A exposição a riscos ambientais provoca quase 1/4 das doenças

Cerca de 25% da carga de morbidade mundial se deve à exposição a riscos ambientais evitáveis. Um informe da Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente publicado, demonstra que grande parte destes riscos ambientais podem ser evitados mediante intervenções bem orientadas. O estudo também estima que mais de 33% das doenças das crianças menores de cinco anos se deve à exposição a riscos ambientais. A prevenção destes riscos poderia salvar a cada ano a vida de muitíssimas pessoas, incluídas 4 milhões de crianças, sobretudo nos países em desenvolvimento.

O informe, intitulado Preventing disease through healthy environments – towards an estimate of the environmental burden of disease, é o estudo mais amplo e sistemático realizado até o momento sobre uma ampla variedade de doenças e traumatismos provocados por riscos ambientais previníveis. A análise, que se centra nas causas ambientais das doenças e na influência dos fatores ambientais em diversas moléstias, proporciona novos conhecimentos acerca da relação recíproca entre o meio ambiente e a saúde. Foram incluídas estimativas realistas acerca do número de mortes e casos de doença e incapacidades que poderiam evitar-se cada ano melhorando a gestão ambiental.

“O informe é uma contribuição importante ao trabalho que se está levando a cabo para definir melhor as relações entre o meio ambiente e a saúde”, disse o Dr. Anders Nordström, Diretor Geral interino da OMS. “Sabíamos que o meio ambiente influi muitíssimo na saúde, mas nunca havíamos tido estimativas tão precisas como estas, que nos ajudam a demonstrar que os investimentos racionais destinados a criar um entorno favorável podem ser uma estratégia eficaz para melhorar a saúde e alcançar um desenvolvimento sustentável”.

Segundo as estimativas, a cada ano se registram mais de 13 milhões de mortes provocadas por causas ambientais previníveis. Quase 1/3 da carga de mortalidade e morbidade nas regiões menos adiantadas se deve a causas ambientais. Mais de 40% das mortes por malária e, segundo as estimativas, 94% das mortes por doenças diarréicas – duas das principais causas de mortalidade infantil – poderiam ser evitadas melhorando a gestão do meio ambiente.

As quatro doenças em que mais influem as más condições ambientais são: a diarréia, as infecções das vias respiratórias inferiores, diversas formas de traumatismos involuntários e a malária.

Entre as medidas que poderiam ser adotadas imediatamente para reduzir esta carga de morbidade devida a riscos ambientais figuram as encaminhadas a promover uma reservação segura da água doméstica e a adoção de práticas de higiene mais adequadas; o uso de combustíveis menos contaminantes e mais seguros; o aumento da segurança das construções; a utilização e gestão mais prudente de substâncias tóxicas, tanto no ambiente doméstico como no lugar de trabalho, e uma melhor gestão dos recursos hídricos.

“Neste estudo se indica pela primeira vez de que maneira e em que medida os riscos ambientais influem em diferentes doenças e traumatismos”, disse a Dra. Maria Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS. “Também se mostra com muita clareza os benefícios que poderiam derivar-se de diversos investimentos simples e coordenados tanto para a saúde pública como para o meio ambiente em geral. Exortamos os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente, assim como a outros associados, a que colaborem para que estes benefícios ambientais e de saúde pública se tornem realidade”.

Nesta pesquisa, baseada em um exame sistemático das publicações pertinentes, assim como em respostas de mais de 100 especialistas a pesquisas de opinião realizadas em todo o mundo, se determinam doenças concretas devidas a riscos ambientais conhecidos, e se indica o grau de influência destes fatores. “Foram reunidos os melhores dados de que se dispõe na atualidade sobre as relações entre os riscos ambientais e a saúde, para 85 categorias de doenças e traumatismos.

Já que a pesquisa se centra estritamente nos riscos ambientais que é possível modificar, também podemos ver em que casos a combinação de medidas sanitárias preventivas com uma melhor gestão do meio ambiente, incluída sua descontaminação, pode dar melhores resultados. De fato, agora se dispõe de uma “lista de objetivos” em que figuram os problemas que devem ser abordados com mais urgência em matéria de saúde e meio ambiente”, ressaltou a Dra. Neira.

Números sinistros

No quadro abaixo se indica o número de mortes anuais provocadas por estas doenças:

• 2,6 milhões de mortes anuais por doenças cardiovasculares;

• 1,7 milhão de mortes anuais por doenças diarréicas;

• 1,5 milhão de mortes anuais por infecções das vias respiratórias inferiores;

• 1,4 milhão de mortes anuais por cânceres;

• 1,3 milhão de mortes anuais por pneumopatia obstrutiva crônica;

• 470.000 mortes anuais por acidentes de trânsito;

• 400.000 mortes anuais por traumatismos involuntários.

No informe se demonstra que, de uma ou outra maneira, o meio ambiente influi consideravelmente em mais de 80% dos casos destas doenças graves.

Por outra parte, se tratava de quantificar unicamente os riscos ambientais modificáveis, quer dizer, os que é possivel transformar rapidamente mediante políticas e tecnologias já disponíveis.

No informe também se determina em que medida se pode prevenir a carga de morbidade relacionada com o meio ambiente. Se houver uma ação determinada e se estabelecerem prioridades para a adoção de medidas encaminhadas a reduzir a incidência das doenças mais letais, poderão ser evitadas a cada ano milhões de mortes.

É fundamental colaborar com setores como os da energia, o transporte, a agricultura, e a indústria para abarcar as causas ambientais profundas.

Resumo

Veja no arquivo abaixo o resumo, em espanhol, do Informe da OMS.

DoençasXambiente

As doenças que representam a maior carga sanitária anual devida a fatores ambientais, expressada em termos de mortes, doenças e incapacidades ou anos de vida ajustados em função da incapacidade (AVAD)1 são as seguintes:

• A diarréia (58 milhões de AVAD por ano; 94% da carga de morbidade por doenças diarréicas), provocada em grande parte pela insalubridade da água e dos serviços de saneamento, e pela falta de higiene.

• As infecções das vias respiratórias inferiores (37 milhões de AVAD por ano; 41% dos casos registrados em nível mundial), produzidas em grande medida pela contaminação do ar em espaços tanto exteriores como interiores.

• Os traumatismos involuntários distintos dos causados pela trânsito (21 milhões de AVAD por ano; 44% dos casos registrados em nível mundial), incluída uma ampla variedade de acidentes industriais e no lugar de trabalho.

• A malária (19 milhões de AVAD por ano; 42% dos casos registrados em nível mundial), provocada em grande medida por deficiências no abastecimento de água, no ambiente doméstico e na ordenação do uso do solo, que impedem reduzir efetivamente as populações de vetores.

• Os traumatismos causados pelo trânsito (15 milhões de AVAD por ano; 40% dos casos registrados em âmbito mundial), em grande medida como resultado de deficiências na planificação urbana ou na ordenação ambiental dos sistemas de transporte.

• A pneumopatia obstrutiva crônica – doença em ligeiro aumento que se caracteriza pela perda gradual da função pulmonar (12 milhões de AVAD por ano; 42% dos casos registrados no mundo) -, provocada em grande medida pela exposição à poeira e fuligem no lugar de trabalho e outras formas de contaminação do ar em espaços exteriores e interiores.

• Afecções perinatais (11 milhões de AVAD por ano; 11% dos casos registrados mundialmente).

A maioria destas doenças devidas à exposição a riscos ambientais também são as principais causantes de mortes, ainda que apresentem algumas diferenças quanto ao grau de letalidade.

Todas as doenças que provocam o maior número absoluto de mortes por ano devido a riscos ambientais previníveis estão relacionadas com fatores que é possível modificar mediante tecnologias, políticas e medidas preventivas e de saúde pública já disponíveis.

AVAD

1AVAD = anos de vida ajustados em função da incapacidade: o número de anos que havia podido viver uma pessoa, perdidos por sua morte prematura, e os anos de vida produtiva perdidos por incapacidade.

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