de carbono. Então nossos dejetos são tratados em sistemas sépticos, seja por processos aeróbicos ou anaeróbicos de biodegradação para a eliminação completa dos químicos remanescentes, como amônia, o dióxiodo de carbono e a água.

Durante o tempo de tratamento o esgoto pode entrar no sistema de água subterrânea ou mesmo pelos canais de escoamento pluvial – em casos de sistemas mistos ou onde não exista tratamento – o que pode significar a passagem dos químicos remanescentes. Felizmente, a sensibilidade dos testes analíticos vem se tornando mais acurada em comparação com o que acontecia anteriormente e hoje é possível rastrear componentes que não eram perceptíveis antigamente. Mas ainda não somos capazes de detectar, em alguns casos, concentrações muito pequenas de vitaminas e remédios ingeridos pela população. O que se pode dizer é que há algumas evidências de que substâncias podem passar pelo organismo humano ou animal e pelo sistema de tratamento sem serem completamente destruídas. Evidentemente que uma vez despejadas na água subterrânea, nos rios ou no oceano, podem ser diluídas não deixando traços significativos de concentração.

Que efeitos têm essas baixas concentrações, como detectar a ocorrência, como interagem sobre a vida aquática, etc. são somente conjecturas. Eu não tenho conhecimento de que estejam sendo feitos estudos sobre isto, nem mesmo em agências governamentais que deveriam tratar desse assunto. E nem que tenham razões para fazê-lo. Só espero que isso comece a acontecer. De qualquer forma, como está havendo um aumento populacional e como os esgotos tratados inadequadamente, ou não tratados, entram no ecossistema, há cada vez mais chances de que aconteçam esses impactos adversos na flora e fauna. Especialmente levando-se em conta que as agências governamentais e companhias farmacêuticas, que avaliam os impactos dos novos remédios e drogas, raramente consideram os efeitos secundários além do organismo primário”.

* O Dr. Louis B. Fournier é PHD em Química Analítica e Orgânica e vêm atuando na indústria química há mais de 30anos em várias partes do mundo. É o presidente e principal cientista da Star Environmental, Inc, uma empresa de consultoria e remediação, especializada no desenvolvimento e difusão de tecnologias novas, eficientes e com custo-benefício razoável, para limpeza do solo e da água subterrânea.

Qual o efeito do Viagra nos peixes?

Cientista norte-americano analisa o tema em texto especial para Aguaonline.

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