Na preservação ambiental também tem a síndrome da segunda-feira

Luiz Eduardo Cheida

Quase todos os dias, alguém me pergunta se eu acho que a consciência das pessoas, em relação à ecologia, hoje é maior que antigamente.

A resposta é sempre afirmativa. Indiscutivelmente, as pessoas apresentam conhecimentos e compromissos crescentes frente às questões ambientais.

Há 30 anos, era penoso fazer alguém entender que, do ponto de vista da estratégia da sobrevivência da vida sobre a Terra, um mosquito é tão importante quanto uma pessoa. Hoje, embora isso ainda não seja fácil, confesso que não é tão custoso quanto antes.

Como tudo, na medida em que uma questão se torna problema, mais gente dedica-se a entendê-la. O interesse cresce e, com ele, conhecimentos e compromissos. E, positivamente, a questão ambiental é um problema.

É um problema para o mercado, que só vê a natureza como mercadoria.

É um problema para a saúde, quando até fetos sofrem com a poluição (segundo a USP, em dias mais poluídos ocorrem mais mortes fetais tardias).

É um problema para a administração pública já que, em nosso país, 60% dos gastos hospitalares são por doenças causadas pela água não-potável.

É um problema para a economia popular, pois o temor do acesso à água de má qualidade eleva tanto seu preço que, em não poucos lugares, um litro dela custa mais que um litro de gasolina.

Claro, a questão ambiental tem sido problema para os seres humanos. Para o restante da natureza, ela sempre foi solução. Porém, nada disso empana o brilho da pergunta: a consciência das pessoas, em relação à ecologia, hoje é maior que antigamente? A resposta continua sendo sim.

Já sabemos o suficiente. Já sabemos, mas não começamos a fazer.

A consciência, em relação à ecologia, é grande, mas a inércia parece maior.

Sabe aquele gordo, que tem consciência que está gordo? Aquele mesmo, que sabe que, se emagrecer, as coisas vão melhorar? Que promete a si mesmo que, segunda-feira, começa o regime? Pois é, estamos meio assim: com a síndrome da segunda-feira.

Temos consciência que devemos agir, mas estamos com preguiça de dar o primeiro passo. Às vezes, preguiça; às vezes, descrença. Descrença de que, caso caminhemos, outros não nos seguirão. Seremos nós, sozinhos, reciclando penosamente, enquanto os outros não reciclam; nós, sozinhos, indo de bicicleta, enquanto os outros vão nos seus automóveis; nós, sozinhos, poupando a água, enquanto o vizinho canta no chuveiro… e outras coisas que nos torcem de raiva, quando as fazemos solitariamente.

Mas, que importa se outros nos sigam ou não? Você não quer deixar de ser gordo? Ou melhor, você não quer que o ambiente melhore? Então, faça logo sua parte!

O que não pode é ficar como um amigo que eu tinha, lá na cidadezinha onde nasci. Tão pequenininha, que só tinha uma rua (e, ainda era contra-mão). Ele dizia, abrindo bem os olhos, franzindo a testa e espremendo a boca: não deixe para amanhã o que você pode fazer depois-de-amanhã!

Conselhos assim, são de anteontem. Não servem mais. Comece! Eu vou junto com você.

Quem chegará primeiro?

Naturalmente, a velocidade com que as pessoas comprometem-se com um ambiente saudável e equilibrado, não é a mesma com que a tecnologia aprimora a motosserra. Até há alguns anos, um lenhador podia levar um dia inteiro para derrubar uma peroba, com seu machado. Hoje, ele faz isso sem esforço, em segundos, com sua serra elétrica.

A consciência avançou, mas a tecnologia da depredação também correu.

Quem chegará primeiro?

Esta é a nova pergunta. A luta pela preservação será ganha ou perdida por nós mesmos. O restante da criação não vai interferir.

Creio que a maioria de nós já possui conhecimentos suficientes que nos façam tomar posições acerca das questões ambientais. Sejam elas grandes ou pequenas.

Como questões do dia-a-dia: reciclar o próprio lixo, produzir a própria verdura, poupar a própria água e outros chatos mandamentos com as quais os chatos dos ecologistas vivem nos chateando.

Autor

Luis Eduardo Cheida é ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente do Paraná.

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