Século XXI – A Era da Sede

Jornalista Cecy Oliveira

Dois importantes alertas científicos, divulgados nas últimas semanas, fizeram novamente soar o alarme sobre as reservas mundiais de água. Uma pesquisa, publicada na revista Nature, anuncia que o planeta poderá enfrentar secas violentas nos próximos anos.

E na celebração do Dia Mundial das Zonas Úmidas, a organização internacional Fundo Mundial para a Natureza (WWF), com sede em Genebra, chamou a atenção para o agravamento da escassez de água prevendo que no máximo em 50 anos de cada três pessoas duas viverão em regiões com deficiência hídrica.

A pesquisa – publicada numa das revistas científicas mais respeitadas do mundo – adverte que o suprimento de água doce poderá cair dramaticamente causando fome induzida por seca, agitação política e migração em grande escala pelo mundo. E mostra que flutuações extremas nos recursos hídricos da Terra durante o último milênio ocorreram de maneira natural na África Oriental e em outras partes do planeta. A preocupação dos cientistas é que a industrialização pode ser um gatilho para extremas mudanças climáticas em escala global no futuro.

A outra previsão, ainda mais catastrófica, estima que dentro de 25 anos, dois terços dos habitantes da Terra poderão sofrer escassez drástica de abastecimento de água. E entre as causas dessa redução das reservas estaria a deterioração das zonas úmidas, uma das mais importantes fontes de água doce, segundo a WWF.

A entidade prevê saldos deficitários de recursos hídricos em pelo menos 60 países até 2050. Hoje a falta de água de qualidade já afeta a metade dos 6 bilhões de habitantes do mundo e cerca de 1 bilhão não têm acesso à água potável. Entre as causas da redução das zonas úmidas está a transformação de pântanos, áreas de marinha, banhados, lagos e zonas de inundação dos rios em locais para aproveitamento agrícola, para moradia ou instalação de indústrias, com evidente prejuízo e alteração na paisagem e no funcionamento dos ecossistemas. Uma das funções mais afetadas é a da retenção e controle de inundações.

Uma das propostas feitas é instituir compensações financeiras para os países que optem por não construir grandes represas a fim de preservar reservas hídricas. “As soluções estão a nosso alcance, mas requerem esforços de todos”, disse Richard Holland, diretor da campanha Água para a Vida da WWF.

Ele exorta a que todos se envolvam nesse compromisso, desde habitantes de pequenos povoados isolados até as grandes indústrias e os principais governantes do mundo. A chave, segundo ele, é que as ações se concentrem em estabelecer quais são os interesses comuns da humanidade na conservação, gestão e desenvolvimento, para que seja possível estabelecer metas que possam ser alcançadas por todos.

Agricultura – a vilã

Para a WWF a agricultura é uma das atividades que mais tem contribuído para o desaparecimento das zonas úmidas, mas indústrias como a de papel e de cerveja e as que usam grandes quantidades de água para resfriamento – e até mesmo a construção de grandes barragens – vêm afetando a qualidade dos mananciais.

Autora

Cecy Oliveira é editora da Aguaonline e representante do Brasil no Comitê de Comunicação da Associação Mundial da Água (IWA) e idealizadora da Semana Interamericana da Água no Rio Grande do Sul.

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