
Irene Sesana/UnB Agência
Os aqüíferos (reservatório de águas subterrâneas) na cidade de Maceió (AL) têm hoje mais sal que na década de 1970. A concentração desse elemento chegou a 1.800 mg/L – o teor máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 250 mg/L. Se o processo de exploração da água indiscriminada e a ocupação urbana desordenada continuarem, o resultado será: encarecimento do custo da água e o comprometimento no abastecimento, já que o processo de salinização é irreversível. Hoje 75% do abastecimento da cidade são feitos por águas subterrâneas e 25% de águas superficiais.
E o problema detectado em Maceió pode ocorrer em outras cidades do litoral. Recife (PE) já sofre com isso, mas Natal (RN) e João Pessoa (SE) também correm risco de ficarem comprometidas no futuro. O alerta é do doutor em Geologia pela Universidade de Brasília (UnB) Wilton José Silva da Rocha, autor da tese de doutorado Estudo da Salinização das Águas Subterrâneas na Região de Maceió a partir da Integração de dados Hidrogeológicos, Hidrogeoquímicos e Geoelétricos, defendida em junho de 2005, sob a orientação do professor do Instituto de Geociências José Elói Guimarães Campos.
Na década de 1970, em Maceió, havia cerca de 200 poços de exploração de água. Hoje, são 200 apenas da Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento do Estado de Alagoas (Casal) e mais 1,5 mil poços de uso particular. Em algumas áreas o abastecimento é complementado com caminhões-pipa. O crescimento da cidade e a conseqüente impermeabilização em função do uso e ocupação dos terrenos impediram que a água da chuva se infiltrasse na terra, para alimentar o lençol freático e seguisse o ciclo natural da água. Assim, ocorreu um rebaixamento excessivo do nível do lençol, provocando aumento da sanilização das águas subterrâneas. “A exploração desordenada faz com que a água marinha avance continente adentro por baixo do terreno e a água doce passe a ficar salgada”, explica Rocha.
O agravante é maior ainda pela falta de legislação para gerenciar esses recursos. A Secretaria Executiva de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Naturais de Alagoas, órgão responsável pela implementação da política de recursos hídricos (Lei Estadual 5.965 – 10 de novembro de 1997) gerencia a exploração da água através do decreto de outorga de direito de uso das águas mas ainda não foi criada uma lei de uso e proteção das águas subterrâneas. “A legislação deve ser criada o mais rápido possível”, ressalta Rocha.
O pesquisador avaliou 1,6 mil análises físico-químicos da Casal coletadas desde a década de 1970 até hoje e informações de relatórios técnicos de poços. Rocha verificou as regiões onde a situação é mais complicada. São os bairros do Bebedouro, Centro, Jatiúca, Ponta Verde, Farol, Mangabeiras e Poço. “A salinização já ocorre e, se nada for feito, a situação pode piorar”, alerta Rocha.
O pesquisador recomenda que os órgãos responsáveis pela gestão de recursos hídricos façam um levantamento da quantidade de poços construídos para saber o volume de água retirado. Também seria importante elaborar um mapa com as áreas de maior vulnerabilidade e o ordenamento do uso do solo, além da realização de estudos para viabilização da recarga de água artificial a partir da água da chuva, com o uso de calhas e caixas de armazenamento da água. Esses órgãos também deveriam sistematizar o cadastro de abertura de novos poços. Os poços abandonados poderiam ser recuperados para utilização de estudos de monitoramento e projetos de recarga artificial e os não aproveitados deveriam ser cimentados para que não se tornem fontes de contaminação.
CONTATO
Doutor em Geologia Wilton José Silva da Rocha pelo telefone (82) 8822 3382 ou 3325 3224 pelo e-mail wjsrocha@superig.com.
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