
As evidências de que o DDT (diclorodifeniltricloretano) e outros inseticidas lançados pelo homem na natureza e ingeridos pelos animais por meio dos alimentos acumulam-se nos tecidos gordurosos e provocam alterações hormonais e desregulação endócrina inclusive na espécie humana ganharam reforço com um novo artigo científico da Universidade de Brasília (UnB). Publicado em julho de 2006 no American Journal of Perinatology, o texto é resultado de 16 anos de estudo e sintetiza as principais pesquisas sobre o tema feitas nos último 10 anos.
O autor, José Garrofe Dórea, do laboratório de Bioquímica Nutricional da Universidade de Brasília (UnB) mostra que a poluição por substâncias orgânicas e persistentes (toxinas, pesticidas e solventes químicos) permanece no organismo por vários anos. As mulheres transmitem as substâncias nocivas para as gerações futuras durante a gestação e a amamentação. Apesar do alerta, ele defende que as mães não podem deixar de amamentar os filhos. “A lactação é o prolongamento da gravidez; não é uma opção da mulher, é uma determinação da natureza. A criança amamentada tem mais defesas no organismo, porque o colostro, que é o primeiro líquido que sai, funciona como vacina”, esclarece.
Além disso, outras espécies como as vacas também adquirem estas substâncias em maior quantidade e de forma mais permissiva. Assim as formulações infantis a base do leite de vaca estão sujeitas à mesma ou maior exposição à poluição.
No corpo dos animais, os poluentes desregulam o sistema endócrino responsável pela reprodução e pelo metabolismo celular. Eles “imitam” as moléculas desse sistema e confundem seus receptores naturais, que passam a não reconhecer as substâncias verdadeiramente naturais. Com isso, a poluição modifica o equilíbrio hormonal de todas as espécies contaminadas. O que era um fato conhecido para as espécies biologicamente inferiores agora afeta também a espécie humana.
O artigo destaca exemplos das conseqüências da poluição na saúde humana relatados por estudiosos do mundo inteiro. Alguns especialistas indicam que essas substâncias são um das principais causas da puberdade precoce. Outra pesquisa associa cada 15 mg/L a mais de exposição ao DDE (subproduto do DDT) com a redução em um ano da ocorrência da primeira menstruação em adolescentes de Michigan, nos Estados Unidos.
Também existem especulações de que a contaminação ambiental pode afetar o equilíbrio entre os gêneros nos países industrializados, com maior índice de poluição. As evidências apontam que a ingestão de substâncias tóxicas (por meio do consumo de peixes de águas poluídas) pela população do entorno dos Grandes Lagos, na América do Norte, fez aumentar a proporção de nascidos homens em relação às mulheres.
A primeira especialista no mundo a chamar atenção para os efeitos da poluição na cadeia alimentar foi a norte-americana Rachel Carson em seu livro A primavera silenciosa, lançado em 1962. Ela observou os produtos químicos jogados na natureza (o DDT) afetavam diretamente a reprodução dos pássaros, em especial das aves que se alimentavam de sementes contaminadas, peixes e de pequenos animais.
Depois dela, outros cientistas também identificaram modificações anatômicas em anfíbios, que foram associadas à poluição. Apesar do alerta, o mais nocivo dos poluentes, o DDT, continua sendo comercializado.
Segundo Dórea, embora ainda não tenha sido comprovado clinicamente que esses poluentes provocam efeitos nocivos no organismo humano, as evidências epidemiológicas apontam que sim. Como muitas dessas substâncias demoram anos para se degradar, somente as gerações futuras poderão se beneficiar do melhor controle ambiental.
Mas, para a geração de hoje, há pouco o que fazer. “É preciso cuidar do meio ambiente para o futuro. Hoje, se bebermos um leite de vaca, comermos uma carne ou mesmo um vegetal, possivelmente estaremos ingerindo alguma substância química com as características acima citadas”, diz o professor. Para os homens, não há muitas formas de limpar o organismo.
Fonte: ACS- Unb
DDT
O DDT (diclorodifeniltricloretano) é o inseticida mais conhecido e usado no mundo. Sua descoberta rendeu prêmio Nobel de medicina a Paul Müller em 1948. Usado para matar o mosquito Anopheles, vetor da malária, na primeira metade do século 20, ele se tornou comum nas lavouras brasileiras. Por ter um efeito prolongado, o DDT lançado no meio ambiente para matar insetos persiste no ar, nos rios e no solo contaminando os animais
O pesquisador
José Garrofe Dórea é professor do Departamento de Nutrição com pós-doutorado na Iowa State University e doutorado e mestrado em Bioquímica Nutricional pela Universidade de Massachusetts. Possui extensa lista de publicações em Nutrição, Saúde e Ambiente.
CONTATO
Professor José Garrofe Dórea pelos telefones (61) 3307 2510 e 3274 xx ou pelo e-mail:dorea@rudah.com.br
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