
Montezuma Cruz – O Diário do Norte do Paraná
Parecer técnico do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) confirmou: peixes mortos há três meses no rio Paraná e no Lago de Itaipu, examinados em laboratório, possuem alta concentração de cobre, um dos mais nocivos metais pesados do mundo. O cobre está entre as suspeitas de contaminação do armado (Pterooras granulosus), também conhecido por abotoado, levantadas pelo Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (Nupelia), da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
“Existem diversas fontes desse metal, por isso a situação exige paciência e muita eficiência”, explicou o biólogo Ângelo Antonio Agostinho, do Nupelia. As outras fontes às quais ele se refere são a indústria de curtumes e tratamento de madeira. Elas não atuam na região do rio Paraná. “A rigor, estamos no escuro. Seria essa a causa da mortandade massiva entre Porto Primavera e Guaíra”?, questiona Agostinho.
“O cobre produz necrose no fígado e no intestino do peixe”, alertou. Segundo o biólogo, é possível também que a contaminação por metal esteja afetando o cascudo, outra espécie de peixe, no entanto, com diferentes sintomas. Nele, o metal agiria na musculatura. Não é o caso do armado, explicou Agostinho, no qual as concentrações , em geral, são menores.
O Ministério Público, em Guaíra, pediu à UEM um laudo para apurar a denúncia feita pela Colônia de Pescadores Z-15. Nas três colônias ao longo do Lago de Itaipu trabalham cerca de 700 famílias que vivem da pesca do armado. “Nossos técnicos na região de Toledo estão incursionando na região, a fim de checar o que pode causar a elevada concentração do metal. Pode ser agrotóxico ou algicida”, informa o engenheiro Celso Augusto Nascimento, do IAP.
Agostinho lembrou que o sulfato de cobre já foi utilizado em outras regiões para combater a planta invasora Hydrilla verticillata, de origem asiática, que também apareceu no rio Tietê, em São Paulo. No Paraná, ela foi encontrada em planícies e reservatórios.
“Não acredito que alguma empresa do setor elétrico esteja usando o metal para combater a planta, porque isso é crime ambiental”, observou o cientista. Equipes chefiadas por biólogos do Nupelia e da Itaipu começaram a percorrer a região para fazer coleta de peixes mortos até o próximo domingo. Os peixes serão analisados pelo Departamento de Química da UEM.
Risco de consumo
A pesca do armado (Ptedodoras granulosus) no lago de Itaipu continua e o manuseio ou consumo dessa espécie poderá causar problemas à população da região afetada. Em 2005, a pesca do armado rendeu 302 toneladas. O armado é considerado a mais nobre espécie migratória do rio.
Desde a formação do Lago de Itaipu, o armado distribuía-se geograficamente no trecho inferior aos saltos de Sete Quedas. Após o fechamento da barragem, a formação do reservatório e o subseqüente alagamento dos saltos, a espécie alcançou os trechos superiores da Bacia do rio Paraná e também é encontrada acima da barragem dessa hidrelétrica.
Comentário do leitor
Nome: Mário Luís Orsi – orsi@uel.br
Comentário: Essa situação já havia sido cogitada de acontecer, devido a “controle” sobre alguns grupos vegetais, mas pouco ou nada se falou do verde de malaquita (substância proíbida em diversos países) que possui o óxido de cobre como elemento principal e que vem sendo usado indiscriminadamente nas aquiculturas. Juntos, essa contaminação com a citada no texto precisam ser investigadas exaustivamente, pois se confirmado o problema, a situação é de saúde pública e não só ambiental.
Sobre a malaquita
Conforme o especialista Mario Orsi o verde de malaquita (a base de óxido cuproso) é um composto famoso entre os aquaristas pois inibe e combate principalmente o ataque de fungos e bactérias, além de restringir a proliferação da algumas algas. Nesse contexto os aquicultores também utilizam esse composto, principalmente quando o cultivo é de fases jovens, como pós-larvas e alevinos que são mais sujeitos ao ataque de parasitas. Segundo ele o problema é que o cobre é altamente bioacumulativo e causador de sérias patologias em grandes concentrações. “Agora imagine o que consumimos de peixes oriundos de cultivos que possuem essa prática de tratamento e a quantidade de fazendas de criação de peixes que surgiram recentemente. Portanto creio que a vigilância sanitária federal deveria ir a fundo no assunto e detectar o problema que já foi alertado inclusive em congressos científicos. Além disso essas substâncias estão indo diretamente aos nossos rios e como já foi observado há aquicultores que utilizam o produto diretamente nos peixes confinados em tanques-rede de reservatórios públicos!!!”, alerta Orsi.
Cesp nega uso de substância contra mexilhão
A Companhia Energética de São Paulo (CESP) reforçou, em correspondência a O DIÁRIO, que “nunca fez qualquer tipo de operação ou utilizou qualquer tipo de produto que causasse envenenamento na fauna e flora da região”. A empresa opera atualmente seis usinas hidrelétricas.
A respeito da infestação de moluscos em tubulações da usina, fenômeno que começou na Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, na fronteira brasileira com o Paraguai, a nota afirma que o Programa de Manejo e Controle do Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei) nas usinas da CESP vem sendo desenvolvido de maneira conjunta e integrada pelas áreas de Meio Ambiente e Geração da Empresa. O controle desse molusco que saiu da China em cascos de navios e chegou às Bacias do Prata e Paraná a partir de 2001 é feito por meio do monitoramento da sua presença em equipamentos que possam afetar diretamente a geração de energia elétrica, explicou a empresa.
“A principal medida adotada é a execução de limpezas periódicas, com remoção mecânica e destinação adequada dos resíduos da infestação, praticadas quando das manutenções preventivas dos equipamentos. Na Usina Engenheiro Sergio Motta (Porto Primavera), o sistema de resfriamento das unidades geradoras é adicionalmente protegido pela adição de cloro, em quantidades inferiores às utilizadas para tratamento de água destinada ao consumo humano”, afirma a nota. (M.C.)
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