Clima: ainda há tempo para agir

Foto: IPCC – Fontes de Emissão do CO²

Um dos ecossistemas mais vulneráveis à mudança climática, a Floresta Amazônica, foi mencionado em apenas uma frase na síntese da segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado nesta sexta-feira (06/04).A síntese é uma versão do documento elaborada para governantes e formadores de opinião.

Enquanto o texto integral do relatório, dedicado a especialistas, alerta para o “desaparecimento de 10% a 25% da floresta amazônica até 2080”, o resumo político passa por cima da questão.

“Aumento de temperaturas associados à redução do nível de água no solo devem ocasionar uma substituição gradual da floresta tropical por cerrado no leste da Amazônia”, diz a síntese, sem ser mais específica.

Críticas

“O problema na diferença entre esses textos é que são duas linguagens completamente diferentes”, avaliou, em entrevista à BBC Brasil, Karen Suassuna, da Organização Não-Governamental WWF, que participou dos debates como observadora.

“A síntese política é o que vai para a mesa dos chefes de Estado, que não lerão as mil e poucas páginas do texto técnico. E quando se alivia a linguagem, o senso de urgência tende a diminuir e as medidas tendem a se suavizar”, afirma.

Graciela Magrin, coordenadora do capítulo dedicado à América Latina do relatório, concorda. “Os governos se sentem mais cômodos se lêem que a floresta vai ser substituída gradualmente, em vez de ler que dentro de alguns anos ela vai desaparecer.”

Para Suassuna, “o nível de detalhes apresentado (no texto político) não nos permite pressionar o governo e exigir medidas mais drásticas”. “Também poupa o Brasil de ficar na mira da opinião púbica mundial”, disse. Para ativista do WWF, linguagem da síntese favorece Brasil

Oficialmente, a explicação para a escassez de dados em relação aos riscos enfrentados pela Amazônia na síntese foi a falta tempo para debater o tema.

“Tivemos que derrubar as questões regionais porque já não havia tempo hábil para seguir debatendo. Lamentamos que outros pontos importantes também ficaram fora da síntese política”, desculpou-se Martin Perry, co-presidente do grupo de trabalho responsável pela segunda parte do relatório.

Por outro lado, o próprio IPCC reconhece que a síntese política é resultado de negociações entre os governos mundiais. “Os governos revisam os resultados. Então, os relatórios do IPCC refletem exatamente aquilo que todos os países, indistintamente, se sentem confortáveis para revelar”, explicou à BBC Brasil a brasileira Thelma Krug, membro do conselho do painel.

“Essa reunião é um jogo de interesses claro. Quem fica mais tempo e insiste mais é quem consegue o que quer”, disse Karen Suassuna, da WWF.

Fonte: BBC Brasil

Veja no arquivo ao lado a integra do documento em espanhol.

Equador quer conservar manguezais e água

Equador – Prensa Verde

Refletir sobre a estreita ligação entre a escassez de água e o corte de árvores e desmatamento. Esse é o alerta da Coordenadora Nacional para a Defesa do Ecossistema Manguezal (C-CONDEM) do Equador, ao lembrar que o Dia Mundial da Água deve ser uma data propícia para refletir sobre a defesa dos ecossistemas e sua estreita ligação com a escassez mundial de água, e com a deterioração ambiental mundial. Pero também para que cumpram com sua obrigação de proteger a água, os bosques, os manguezais já que sem eles não há oxigênio, não há vida”.

A C-CONDEM adverte que “a derrubada de bosques está entre as razões mais determinantes para a deterioração das fontes de água. A maioria dos que traçam as políticas ambientais no planeta não consideram a importância das árvores e como contribuem para regenerar o ar e produzir húmus e em conseqüência para armazenar a água na terra”.

Em sua opinião, “os adeptos do desmatamento não se dão conta de que a natureza está conformada por múltiplos ecossistemas inter-relacionados uns com outros, e que os seres humanos fazem parte como um todo integrado que quando afeta um dos elementos afeta a todos os outros”.

Adverte, ainda, que “segundo explicações científicas, a destruição dos bosques significa erosão que por sua vez representa perda de reservas de água; o desmatamento está relacionado com perda de húmus no solo, já que este se forma pelo material vegetal que se desprende das árvores, plantas e arbustos, sem húmus a terra deixa de cumprir sua função de esponja que absorve a água para reservá-la para futuro”.

Os manguezais, selvas e bosques são reservas da biosfera, sua destruição põe em grande risco a estabilidade do planeta; já se observa como se agudizaram os fenômenos atmosféricos como furacões, tormentas e inclusive um tsunami que resultou em funestos pelo nível de destruição que alcançaram. A barreira protetora dos bosques está sendo destruída pela visão economicista que transforma os recursos naturais em mercadoria.

Diante desta realidade a Coordenadora Nacional para a Defesa do Ecossistema Manguezal (C-CONDEM) chama a atenção das autoridades e dos grupos econômicos do país, para que freiem a irracional derrubada de manguezal e dos bosques em geral, que está afetando a regiões costeiras e a milhares de famílias de pescadores, coletores de concha, caranguejo e outros produtos do ecossistema manguezal.

Saiba mais

Veja no arquivo anexo mais dados sobre o problema.

ONU prevê secas e falta de água para mais de 1 bilhão

Márcia Bizzotto -De Bruxelas – BBC Brasil

Depois de uma semana de reuniões em Bruxelas, os mais de 400 cientistas que participaram da segunda parte de um relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) concluíram que mais de 1 bilhão de pessoas poderão sofrer com a falta de água a partir de 2020 e que as populações mais pobres do mundo serão as mais afetadas pelo aquecimento global.

A principal causa será o derretimento precoce da camada de gelo de grandes cadeias de montanhas, como o Himalaia e os Andes, causado pelo aumento da temperatura na Terra.

Elas funcionam como reservatórios, acumulando água em forma de gelo durante o inverno para liberá-la gradualmente com o derretimento no verão – um processo natural fadado a terminar, pois, segundo os cientistas, o derretimento já começou.

O relatório aponta que as montanhas Chacaltaya, na Bolívia, perderam quase toda a capa de gelo em 2004. Até o final do século, 75% do gelo dos Alpes também pode ter desaparecido.

Com a aceleração também do derretimento do gelo polar, as regiões costeiras e baixas serão inundadas, obrigando comunidades inteiras a se deslocarem.

O relatório também prevê que, se a temperatura global subir mais de 1,5º em relação aos índices de 1990, os ecossistemas regionais mudarão ao ponto de levar à extinção de cerca de 1/3 das espécies de animais e plantas do planeta.

O rendimento dos cultivos agrícolas e da pecuária também serão afetados, principalmente na África e Ásia.

“Atualmente há cerca de 900 milhões de pessoas passando fome no mundo e esse número deve aumentar por causa da mudança climática”, disse Martin Perry, co-presidente do grupo de trabalho responsável pela segunda parte do relatório.

A desnutrição, por sua vez, contribuiria com o aumento da incidência de doenças nas regiões mais pobres do mundo.

“Reduzir a vulnerabilidade da população em relação a saúde e desnutrição é o mais importante que deve ser feito pelos países em desenvolvimento”, completou.

Segundo os cientistas, o cenário mundial já começou a sofrer modificações por culpa do aquecimento global e as sociedades deverão enfrentar grandes dificuldades para se adaptar a seus impactos.

Medidas para a adaptação das sociedades poderão “reduzir ou atrasar as implicações da mudança climática pelos próximos 10 ou 15 anos”, mas “não serão suficiente para fazer frente a todos os impactos esperados do aquecimento global a longo termo”, alerta o documento.

De acordo com a ONU, as regiões que sofrerão mais consequências da mudança climática serão o Ártico, a África subsaariana, as pequenas ilhas, e os deltas asiáticos.

O Brasil e a América Latina não são consideradas regiões de alto risco.

A segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) analisa as implicações do aumento de temperatura da Terra em diversas áreas, como economia, ecossistema e saúde humana.

O documento é resultado de uma semana de debates entre 400 especialistas sobre 28 mil dados científicos copilados sobre todo o planeta.

O relatório está sendo lançado em quatro partes ao longo deste ano.

Na primeira parte, divulgada em fevereiro em Paris, os cientistas projetaram um aumento de até 4º C na temperatura da Terra até o fim deste século e culparam o homem pelo aquecimento global.

Em maio, na Tailândia, o IPCC divulgará a terceira parte, que abordará as formas de impedir o aumento da concentração de gases nocivos ao ambiente.

Veja no arquivo anexo a íntegra do documento para governos e lideranças, em espanhol.

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