Aprendendo com a água

A água, assim como a maioria dos recursos naturais, não é ilimitada e inesgotável. No Distrito Federal, a preservação dos mananciais hídricos começa a ser incentivada e um dos principais agentes dessa preservação são as crianças. É nelas que o projeto de extensão da Universidade de Brasília (UnB) Água como matriz ecopedagógica aposta como multiplicadoras da consciência ambiental de cuidado e atenção aos recursos hídricos.

O projeto trabalha desde 2003 com crianças de duas escolas localizadas em comunidades ribeirinhas do DF – Córrego do Palha e Nova Betânia – em uma ação pedagógica transdisciplinar. São atividades dentro e fora da sala de aula que trazem para o mundo da garotada a importância da preservação dos córregos. “Vamos enraizando os conceitos de educação ambiental e a idéia é que as crianças virem guardiãs dos mananciais”, explica uma das coordenadoras do projeto, a professora da Faculdade de Educação (FE) da UnB, Vera Lessa Catalão.

Em Nova Betânia, situada na região de São Sebastião e a 40 Km do Plano Piloto, o desafio é conscientizar os moradores da necessidade de preservar a mata ciliar – que fica nas bordas dos córregos e protege os leitos dos mananciais de enxurradas, além de dar mais qualidade à água. Lá, nove alunos dos cursos de Biologia, Pedagogia e Engenharia Florestal ajudaram os cerca de 400 estudantes do Centro de Ensino Médio da área a criar um viveiro, um jardim agroflorestal, uma minhoqueira e uma composteira, tudo cuidado pelos jovens da região.

No Núcleo Rural do Córrego do Palha, a demanda do projeto começou com os próprios moradores do local, que é exemplo do crescimento desordenado no DF. Pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), o lugar é um núcleo rural remanescente, ou seja, por ter mananciais hídricos a prioridade era para que a região se tornasse rural para preservar os córregos. No entanto, a área acabou ficando muito próxima do Plano Piloto e em lugar privilegiado – das encostas do núcleo rural pode-se ver o Lago Paranoá – e começou a ser indiscriminadamente parcelado, aumentando dessa forma a demanda de água. No início, a mina d´água abastecia 80 famílias, hoje são mais de 200.

A ameaça de não ter mais água incentivou os moradores a criarem uma associação comunitária, a Aspalha, que hoje trabalha incessantemente com educação ambiental dos moradores. “A comunidade é abastecida por uma mina d´água do Córrego do Palha e achou que seria importante começar um trabalho com as crianças, ensinar o uso responsável da água e para isso fomos chamados”, explica a professora Vera.

O projeto Água como matriz ecopedagógica já resultou em 12 monografias, pesquisas realizadas com as comunidades ribeirinhas de Nova Betânia e Córrego do Palha, além de uma dissertação de mestrado.

Para Vera Catalão, o desafio agora é criar um fórum interdisciplinar na Universidade em que pesquisadores, estudantes e professores de diversas áreas atuem com o tema da educação ambiental. “No Departamento de Pedagogia e Ecologia temos a disciplina Educação Ambiental, que não é e nem deveria ser obrigatória. No entanto, é importante tratar desde a formação dos futuros professores a questão, afinal os recursos ambientais não são ilimitados”, acredita a pesquisadora.

Saiba mais

SERVIÇO

O Projeto Água como matriz pedagógica atua nas comunidades de Nova Betânia e Córrego do Palha, com visitas semanais às escolas da região.

CONTATO

Professora Vera Catalão, da Faculdade de Educação (FE) da UnB, pelos telefones (61) 3307 3210 ou 8123 9293.

Planeta água

A água é o elemento mais abundante sobre a terra e totaliza ¾ do planeta, no entanto apenas 2,5% desse estoque representa a reserva de água para abastecimento humano. No DF, segundo relatório de especialistas, os mananciais têm vazão reduzida e estão em “estresse hídrico”, ou seja, em estado de alerta.

Ao todo, o Distrito Federal possui sete bacias hidrográficas e o impacto da urbanização e crescimento desordenado são os grandes responsáveis pelo alto índice de degradação das mesmas.

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