A biorremediação natural pode ser a solução para reduzir o impacto ambiental causado por vazamentos de gasolina que atingem os mananciais subterrâneos de água. As pesquisas, que vêm sendo realizadas desde 1994, pelo Laboratório de Remediação de Águas Subterrâneas, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), têm o apoio de especialistas do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes). Segundo o coordenador do grupo, professor Henry Xavier Corseuil, a particularidade da gasolina brasileira (que tem adição de 24% de álcool), já desperta atenção no exterior uma vez que outros países poderão passar a usar esta mistura, principalmente depois das controvérsias sobre o uso de aditivos como o MTBE (assunto abordado na edição n° 4 da Águaonline). O trabalho conta com resultados de seis dissertações de mestrado e de duas teses de doutorado em andamento, além de um experimento de campo inédito no país: a simulação e o monitoramento de um vazamento controlado.
Os testes de campo estão garantindo aos pesquisadores dados concretos sobre os processos de deslocamento e desaparecimento natural da ‘pluma’ de combustível no subsolo. O objetivo do estudo é comprovar a viabilidade da biorremediação natural como um suporte obrigatório na tomada de decisão para redução do impacto ambiental causado por derramamentos oriundos de postos de gasolina.
Corseuil afirma que a degradação do combustível ocorre naturalmente, e se este processo for quantificado adequadamente, em muitos casos, podem ser evitados grandes investimentos na aplicação de tecnologias corretivas.
Ação da natureza
“No solo há microorganismos que, ao se alimentarem, se encarregam de remover os contaminantes da área afetada pela gasolina”, explica o professor. Mas para que se obtenha benefícios da biorremediação natural, é necessário um conhecimento profundo dos processos que envolvem o transporte dos contaminantes e a degradação do combustível no subsolo – o que depende de estudos particulares de cada local. Entre as vantagens dessa tecnologia estão: a completa transformação dos contaminantes em produtos inócuos, a menor produção, geração ou transferência de resíduos de uma fase para a outra e o uso combinado com outras medidas de remediação.
Pesquisa de campo
Com a aprovação de órgãos ambientais, foi provocado o derramamento controlado de um volume de 20 litros de gasolina na água subterrânea da Fazenda da Ressacada (área da UFSC próxima ao bairro da Tapera, no Sul da Ilha). O deslocamento da ‘pluma’ do combustível no subsolo vem sendo acompanhada através do monitoramento de mais de 150 pontos de amostragem. De acordo com a equipe, em nove meses de acompanhamento, a pluma de combustível está a somente sete metros do local em que a gasolina foi derramada. Além disso, neste ponto, a concentração de benzeno atende o padrão de potabilidade de água, que é de 0,01 mg/L, segundo o Ministério da Saúde. Os dados vão viabilizar o desenvolvimento de modelos matemáticos de simulação para previsão do risco ambiental causado por derrames de gasolina que contenha mistura de álcool. Um software de simulação vem sendo desenvolvido em parceria com o Laboratório de Simulação Numérica em Mecânica dos Fluídos e Transferência de Calor, grupo de pesquisa do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC. “O software permitirá que se tenha uma ferramenta preventiva de análise de risco de contaminação. A idéia é ter um instrumento que possibilite a prevenção dos danos ambientais do acidente antes mesmo que ele ocorra.
Pelo alto custo das tecnologias de remediação ativa o ideal é que elas só sejam aplicadas nos locais de mais alto risco. Com os dados propiciados pela pesquisa será possível às distribuidoras de combustível e aos órgãos ambientais definir quais os locais que poderão necessitar de técnicas mais sofisticadas de remediação.
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