
Cecy Oliveira – editora da Aguaonline e presidente do Instituto Brasileiro de Estudos e Ações em Saneamento Ambiental (Ibeasa).
Qualquer cidadão confrontado com a enxurrada de dados “positivos” apresentados nos debates eleitorais deve estar se perguntando de que país afinal estão falando os candidatos.
A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD), feita pelo IBGE, mostra uma realidade bem diferente daquela pintada com cores otimistas pelos candidatos. E que nos envergonha como país que quer acento entre as maiores economias do mundo.
Como destacou Alan Infante, do PNUD, 11 Estados brasileiros têm índices de coleta e tratamento de esgoto piores do que os de Djibouti, um pequeno país da África. Lá 52% das casas têm saneamento adequado, índice ainda distante de grande parte dos lares brasileiros. O pior exemplo é do Mato Grosso do Sul onde apenas uma em cada seis casas tem infra-estrutura de água e esgoto decente, números que nos colocam em pé de igualdade com o Camboja.
Como se isto não bastasse, os dados revelam que estamos regredindo no quesito coleta e tratamento de esgoto. Em pelo menos 10 Estados o atendimento não foi capaz de absorver nem mesmo o crescimento vegetativo da população. Segundo o estudo do consultor da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe), Marcos Thadeu Abicalil, “a cobertura dos serviços tem se mantido estagnada fazendo com que o déficit absoluto total – urbano e rural – seja em 2006 maior do que era em 2002”.
Diferença entre orçado e aplicado
Os R$ 10 bilhões alardeados como investimento do atual governo estavam no orçamento mas não foram liberados. O efetivamente aplicado – através de empréstimos que serão pagos pelas companhias e serviços municipais, por meio da tarifa – ficou em 1/3 disso, como destaca a imprensa do país ao analisar o duelo de cifras infladas apresentadas nos debates.
Infelizmente o estudo da Aesbe indica que, a menos que os futuros eleitos para o Executivo – incluídos neste rol também os governadores – despertem para a importância deste tema o horizonte é sombrio. A perspectiva é de que mantido o atual ritmo de expansão, a universalização dos serviços urbanos de água somente só seja alcançada no ano 2034 e a dos serviços de esgotamento sanitário em 2054. A universalização dos serviços incluindo as áreas rurais é projetada para o ano 2060.
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