
Parkhurst: “Brasil precisa avançar no tratamento dos esgotos domésticos”.
Hoje o problema mais agudo na área ambiental nos Estados Unidos é a invasão de espécies exóticas cujo controle é muito difícil, segundo Benjamin Parkhurst, presidente da Aquatic Ecological Services, especialista em análise de riscos e que palestrou do V Seminário Internacional de Qualidade Ambiental, realizado em Porto Alegre (RS), sobre o tema Análise de Risco Ambiental. Em entrevista à Aguaonline ele citou principalmente os Grandes Lagos, entre eles o Lago Eire, cuja invasão por espécies, como o mexilhão zebra (zebra mussel), alterou completamente o ecossistema.
“As algas praticamente desapareceram e as águas embora pareçam límpidas estão infestadas por estas espécies exóticas” diz. Como a pesca em água doce é um esporte muito difundido nos Estados Unidos os próprios equipamentos dos pescadores servem como veículo para o transporte de espécies de um lugar para outro.
A grande preocupação, esclarece Parkhurst, é a alteração do habitat, o que atinge as espécies nativas. Este problema afeta vários países, tanto que foi criada a Iniciativa das Dez Nações do Programa Global sobre Espécies Exóticas Invasoras, ao qual o Brasil acaba de aderir. Segundo o Ministério do Meio Ambiente “o objetivo é controlar e prevenir a invasão de espécies exóticas nos biomas. Para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), espécie exótica é aquela que está fora da sua área de distribuição natural. Ela ameaça ecossistemas, habitats e espécies nativas. Estudos revelam que as espécies exóticas invasoras são a segunda maior causa de perda de biodiversidade do planeta, ocasionando aos países problemas não só ambientais, mas econômicos e sociais”.
Um caso típico de espécie exótica invasora é do mexilhão dourado. O pequeno molusco que se fixa em qualquer substrato duro é oriundo da China. Chegou à América do Sul nas águas de lastro de navios mercantes. Invadiu a bacia Paraná- Paraguai e avança sobre as usinas hidrelétricas brasileiras, em função da ausência de predadores que controlem a sua população. Já foi encontrado na foz do rio da Prata e está presente até no Pantanal. Em 2005, as espécies exóticas invasoras foram tema de um primeiro simpósio brasileiro que reuniu especialistas de todas as regiões do país, além de estrangeiros vindos da África do Sul, Jamaica, Argentina, Nova Zelândia, Portugal e Estados Unidos.
Em sua palestra o especialista norte-americano disse que as análises de risco de empreendimentos, sejam uma indústria química ou uma estação de tratamento de esgoto, devem ser feitas em função da avaliação da probabilidade do dano. Ou seja: dependendo das características do entorno do empreendimento e dos mananciais determinados parâmetros são mais importantes do que outros. Exemplificando: embora a presença de metais pesados sempre represente perigo fatores como o excesso de nutrientes podem ser mais danosos ao ecossistema exatamente pela maior probabilidade de ocorrência. Aos tomadores de decisão caberá, então, com base nas amostragens e simulações, fazer a análise do custo/benefício ao longo do tempo.
Na avaliação que fez sobre o Brasil Parkhurst disse que o país avançou muito na questão do controle da poluição industrial mas precisa acelerar os investimentos em coleta e tratamento de esgoto. “Este é um problema cuja solução não pode mais ser adiada”, comentou. Ele disse que os Estados Unidos deram um salto qualitativo espetacular na questão da qualidade dos mananciais a partir de 1970 quando foi editado o Ato pela Água Limpa (Clean Water Act) que determinou padrões rigorosos para o lançamento de efluentes em corpos d’água e que promoveu um avanço na coleta e tratamento de esgotos.
Certificação para o saneamento
Outra especialista presente ao encontro foi a engenheira química Ellen Martha Pristch, uma das organizadoras do Simpósio Internacional sobre a certificação ISSO 24.000 para a área de saneamento.
Ellen informa que essa nova certificação trabalha com três áreas: água, esgoto e atendimento ao público. Para o evento de Gramado, em julho, serão apresentadas pela primeira vez à área de saneamento as propostas de regras que já deverão vigorar em breve para a Europa. “A idéia é formar grupos para oferecer sugestões para uma adaptação das regras ao estágio de desenvolvimento do continente latino-americano” diz. A etapa final de discussão será no Congresso da Aidis, em novembro, em Punta del Este.
Um item que certamente vai despertar polêmica é o da existência dos reservatórios domiciliares (caixas d’água), algo inconcebível para os padrões europeus. “Vai ser preciso ver como controlar estes reservatórios pois eles estão diretamente relacionados com a qualidade da água oferecida nas residências”, explica Ellen que integra o Comitê de Qualidade da ABES.
Um outro tema que vai estar em debate no simpósio é a questão da certificação dos produtos utilizados no tratamento da água cuja norma brasileira está em fase final de minuta.

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