Lodo de esgoto como adubo

O Brasil pode economizar US$ 500 milhões anuais com a reciclagem de nutrientes pela utilização do lodo de esgoto como adubo agrícola, segundo o pesquisador Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente. Ele, que vem se dedicando ao estudo, pesquisa e treinamento no uso desse resíduo do tratamento na sede da empresa em Campinas (SP), ressalta que essa técnica pode trazer grandes ganhos econômicos e ambientais.

Uma das vantagens é que o custo de transporte e aplicação do lodo na agricultura é muito menor do que o custo de sua disposição em aterros ou a sua incineração, que hoje são as alternativas mais adotadas. Em termos ambientais, o uso do lodo implica inicialmente que haja um tratamento do esgoto urbano, medida essencial para a recuperação e preservação dos rios. Em termos comparativos os números não deixam dúvidas: a produtividade aumentou em até 40% em uma lavoura de milho na estação experimental da Embrapa de Jaguaríuna.

A experiência feita pela Embrapa durou pouco mais de um ano e utilizou três parâmetros: o plantio do milho sem adubo, com adubo e com lodo. No primeiro caso, a plantação rendeu 645 quilos de milho por hectare; no segundo, 2.900 quilos; e, com o uso do lodo, cresceu 40%, atingindo a marca de 5.000 quilos por hectare.

Lodo melhora florestas

Um estudo, realizado desde 1998, pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF) e pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), em parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), comprova a eficiência do lodo de esgoto na adubação em áreas de reflorestamento. O projeto testou a aplicação de diferentes doses do resíduo na adubação florestal para analisar seus aspectos silviculturais, ambientais e econômicos comprovando o aumento de produtividade nessas plantações.

Num experimento de cinco hectares de povoamento de Eucalyptus grandis, verificou-se que o índice de crescimento na área – que recebeu 40 toneladas de biossólido por hectare – foi 30% superior à que recebeu apenas o fósforo. Comparando com as plantas que receberam a adubação mineral observou-se que, depois de dois anos, o volume cilíndrico do tronco das árvores que foram adubadas com o biossólido foi maior. “Percebe-se que, quando o efeito do adubo comercial está se esgotando, o do biossólido é mais prolongado, pois ele libera os nutrientes gradativamente”, afirma o coordenador do projeto Fábio Poggiani, professor do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP. O estudo mostrou que na fase inicial sempre será necessária a aplicação de algum tipo de adubo, principalmente o fósforo, para o arranque. Mas depois desta fase não será mais necessário qualquer tipo de adubo, afirma o professor, acrescentando que o lodo é rico em nitrogênio, fósforo, cálcio e micronutrientes, funcionando como um condicionador de solo.

O experimento revelou também que os metais pesados não saem do biossólido. “Eles ficam na primeira camada do solo, mas em quantidades muito pequenas, o que não representa perigo ao meio ambiente”, explica o professor Poggiani. Analisando o solo de dois centímetros abaixo da superfície, os pesquisadores perceberam que já não se encontram mais metais pesados. Todas as análises de solo realizadas mostram que as características químicas do solo não sofreram alterações. Ocorreu apenas um aumento de nutrientes.

Toda a água da área do experimento vem sendo monitorada periodicamente e não foi identificado qualquer tipo de alteração. Está sendo realizado ainda um acompanhamento da fauna, com levantamentos contínuos no local. Também não se observou mudanças na vida silvestre comparadas às existentes nos ecossistemas do entorno. A legislação ambiental obriga as cidades de grande e médio porte a estruturarem-se até 2007 para tratarem todo o seu esgoto. Assim, a tendência é de que se produza cada vez mais lodo.

A previsão é de que até 2003 somente o Estado de São Paulo produza mais de 1.000 toneladas/dia de lodo se todas as Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) estiverem tratando seu esgoto.

Florestas

O uso do biossólido como adubo vem sendo estudado por um conjunto de instituições, incluindo a Embrapa Meio Ambiente e o Instituto Agronômico de Campinas – IAC.

Fertilizante

Outra empresa que está elaborando projeto para utilizar o esgoto de seu processo industrial como fertilizante é a Blindex, do grupo Pilkington, fabricante de vidros para aplicações na construção civil e indústria automobilística. A empresa foi uma das pioneiras a obter a certificação ISO 14000 no Brasil.

Preocupação

O objetivo do projeto não é apenas o de desenvolver um sistema de adubação mais produtivo e barato. Nossa preocupação é darmos destino ao lodo urbano que será produzido cada vez em maiores quantidades em todas as cidades do país”.

Contaminação

Atualmente o destino da maior parte do lodo de esgoto são os aterros sanitários. O chorume, líquido altamente tóxico produzido pelo lodo, pode alterar o PH do solo, acidificando-o, ou até mesmo atingir os lençóis freáticos contaminando-os, e causando sérios danos ao meio ambiente.

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