Antonio Zuccolo (*)
Por que os problemas de saneamento ainda trazem tantos transtornos ao administrador público? Por que ele reluta tanto diante das inúmeras soluções que o mercado dispõe? Na minha opinião o problema vem de erros muito bem arranjados. E de onde vêm os erros? Com certeza não é da estória “do Fulano que diz que Beltrano disse que de Cicrano ouviu”. A coisa é mais complexa.
Há quem dividida os erros em quatro categorias: idola tribus, erros da natureza humana, do hábito de julgarmos tudo de acordo com idéias adquiridas; idola specus, da nossa inclinação em querer reduzir tudo que vemos a alguma ciência que preferimos; idola fori, do fato das palavras poderem ser tomadas em várias acepções; e, idola theatri, dos incontáveis erros do sistema. Quando todas as categorias se unem temos uma grave crise de governança política e institucional. Acho que é esse o nosso problema.
Entre 1995 e 2002, portanto em três administrações municipais diferentes, fiz prospecções em mais de 200 cidades brasileiras e, recentemente ao reunir as memórias, pude constatar que:
1) 92% dos administradores acreditam que os problemas de água e esgotos só poderão ser resolvidos com “recursos a fundo perdido”;
2) 95% atribuem a existência do problema a causas políticas;
3) 98% não conseguem descrever o problema de forma aceitável;
4) 100% acreditam que o problema reside na crise econômica vivida pelo país.
De tudo eu tiro uma conclusão: Água ainda não é prioridade! As cidades não desaparecem por ter problemas de água.
Então, diante desse quadro, como fazer com que os problemas de água sejam priorizados? Na minha opinião a grande falha está na abordagem. Na comunicação. O cenário, do qual nenhum administrador consegue fugir, seria o seguinte:
I) Sabem que tem problemas de saneamento, mas não sabem qual seria a melhor combinação entre recursos de gestão e capital capaz de resolvê-los;
II) Freqüentemente recebem visitas de técnicos e representantes comerciais que apresentam propostas de produtos e serviços com excesso de funcionalidade, mas que não oferecem garantias de resultado prático;
III) Reconhecem que suas tarifas são baixas, mas não encontram um caminho seguro para ajustá-las para valores realistas;
IV) Sabem que só um projeto legítimo pode vencer as barreiras do legislativo;
V) Precisam de ajuda para resolver o problema de saneamento.
Portanto a saída para que o saneamento seja uma prioridade efetiva seria através de um plano de comunicação que destacasse esse cenário.
Quem sabe não estamos precisando de uma agência para nosso marketing institucional!
Pesquisa Aguaonline
Veja outros textos já publicados sobre este tema:
Uma paixão comum – Aguaonline 110;
Comunicação é fundamental para mobilizar –
Aguaonline 111;
Educação, conscientização e mobilização para salvar a água – Aguaonline 111
Comunicadores se comprometem com o tema água – Aguaonline 164
Divulgar é tão importante quanto fazer
– Aguaonline 188.
Autor
Antonio Carlos Franco Zuccolo é engenheiro, especialista em saneamento e consultor na área de desenvolvimento institucional.
Fonte
Este artigo foi publicado originalmente no site: www.rech.tk.
Principais falhas
A primeira falha de comunicação que a maior parte de nós costuma cometer é a de não saber se colocar no lugar do administrador. É preciso ouvir o que ele tem a dizer, e “delegar” poderes ao mesmo com o objetivo de construir um cenário para a formulação de uma solução.
Já a segunda falha decorre da aplicação intempestiva da correção da primeira, uma vez que é comum sugerir soluções a partir dos problemas apresentados na fase em que se estabelece contato.
O fundamento de qualquer venda é conseqüência da lealdade conquistada junto ao administrador, que por sua vez é resultado da formulação adequada de soluções, de onde se cria um cenário.
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