
Grande parte do esgoto doméstico ainda é jogado sem tratamento nos mananciais.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA analisa em sua próxima reunião, nos dias 11 e 12 de julho, proposta de regulamentação para o uso de lodos de esgoto na agricultura. A resolução – cuja versão mais recente é produzida no arquivo abaixo – foi parcialmente analisada na última sessão do colegiado, realizada no final do mês de maio.
Na avaliação do Conama “a produção de lodos é uma característica intrínseca dos processos de tratamento de esgotos e tende a um crescimento no mínimo proporcional ao crescimento da população humana e a solução para sua disposição é medida que se impõe com urgência já que correspondem a uma fonte potencial de riscos à saúde pública e ao ambiente e potencializam a proliferação de vetores de moléstias e organismos nocivos”.
Uma linha de pesquisa vem sendo desenvolvida por várias universidades brasileiras, com o apoio da Finep, através do Prosab, para buscar soluções adequadas para estes resíduos. Na apresentação do projeto – www.finep.gov.br/prosab/lodo.htm – é destacado que a disposição final dos resíduos dos sistemas de tratamento de água e esgoto representa um grande problema de âmbito mundial, por razões técnicas e econômicas. A disposição desses resíduos é uma operação complexa que geralmente ultrapassa os limites da estação e exige a interface com outras áreas de conhecimento.
A gestão dos resíduos, segundo o Prosab, normalmente representa 20 a 60 % dos custos operacionais de uma Estação de Tratamento de Água ou Esgoto. No Brasil a coleta esgotos atende a 40,12% da população urbana. Do volume coletado, apenas 40% atualmente recebe tratamento adequado, gerando perspectivas significativas de crescimento e de geração de lodo.
Grande parte deste resíduo até recentemente era lançada indiscriminadamente em rios. No entanto, com a evolução da legislação ambiental, as operadoras vêm sendo obrigadas a destinar adequadamente estes resíduos. Uma outra fonte geradora de lodos são as estações de tratamento de água (ETAs), com o agravante de que estes lodos, geralmente diluídos na água de lavagem dos decantadores e filtros, são acrescidos de elementos químicos oriundos dos produtos usados para o tratamento, como o sulfato de alumínio e outros.
Na introdução do livro Aproveitamento do Lodo Gerado em Estações de Tratamento de Água e Esgotos Sanitários, Inclusive com a Utilização de Técnicas Consorciadas com Resíduos Sólidos Urbanos – um dos produtos gerados pelo Prosab – é ressaltado que nos Estados Unidos, a produção de lodos no ano 2000 foi estimada em 7,1 milhões de toneladas, devendo chegar a 8,2 milhões em 2010 (EPA, 1999). Na Europa, a produção atual de 8,9 milhões de toneladas deverá alcançar 10,1 milhões já em 2005, decorrente dos grandes investimentos na expansão desses serviços (Davis & Hall, 1997).
Mais de 90% do lodo produzido no mundo tem sua disposição final por meio de três processos: incineração, disposição em aterros e uso agrícola. A forma predominante de disposição final desses resíduos é o chamado uso benéfico, predominantemente por intermédio do uso agrícola, adotado para aproximadamente 55,5% do lodo produzido nos Estados Unidos, devendo alcançar 61,5% até 2010 (EPA, 1999). Na Europa, a reciclagem e a disposição em aterros sanitários são as alternativas predominantes, onde são direcionados, para cada uma delas, cerca de 40% do lodo produzido (Davis & Hall, 1997)
Atualmente, a produção de lodo no Brasil está estimada entre 150 mil e 220 mil toneladas de matéria seca por ano. Devido aos baixos índices de coleta e tratamento de esgoto ainda existentes no país e à pressão da sociedade por melhores condições ambientais, há uma potencial tendência de ocorrer um incremento substancial na quantidade de lodo a ser disposto na próxima década.
Na publicação é destacado, ainda, que “a população urbana brasileira está estimada em 116 milhões de habitantes, porém apenas 32 milhões têm seu esgoto coletado, o qual, se fosse integralmente tratado, acarretaria uma produção de 325 mil a 473 mil toneladas por ano de lodo”.
No mesmo livro, o pesquisador João Sérgio Cardoso, ao abordar o Processamento de Lodos de Estações de Tratamento de Água (ETAs) lembra que “tradicionalmente, no Brasil, a maior preocupação tem sido em relação aos resíduos gerados em estações de tratamento de esgoto (ETEs), e pouco tem sido discutido em relação aos rejeitos gerados em estações de tratamento de água de abastecimento (ETAs). Ressalta-se que, segundo dados da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), existem cerca de 7.500 estações de ciclo completo ou convencionais das mais diversas capacidades.
Esses sistemas geram rejeitos nos decantadores e filtros. Em função de questões operacionais e de projeto, os resíduos gerados nos decantadores possuem maior concentração de sólidos. Esses caracterizam-se por possuírem grande umidade, maior que 95%, estando, geralmente, sob forma fluida. Um dos objetivos de trabalhar com esse lodo é a redução de seu volume, a fim de que ele possa ser disposto de forma adequada, reduzindo custos de transporte e disposição final e, obviamente, os riscos de poluição do meio ambiente”.
O especialista destaca, também, que “além desses aspectos, esse material é classificado pela série de normas NBR 10.004 como resíduos sólidos, não sendo permitido seu lançamento in natura em coleções de águas superficiais. No entanto, em nosso país essa prática é realizada pela maioria esmagadora dos sistemas de tratamento de águas, promovendo impactos ambientais, algumas vezes intensos. As Leis 9.433, de 8 de janeiro de 1997 – “Política Nacional de Recursos Hídricos”, e 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 – “Crimes Ambientais”, trazem em seus conteúdos condições que deverão exigir nova postura dos gerentes dos sistemas de tratamento de águas diante dos resíduos gerados e sua disposição no meio ambiente. Um dos problemas mais sérios nesse contexto é a redução do volume de lodo produzido ou a diminuição dos volumes a serem dispostos.
E alerta que “em função da quantidade excessiva de água presente nesses rejeitos, a remoção desta é imperativa na solução do problema. Vários são os métodos que podem ser utilizados nessa tarefa, podendo ser aplicados sistemas naturais ou mecânicos, como: lagoas de lodo, leitos de secagem, filtros-prensa, centrífugas, prensa desaguadora e filtros a vácuo. A recuperação de coagulantes também é aplicada em vários países.
Outro ponto ressaltado pelo pesquisador é de que a introdução das séries de normas ISO 9000 e ISO 14000 tem propiciado discussões com foco na melhoria dos serviços prestados à população. Nesse aspecto, o gerenciamento adequado dos sistemas de tratamento de águas de abastecimento será fundamental para que estes não prejudiquem o meio ambiente. Para tanto, os responsáveis por essa gestão devem estar devidamente preparados para equacionar os problemas que exigem ampla visão do funcionamento dos sistemas operados. Dessa forma, a conscientização sobre o tema e a busca de soluções adequadas tornam-se fundamentais no processo de gerenciamento. As condições de cada ETA, dos mananciais, dos produtos químicos, da limpeza dos decantadores e de sua disposição nos cursos d’água devem ser analisadas com critério pelos responsáveis. A partir daí é importante que sejam estabelecidas políticas de médio e longo prazos a fim de que a questão seja solucionada”.
Leia na próxima edição:
As novas séries de ISO 24000 aprofundam exigências para ETAs e ETEs.
Empresa gaúcha produz floculante orgânico para tratamento de água e esgoto
Proposta de regulamentação
Veja no arquivo abaixo a proposta de regulamentação.
Veja outras matérias sobre este assunto:
Lodo de esgoto vira matéria-prima – Aguaonline 159
Colômbia pesquisa descontaminação – Aguaonline 170
UFRJ cria centro para capacitação em saneamento – Aguaonline 215
O que é Prosab?
Prosab tem produzido inúmeras publicações sobre tratamento de lodos de ETAs e ETEs.
O Programa de Pesquisas em Saneamento Básico – PROSAB – tem por objetivo apoiar o desenvolvimento de pesquisas e o aperfeiçoamento de tecnologias nas áreas de águas de abastecimento, águas residuárias e resíduos sólidos que sejam de fácil aplicabilidade, baixo custo de implantação, operação e manutenção e que resultem na melhoria das condições de vida da população brasileira, especialmente as menos favorecidas.
Em termos de esgotamento sanitário, segundo dados da PNAD/IBGE de 1997, verifica-se que 8,7 milhões de domicílios urbanos, representando cerca de 33 milhões de pessoas, não tinham acesso a um serviço adequado. Esse déficit pode ser efetivamente maior se levada em conta a precariedade de muitas redes de coleta e fossas sépticas, o que implica que 80% do esgoto coletado não tenha nenhum tipo de tratamento, sendo despejado, na sua quase totalidade, in natura, nos corpos de água ou no solo, com sérios danos ao meio ambiente e às condições de saúde da população.
Adicionalmente, observa-se que cerca de 10% dos domicílios não dispõem de sistema de coleta de lixo. Essa situação impõe a necessidade de pesquisas que possibilitem a implementação de políticas públicas e de ações que possam contribuir para sua erradicação.
O objetivo geral do Programa é desenvolver e aperfeiçoar tecnologias nas áreas de águas de abastecimento, águas residuárias e resíduos sólidos que sejam de fácil aplicabilidade, baixo custo de implantação, operação e manutenção e que resultem na melhoria das condições de vida da população brasileira, especialmente os estratos menos favorecidos.
São objetivos específicos do Programa, pesquisas que:
• tenham como base a revisão do padrão tecnológico atual, de forma a permitir a ampliação da cobertura dos serviços, estabelecendo normas e padrões adequados que reconheçam as particularidades regionais e locais e os diferentes níveis de atendimento à população, preservando ou recuperando o meio ambiente;
• busquem a difusão e a transferência de tecnologias para o domínio público;
• estimulem processos participativos, através da formação de redes cooperativas de pesquisas em torno de temas previamente selecionados.
Linhas de Atuação:
1. Águas de Abastecimento
2. Águas Residuárias
3. Resíduos Sólidos .

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