Estiagem: combatendo as causas e evitando as conseqüências

Cecy Oliveira

Nos últimos três anos o Rio Grande do Sul viveu as conseqüências de longas estiagens que provocaram perdas econômicas irrecuperáveis e transtornaram a vida de milhões de gaúchos. Muita gente sofreu com rodízios de abastecimento, racionamentos ou recebendo água com cheiro e gosto de algas. Mas, passada a fase mais aguda da crise a tendência é que todos esqueçam as agruras e imaginem que isto não voltará a acontecer.

Mesmo que o regime de precipitações não tenha mudado tanto assim, como alegam os meteorologistas, o fato é que a ausência de chuvas deixa à mostra a vulnerabilidade dos mananciais. Poluídos, assoreados, confinados, eles definham quando a estiagem se prolonga. Enchem-se de algas quando a maré baixa e não pode diluir a gigantesca carga de esgotos não tratados que recebem todo o dia.

Felizmente o Rio Grande do Sul, pioneiro em tantas lutas e causas, também acordou cedo para a gestão das águas sendo um dos primeiros Estados a ter, em 1989, o seu Comitê de Bacias – o do Rio dos Sinos, surgido a partir de um movimento da comunidade da região. Hoje já são mais 20 comitês que vêm apreendendo a lição simples de que a natureza bem tratada responde com fartura e beleza.

Pois é novamente o Comitesinos que avança em direção a um planejamento tendo como unidade a bacia hidrográfica, previsto desde 1994, quando o Rio Grande do Sul aprovou sua Lei de Recursos Hídricos. O Plano de Saneamento para a Bacia dos Sinos, que começa a ser elaborado, vai tocar em um ponto crítico que afeta e deteriora grande parte da rede hídrica gaúcha: a falta de tratamento dos esgotos.

A proposta é planejar a implantação de sistemas de coleta e tratamento dos esgotos domésticos em todos os municípios que estão na área de abrangência da bacia hidrográfica dos Sinos, passo essencial para a sua revitalização.

Autora

Cecy Oliveira é editora da Aguaonline e presidente do Instituto Brasileiro de Estudos e Ações em Saneamento Ambiental (Ibeasa) – ibeasa@aguaonline.com.br.

Este artigo foi publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), no dia 28/07/2006.

Pacto dos gaúchos

Parece pouco mas é a primeira vez que se tenta, através do planejamento, unir esforços e responsabilidades tendo como foco a recuperação do manancial.

Isto não significa desmerecer o trabalho feito até aqui pelo próprio Comitesinos e pelos demais comitês que, sem contar com todos os instrumentos previstos na Lei 10.350 e com recursos minguados, vêm tentando se estruturar e trabalhar.

Acompanhar e apoiar esta tarefa do Comitesinos pode ser a grande lição que duramente precisamos aprender e que permita ao Rio Grande do Sul enfrentar essas adversidades climáticas e minimizar as conseqüências.

É talvez o segundo grande pacto que os gaúchos precisam fazer para olhar com mais confiança o futuro: cuidar com mais atenção de seus recursos hídricos. Sem eles em boas condições não existe desenvolvimento, progresso e nem mesmo vida.

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