Márcia Divina de Oliveira
Débora Fernandes Calheiros
Considerado o ouro azul do século XXI, a água doce, objeto de estudo da “Limnologia” (estudo da ecologia de águas continentais, como rios, riachos e lagoas), coloca o Pantanal em posição privilegiada.
Comparada a outras regiões do Brasil, onde a demanda por água potável cresce rapidamente e a oferta já se encontra escassa em qualidade e quantidade, o Pantanal apresenta uma riqueza em recursos hídricos ainda bem conservada.
O Pantanal tem um volume de água, durante a inundação, de aproximadamente 2 milhões de m³, considerada uma das maiores reservas de água doce do continente americano. Anualmente, a área de inundação pode variar de 11.000 a 140.000 km². Extensas áreas podem permanecer submersas por inundação, devido ao extravasamento dos rios ou alagamento devido às chuvas locais, por até oito meses.
A Bacia do Alto Paraguai (BAP) é formada por sub-bacias, cujos rios convergem para o rio Paraguai, seu principal canal de drenagem. Conservar as sub-bacias da BAP é fundamental para a manutenção das inundações anuais, ou pulso de inundação, e conseqüentemente os ciclos de cheia e seca. Estes ciclos anuais, e os plurianuais, determinam as características ecológicas do sistema, ora favorecendo as espécies animais e vegetais relacionadas à fase de seca (terrestres), ora as espécies aquáticas e, mantendo desta forma, alta biodiversidade e alta produtividade do ambiente (produtividade pesqueira, por exemplo).
Desde 1987, a Embrapa Pantanal vem estudando os rios da região visando ao entendimento desses complexos ecossistemas para auxiliar na elaboração de estratégias de manejo dos recursos hídricos e a manutenção da saúde ambiental do Pantanal.
Ao longo desses 16 anos, estudos limnológicos em rios como o Paraguai, Miranda e Taquari, e em suas áreas de inundação, possibilitaram conhecer as características das suas águas, as alterações naturais nesse padrão devido às cheias e secas e a relação com os organismos, principalmente os peixes, possibilitando detectar/distinguir as alterações provenientes de atividades humanas. A compreensão do fenômeno da “Dequada” (deterioração natural da qualidade da água devido à decomposição da matéria orgânica submersa durante a inundação), característico da região, também é importante, pois dependendo de sua magnitude pode provocar a morte de toneladas de peixes.
Outro projeto em desenvolvimento pela Embrapa Pantanal é o estudo de como se processa o fluxo de carbono (energia) entre os organismos aquáticos até chegar à comunidade de peixes. Esta pesquisa contribuirá para a compreensão da sustentação da produção pesqueira e da estrutura da cadeia alimentar nas áreas inundáveis do rio Paraguai.
A Embrapa Pantanal implantou em 2000 o projeto ecológico de longa duração (PELD) em parceria com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o qual abrange toda a BAP por um período de 10 anos. Neste, pretende-se aumentar a compreensão sobre o papel da planície em função das variações interanuais dos pulsos de inundação, conhecer a contribuição dos tributários quanto ao fluxo de nutrientes e sedimentos e monitorar os impactos decorrentes do uso do solo no planalto.
Para desenvolver suas pesquisas a Embrapa Pantanal conta com um laboratório de análise de água (pH, condutividade elétrica, oxigênio dissolvido e demanda bioquímica de oxigênio, alcalinidade, formas de nitrogênio e fósforo, íons, clorofila, sedimentos, turbidez, etc); além de uma infraestrutura de campo, composta por equipamentos modernos e barcos, que permite realizar coletas em diferentes pontos da Bacia do Alto Paraguai. Conta ainda com a colaboração de pesquisadores de outras instituições nacionais e internacionais.
Em parceria com a iniciativa privada, também realiza monitoramento da qualidade de água de pequenos córregos e do rio Paraguai, próximo a Corumbá, apoiando a gestão ambiental de empresas que atuam localmente e colaborando na conservação da qualidade dos recursos hídricos locais.
Autoras
Márcia Divina de Oliveira – mamarcia@cpap.embrapa.br e Débora Fernandes Calheiros – debora@cpap.embrapa.br, são pesquisadoras da Embrapa Pantanal na área de Limnologia.
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Limnologia fluvial
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O livro avalia a degradação da citada bacia por meio de estudos limnológicos, ecotoxicológicos e da comunidade bentônica.
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Conhecendo a Limnologia
Nélio Cunha Mello
A limnologia (limno=pântano, lago + logos=estudo) – é uma parte de hidrologia (ciência que estuda a água) que se ocupa em estudar os corpos de águas continentais ou interiores, isto é, a água encontrada fora do litoral, mais para o interior dos continentes, como os rios, os lagos (que são de água doce, pois não estão em contato com a água do mar, enquanto que as lagoas, por estarem sempre em contato com o mar, são salgadas ou salobras), as águas subterrâneas (aqüíferos ou lençóis freáticos), águas de cavernas, etc.
Como a maioria dos corpos d’água, formados fora do litoral, possui pouca salinidade, poderíamos dizer que a limnologia estuda a água doce, ao passo que a oceanologia estuda a água salgada.
O Papel da Limnologia na Sociedade Moderna
No mundo moderno, a água doce é um recurso estratégico. A ausência deste recurso ou a sua presença em quantidade ou qualidade inadequadas têm sido um dos principais fatores limitantes ao crescimento social e econômico de várias regiões do Brasil e do mundo. A demanda por água doce em todo o mundo tem aumentado de maneira exponencial. Paralelamente, a degradação de sua qualidade tem reduzido ainda mais sua disponibilidade.
Os ecossistemas aquáticos continentais tornam-se cada vez mais indispensáveis à vida moderna pois estão relacionados às mais variadas atividades humanas como a obtenção de alimento, de energia elétrica, o abastecimento doméstico e industrial, o lazer e a irrigação entre outras. O uso na irrigação se constitui hoje como um dos principais aspectos que contribuem para que a água seja hoje um recurso estratégico. Basta lembrar que 70% de toda a produção de alimento do mundo provém de apenas 17% das áreas cultiváveis.
A Limnologia é uma ciência de grande alcance social uma vez que fornece inúmeros subsídios para a conservação, o manejo e a recuperação dos ecossistemas aquáticos continentais. Desta forma, o limnólogo passa a ter um papel cada vez mais importante na sociedade moderna.
Nélio Cunha Mello nmello@unikey.com.br – É biólogo e limnólogo – especialista em água doce e associado à S.B.L. – Sociedade Brasileira de Limnologia.
Fonte: www.biologo.com.br/limnologia.html
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