As manifestações artísticas, de um modo geral, refletem os acontecimentos da própria vida. Contam que um discípulo de Michelangelo Buonarroti, escultor nascido no século XV, perguntou a ele, certa vez: “Mestre, como consegues esculpir obras tão fantasticamente belas? De onde vem toda essa inspiração?” Michelangelo respondeu: “As formas já estão esculpidas dentro dos blocos de mármore, eu apenas retiro delas o que não lhes pertence”.
Victor Hugo disse, referindo-se ao compositor alemão Ludwig Van Beethoven, nascido no século XVIII, acometido por um processo de surdez: “Este surdo ouvia o infinito”.
Giuseppe Verdi, compositor italiano, nascido no século XIX, autor de 26 óperas, exprimia nas suas obras paixões fortes e verdadeiras, “eco perturbador do coração da multidão anônima, onde o herói vai buscar a sua humanidade”.
Na arte literária, Inácio Loyola Brandão, diz que o escritor é igual a todas as pessoas, ele somente coloca no papel o que elas vivem no cotidiano.
É a reprodução das normas, condutas, comportamentos e atitudes sociais? O que significa educar para a vida? Como reconduzir o processo pedagógico para que verdadeiramente a arte de educar possa compor este belíssimo contexto histórico-artístico-cultural? Deverá a educação, no contexto ambiental, reproduzir os valores que até então têm conduzido a humanidade para o desequilíbrio do meio ambiente, utilizando-se do processo tradicional de ensino-aprendizagem?
O desafio desta “arte” de educar em busca da consciência ambiental, reside na negação desta proposta convencional. A educação ambiental é, sem sombra de dúvidas, a ferramenta transformadora nas relações do ser humano com o seu meio ambiente, alicerçada num constante processo de ação-reflexão-ação, amplamente difundido por Paulo Freire. Educar para o meio ambiente é ousar, revolucionar, num processo contínuo e permanente.
Esta proposta educativa não pode ser a reprodução de uma cultura sócio-ambiental até então vivida em nosso planeta, pois ela surgiu pela identificação da necessidade de construção dessas novas relações. É o caminho que reflete os anseios daqueles que vêem a solução de sobrevivência das espécies, num novo modelo civilizatório.
A construção de um novo modelo civilizatório é o resultado da adaptação dos tradicionais conceitos e culturas sócio-econômico-ambientais para um novo panorama planetário. Não numa proposta globalizada de massacre cultural, mas num olhar maduro de compreensão e aceitação do processo evolutivo do ser humano e a partir daí, a reconstrução de uma nova filosofia de vida.
Dentro deste contexto, fazendo uma avaliação do quadro geral do nosso país, constatamos que a despeito da legislação existente os problemas ambientais persistem. Para que uma proposta educativa seja desenhada, na busca de um novo quadro ambiental para as diversas regiões brasileiras, deve-se primeiramente, identificar a origem desses desequilíbrios.
Mais uma vez, parafraseando Paulo Freire, identificamos esse processo educativo como uma arte libertadora. Libertadora de uma visão reducionista, limitada e antropocêntrica; libertadora de valores e posturas predatórias ao meio ambiente; e libertadora de comportamentos humanos que neguem um dos princípios fundamentais da educação ambiental, “a construção social de novos valores éticos”.
Um dia certamente, teremos um grande livro de arte, repleto de grandes e notáveis nomes de educadores que hoje e sempre escrevem e reescrevem em ações as histórias que levam ao caminho da construção do conhecimento e das relações respeitosas e generosas do ser humano com seu semelhante e destes com todas as outras espécies de vida que povoam este planeta.
* Fani Mamede é coordenadora de Projeto no IBAMA. Mestre em Educação e psicopedagoga, com Especialização em Educação Ambiental.
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