Os projetos de educação ambiental devem ser estruturados de forma mais sistematizada para ter sustentabilidade. Hoje uma das principais falhas desses programas refere-se às questões econômicas e financeiras. Uma tese de doutorado da Universidade de Brasília (UnB), mostrou que, dos programas nessa área selecionados e analisados, cerca de 14% dos 43, apresentavam dados sobre os investimentos financeiros e apenas 5% traziam dados sobre o futuro econômico. Não são apresentadas informações sobre a reaplicação e a busca por novos recursos.
“Educação ambiental devem basear-se na sustentabilidade”, explica Dusi
O estudo de Raul Luís de Melo Dusi, defendido em março de 2006 no Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas traz análises documentais de 43 programas de educação ambiental. São resultados de ações promovidas pelo Estado (18), por ONG’s em parceria com o Estado (21) e por empresas privadas (04); que aconteceram no período de 1990 a 2004.
Além da questão econômica/financeira Dusi acredita que também falta incentivo para o uso de tecnologias. No caso de ONGs que trabalham com o lixo, muitas não possuem máquinas de lavagem dos produtos recicláveis e no caso de quem trabalha com pescados, elas não têm frigoríficos. “São procedimentos que agregam valor ao produto e conseqüentemente melhoram o nível de vida dos envolvidos”, explica Dusi. Apenas 37% das empresas apresentam aspectos relevantes para análise do impacto tecnológico e 56% não apresentaram.
Os dados do impacto tecnológico nos programas analisados refletem o baixo incentivo nessa área no país. “Seria necessário a capacitação de pessoas e o desenvolvimento de programas de educação alicerçados nos princípios do desenvolvimento sustentável. Os projetos deveriam possibilitar, por exemplo a busca de alternativas no emprego de energia e a substituição de produtos químicos. Resumindo, ações que, efetivamente, tornem-se concretas e melhorem a qualidade de vida dos envolvidos”, diz o biólogo.
A análise também mostrou que quase metade (49%) dos programas capacitaram multiplicadores. “O envolvimento da comunidade é um fator muito importante para transformar o comportamento da comunidade local”, opina Dusi. Mas uma observação feita pelo biólogo, é que a maioria das ações não garantem a própria continuidade após o proponente do programa sair de cena.
Como resultado da pesquisa Dusi propõe uma metodologia de implementação de projetos de educação ambiental, que utiliza cinco formulários. Esta proposta foi criada com base nos quatro princípios citados pelo estudioso. Mas Dusi, garante que os resultados de projeto só virão a médio e longo prazo.
De 43 programas analisados, apenas quatro promoveram mudanças
• 91% consideram os impactos ecológicos e a utilização dos recursos naturais.
• 96% apresentam aspectos relevantes para análise do impacto social.
• 79% apresentam aspectos relevantes para análise dos impactos econômicos.
• Apenas 37% apresentam aspectos relevantes para análise do impacto tecnológico.
Raul Luis de Melo Dusi é biólogo, doutor e mestre em ecologia pela UnB. É servidor público e atualmente trabalha na assessoria técnica da Secretaria de Estado de Administração de Parques e Unidades de Conservação do Distrito Federal – E-mail: rldusi@terra.com.br.
Fonte: Roberto Fleury/UnB Agência
Preocupante
Dusi avalia, que do total de projetos analisados, apenas quatro promoviam mudanças efetivas na comunidade. “Não quero criticar a educação ambiental da forma que é feita, mas precisamos dar um passo a frente”, afirma o biólogo.
Para modificar o cenário encontrado e propor ações transformadoras, Dusi propõe que os projetos de educação ambiental devam basear-se nos princípios da sustentabilidade: ações ecológicas, sociais, econômicas e tecnológicas. “Esses pressupostos são baseados na proposta da Unesco, adaptados da Agenda Equatoriana de Educação e Comunicação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável”, informa Dusi.
Segundo ele, os programas pesquisados priorizavam ações que envolviam o meio ambiente. Os dados revelam que 91% dos programas consideram os impactos ecológicos e a utilização dos recursos naturais, mas não se preocupam com a questão tecnológica, como foi dito anteriormente. “Um programa completo é bem maior do que esse contexto” explica Dusi.
Social
Os aspectos sociais são considerados em função do total de pessoas diretamente atingidas no projeto, em relação à saúde e bem-estar dos habitantes e em relação aos sistemas naturais. Nesse quesito, Dusi acredita que os desempenhos foram relativamente bons, mas apenas ele não é o suficiente para uma educação ambiental sustentável.
Em 54% dos projetos a comunidade estava envolvida e 81% deles promoviam mudanças no estilo de vida dos envolvidos.
Leave a Reply